#16

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Eram 11:30 da manhã quando recebi uma ligação do meu pai, ele raramente me ligava, ainda mais quando estava no trabalho.

- Oi Pai? - Eu disse
- Filha, está ocupada hoje? - perguntou ele. Eu uni as sobrancelhas.
- Hmm, na verdade estou atoa em casa. Mas por que? - eu disse.
- Ah, ótimo! Pensei em te chamar para almoçarmos juntos hoje. - Ele disse, eu uni as sobrancelhas tentando me lembrar se era alguma data especial.
- Almoçar? - Questionei.
- Sim, parei para pensar que em alguns dias não terei mais minha filhinha em casa, acho que seria bom passarmos esse tempo juntos. - Ele disse. Eu sorri do outro lado da linha, ele estava sendo bem legal por se importar com isso.
- Certo, onde vamos? - Eu disse.
- Te espero no Le Vie Bistrô em uns... 40 minutos? - Ele disse.
- Ok! - Eu respondi antes de encerrarmos a ligação.

Abri o calendário do meu celular e fiquei meio assustada em perceber que faltavam apenas 5 dias para o casamento. Eu temia o que viria pela frente e não sabia como suportaria Liam, mas teria que encontrar um jeito. Eu me levantei da cama e fui até meu closet para me trocar. O tempo estava fechado e um vento frio circulava então vesti uma calça de alfaiataria bege e uma blusa social branca. Calcei uma sandália branca e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Peguei minha bolsa e desci as escadas, fui até a cozinha e avisei Tia Solange que não almoçaria em casa e saí para a garagem.

Dirigi até o restaurante informado pelo meu pai, estava empolgada, fazia tempo que não comíamos fora juntos. O restaurante não ficava muito longe do Hotel principal, onde no último andar ficava todo o setor administrativo da empresa de meu pai, poucos minutos depois que me entrei e escolhi uma mesa eu o avistei entrando, vestia seu habitual terno preto. Ele sorriu para mim terminando uma ligação.
- Desculpe a demora. - Ele disse se sentando.
- Ah, eu acabei de chegar. - Eu disse. O garçom veio perguntar nossos pedidos e depois saiu.
- Como está se sentindo? sobre... o casamento? - perguntou meu pai olhando para mim. Eu respirei fundo.
- Você já sabe como eu me sinto... Mas não precisamos falar sobre isso. - Eu disse, apoiando o rosto em uma das mãos.
- Desculpe eu só fico meio preocupado. - Ele disse. Eu uni as sobrancelhas.
- Preocupado? - Eu disse ironicamente.
- Filha, eu... não queria que você precisasse fazer isso. - Disse ele.
- Eu sei, eu sei... - Eu disse em tom entediado.
- Espero que pelo menos aproveite Paris, você sempre amou aquela cidade! - Ele disse.
- É... já faz uns anos que não vamos para lá. - Eu disse. Nossos almoços chegaram e eu pensava se meu iria ficar o tempo todo me lembrando o que eu tentava esquecer. Começamos a comer enquanto eu inevitavelmente pensava como mesmo que meu pai passasse tão pouco tempo em casa, como seria estranho não morar mais na mesma casa que ele, onde eu morei por toda a minha vida.
- Sabia que Liam só aceitou tudo isso por que deseja ser CEO do Shopping? Ele vai começar com um cargo de diretor de operações assim que vocês se casarem... - Disse meu pai em tom baixo, quase como se fosse um segredo. Eu mastigava meu Risotto enquanto ouvia.
- Imaginei que teria algo grande envolvido para ele aceitar... - Eu disse, agora conseguindo entender os motivos dele.
- Está vendo? Enquanto alguns precisam cumprir alguns requisitos para assumir o cargo de CEO na empresa da própria família, a sua cadeira está lá, te esperando a qualquer momento... - disse meu pai despretensiosamente. Eu olhei para ele serrando os olhos, ele me olhava com um sorriso suspeito. Estava começando a achar que aquele inofensivo "almoço entre pai e filha" tinham outras intenções ocultas.
- Isto não é nepotismo? - eu disse e bebi um pouco da sprite em meu copo.
- Hellena, o que eu quero dizer é que bom... você acabou de sé formar, vai se casar, ainda não tem um emprego, todos já esperam que você se junte a empresa que também é sua por herança. - Ele disse.
- Continua sendo nepotismo. - Eu disse. Meu pai me lançou um olhar incrédulo enquanto comia.
- Você pode começar com um cargo mais baixo, como Liam. - Continuou ele.
- Ok, já entendi. Você me chamou aqui para mais uma vez tentar me convencer a assumir um cargo na empresa? - Eu disse revirando os olhos. Como eu tinha sido tão inocente em acreditar que seria apenas um almoço? Afinal era meu pai... Ele só pensava em trabalho. Meu pai limpou a garganta.
- Não é isso filha. Mas pense em como seria bom que você começasse a aprender a gerenciar os negócios... - Ele continuou. Eu limpei minha boca com um guardanapo terminando de comer.
- Papai... desista de tentar me convencer, não vai rolar! Além do mais, eu já tenho planos! Depois que eu voltar de Paris vou procurar uma sala de consultório a venda e vou começar a atender, também pretendo começar uma pós-graduação... - Eu disse. A expressão dele declarou que ele se deu por vencido, pelo menos por enquanto.
- Ok, ok... fico feliz que está fazendo planos. - Ele disse. Nós continuamos conversando, terminamos de comer e pedidos Petit Gateau de sobremesa.

- Obrigada pelo almoço Pai. - Eu disse na porta do restaurante.
- Ah filha, vou sentir sua falta. - Ele disse e então me abraçou brevemente. - Agora já vou pois tenho uma reunião daqui a pouco. - Ele disse, eu me despedi e o vi ir na direção do Hotel. Meu carro estava estacionado do outro lado então fui para a direção contrária. Tentei acelerar o passo pois começava a cair uma fina chuva, mas me deparei com um Pet Shop no caminho e vi uma gaiola cheia de coelhinhos pela vitrine e não resisti a ir até eles.
- Aww! Vocês são tão fofinhos. - Eu dizia tocando o vidro. Observava os filhotes de coelhos branquinhos saltitando pela gaiola. Eu estava quase me convencendo de que eu precisava comprar um coelho quando me assustei.
- Hellena? - eu ouvi uma voz dizendo ai sair do Pet Shop. Me levantei assustada e vi Anthony ali parado.
- Anthony? Oi! O que está fazendo aqui? - Eu disse franzindo a testa. Ele estava usando calça jeans clara, uma blusa polo preta e carregava um tipo de bolsa nas mãos.
- Eu? Eu estou fazendo um estágio aqui. Mas o que "Você" está fazendo aqui? - Ele questionou. Sua expressão era de surpresa mas ele parecia feliz em me ver.
- Eu? Estou vendo os coelhinhos. Não é óbvio? - Eu disse sorrindo. Ele sorriu de volta. - Eu estava almoçando com meu pai no restaurante aqui ao lado e parei para ver essas fofuras. - completei. O rosto dele se iluminou com o esclarecimento.
- Ahh, entendi. Que bela coincidência. - Ele disse.
- Sim! Eu não sabia que estava estagiando aqui. - Eu disse, olhando para a loja a nossa frente.
- É... comecei fazem só 3 dias. Eu teria te contado se a gente estivesse... se falando mais... - Ele disse. Eu imediatamente me lembrei que não tínhamos nos falado mais, mesmo depois de ele me deixar aqueles presentes... Me senti horrível por não ter nem mesmo mandado uma mensagem.
- É... desculpa... eu tenho sido uma péssima amiga. - Eu disse enfatizando a palavra "amiga" para que nada ficasse estranho entre nós. Ele pareceu entender o que eu quis dizer.
- Tudo bem... não se preocupe... Mas então, pra onde está indo? - Ele perguntou. Eu me senti aliviada com a compreensão dele, mesmo que não parecesse verdadeira.
- Pro meu carro, está estacionado mais pra frente! Estou indo para casa, e você? -
- Também estou... mas vamos, eu te acompanho até seu carro. - Ele disse. Eu tentava não admirar o senso de cavalheirismo dele. Não era bom que eu pensasse muito nisso.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now