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{ LIAM POINT OF VIEW }

Hellena me ignorou e subiu para seu quarto em silêncio, eu me sentei no sofá e coloquei a cabeça sobre as mãos. Automaticamente comecei a me arrepender de todas as provocações que tenho feiro com ela. O fato é que ela se irritava facilmente e por mais que isso fosse engraçado, eu sabia que ela guardava um rancor real de mim e não deveria ter a irritado mais. Eu via aquela situação como apenas uma briga de gato e rato, não imaginava que ela poderia ir tão longe para me afetar. Talvez se eu tivesse ficado quieto, eu não teria perdido a única coisa que me importava.
E o pior de tudo foi me lembrar da conversa com meu pai, ele disse que eu ainda precisava demonstrar mais mudanças e maturidade para assumir um cargo algo na empresa... e ainda me ofereceu um cargo de estagiário como prêmio de consolação! Estagiário? parecia brincadeira. Eu jamais aceitaria perder o que eu queria para Hellena. Depois do casamento, meus cartões já foram liberados, mas não era mais só sobre dinheiro. Eu tinha planos, metas e perspectivas para alcançar, e tudo começava com o cargo de Diretor de Operações, depois CEO e ganhando experiência com a posição eu poderia abrir meu próprio negócio e mostrar para o meu pai que eu tinha capacidade de erguer algo grande como ele, eu sabia que quando ele se fosse eu herdaria o Imperius Shopping de qualquer forma, mas como eu disse, não era só sobre dinheiro ou poder, era algo que me dava propósito... e Hellena estava tirando isso de mim, estragando meus planos bem diante de meus olhos. Diferente de quando ela gravou aquele video com Kevin, desta vez a culpa era somente dela e minha raiva estava direcionada completamente a ela. Jamais pensava que ela seria capaz de ir tão longe. Então eu percebi que tinha cometido um erro, eu subestimei ela.

Eu precisava fazer alguma coisa, precisava fazer ela desistir do cargo. Eu já sabia que pedir desculpas não ajudaria, pois pedir desculpas não concertava nada. Então eu jogaria o jogo dela, faria algo pior com ela e a faria desistir do cargo e me deixar em paz. Eu poderia descobrir algo que também era importante para ela e usar isso para fazer um tipo de "troca" justa. Eu admito que senti receio de fazer algo ruim contra ela novamente, por que ela tem provado que sua raiva de mim torna ela capaz de fazer qualquer coisa para me ferrar. Eu não pensava que este casamento seria tão difícil mas nossos primeiros dias nesta casa já mostram que não será nada fácil. Afinal quando se tratava de Hellena, nada era fácil, ela tem feito da minha vida um verdadeiro inferno. O que eu poderia tirar dela para fazer ela desistir do cargo?

Eu sai de casa, sem saber direito onde ir, mas sentia que precisava respirar longe dali. Entrei no meu carro ainda pensando sobre tudo aquilo, precisava de um plano, mas me dei conta de que não sabia quase nada sobre ela, pois não tinha me me importado em saber. Entrei no meu carro e peguei meu celular, tentei usar o método universal para descobrir coisas: pesquisando o nome dela no google. Não encontrei muito sobre ela, parece que ela faz o possível para evitar a mídia, as últimas notícias eram todas sobre o casamento. Mas descobri que Hellena é descrita como uma "jovem filantropa" e ela até lidera algumas Ongs, isso deve ser importante pra ela. Procurei mais sobre as causas que ela apoia, e dentre elas eu vi que havia um Orfanato. Observei uma matéria falando sobre ela ter doado brinquedos de presentes de Natal alguns anos atrás para este orfanato, algumas fotos ilustravam a matéria. Não é difícil fechar um lugar quando se tem dinheiro, eu poderia usar isso contra ela, eu só precisava dos contatos certos e colocar dinheiro nas mãos certas. Hellena não iria permitir que aqueles pirralhos que ela parecia se importar tanto ficarem desabrigados, eu tinha encontrado a coisa certa. Eu faria o que fosse necessário para conseguir o meu cargo de volta.

Liguei o carro e dirigi até a Academia de Box, tudo o que eu precisava era socar alguma coisa para colocar aquela raiva para fora e distrair minha cabeça.

 

{ HELLENA POINT OF VIEW }

Era uma segunda-feira pela manhã, eu acordei e me levantei rapidamente, estava empolgada pois era dia de visitar o orfanato e eu estava com muita saudade daquelas crianças, ainda não havia os visto desde que tinha retornado de Paris.
Fui até o meu banheiro e tomei banho, fiz minha higiene matinal e sequei meu cabelo, vesti uma calça de alfaiataria preta e uma blusa de mangas bufantes azul claro, calcei uma sandália meia pata preta e desci. Fui até a cozinha e me alegrei em não ver Liam por ali, estava fazendo o possível para evitar esbarrar com ele pela casa. Preparei torradas e comi acompanhado de um copo de suco de laranja integral.

Dirigi até o orfanato e assim que entrei na instituição uma freira chamada Dulce veio me receber de braços abertos com um grande sorriso.
— Hellena! Querida! Você voltou! — Ela disse me abraçando.
- Como é bom vê-la, irmã Duce! - eu disse sorrindo.
— Venha, venha as crianças estão no pátio e tem perguntado muito de você! - Ela dizia.

Caminhamos até o pátio do orfanato, as crianças estavam quase todas lá, brincando. Eu percebia como mesmo que só por algumas semanas, eu havia sentido muito falta deles.
— Crianças! Olhem só quem voltou! — disse Irmã Dulce, fazendo todos olharam para nós. E assim que me viram correram em minha direção, me recebendo com muitos sorrisos e abraços.
— Tia Lena! Tia Lena! — Diziam, quase em uníssono. Eu me abaixei e tentava abraçar todos. Eles me perguntavam onde eu tinha ido, perguntaram se era verdade que eu tinha me casado e se eu ficaria longe por muito tempo de novo. Algumas semanas pareciam para eles longos meses, todo aquele carinho aquecia o meu coração de uma forma que nada se comparava. Eu me sentei no chão para conversar e brincar com eles, enquanto eu olhava para os olhinhos brilhantes daqueles pequenos humaninhos tão cheios de amor para dar, eu conseguia sentir dentro de mim uma grande certeza de que havia mesmo feito a coisa certa ao me casar por contrato e salvar a empresa. Eu não conseguia imaginar a dor de voltar aqui e ver as crianças voltando a não ter direito o que comer, as dificuldades para pagarem as contas da instituição, fora os profissionais que eu contratei para elas terem um desenvolvimento melhor, como psicopedagogos, nutricionistas, pediatras... que faziam visitas constantes para garantir que elas ficassem bem, felizes e saudáveis. E ver como mesmo sem terem noção das coisas financeiras que eu contribuo por elas, ainda sim elas me tratam com todo esse carinho por simplesmente gostaram da minha presença, era algo impagável. Aquelas crianças tinham o meu coração de uma forma que ninguém mais tinha, sem ter noção disso, não era eu quem as ajudava, era elas quem me ajudavam e me curavam por dentro.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now