•Merlot•

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11 de junho (1 dia antes) - 9:12h

Buenos Aires - Argentina;

Acordei aos poucos e com muita preguiça. A viagem e o estresse de ontem(e a bebida em excesso) fizeram sua parte no meu corpo e eu me sentia moído.

- Mah. - chamei entre os lençóis.

Sem resposta.

- Marcelo?

Nada.

Droga! Será que ele já havia ido pra empresa? Eu nem escutei ele saindo do quarto.

Praguejei em silêncio. Tinha decidido seguir ele durante o dia. Não era pra ter dormido tanto.

O ar estava gelado. Não imaginava que ia estar tão frio aqui na Argentina. Quando descemos do avião na noite passada meu moleton leve não era o suficiente e tinha começado a tremer instantâneamente. Marcelo, como ótimo namorado que era havia me abraçado de lado pra amenizar o frio. Tive que fingir estar a vontade o resto do caminho até o hotel nos braços do traíra.

Me enrolei no edredom e fui até a sacada. O lugar era realmente bonito, casas em estilos coloniais, palacetes e ruas que me lembravam os filmes que tinha visto sobre Londres. Me peguei tentando achar meu namorado no meio das formiguinhas que eram as pessoas andando pelas calçadas. Tarefa inútil.

Ao ir em direção ao banheiro vi um bilhete em cima do frigobar.

"Amor, saí voando para o serviço, cheio de coisas pra fazer. Tem alguns pesos pra ti na escrivaninha. Aproveita a cidade e nos vemos de noite! :) Chego por volta das 19h.

Ps - Talvez nem consiga falar contigo por mensagem por que vou ficar enfurnado no escritório com o gerente de marketing. Nem almoçar vou poder... :(


Hum...

Só por desencargo eu abri o whats. Sem mensagens dele. Porém mostrava que ele havia ficado online há alguns minutos atrás. Mandei um "Bom Dia" e fiquei alguns minutos esperando por resposta.

Nada.

Após um banho demorado e pelando eu vesti uma calça grossa e uma jaqueta estofada. Já havia perdido o horário do café da manhã, iria dar uma volta por aí e comer qualquer coisa.

Antes de sair abri o frigobar e esvaziei uma daquelas garrafinhas de 250 ml de vinho. Obviamente não era tinto suave e a bebida desceu amarga, com direito a careta. Ao menos ia me ajudar com o frio.

Não pude aproveitar o resto da minha manhã. Não conseguia curtir a cidade, o frio ou os pontos turísticos. Minha cabeça voltava ao Marcelo constantemente e a cada 10 minutos eu procurava algum lugar com wi fi e olhava no celular pra ver se ele tinha respondido ao meu "bom dia". Sem sucesso.

Ajoelhei nos bancos da igreja que o atual papa Francisco pregava e fiz uma oração silenciosa pra tirar essa dúvida e esse sentimento que me corroía por dentro. Também sem sucesso.

Pouco depois do meio dia veio a surpresa. Marcelo havia visualizado minha mensagem. Aliás ele estava online nesse momento! Meu coração batia forte enquanto eu aguardava alguma resposta. Por quase 2 minutos não desgrudei os olhos do aparelho e o frio na barriga só aumentou a ver que ele tinha saído do whats sem ao menos me mandar um joinha.

Eu sei que parecia algo bobo, mas eu conhecia o homem que eu tinha. Mesmo no trabalho ele sempre separava um tempinho pra me chamar ou me mandar alguma mensagem. Ele me deixara numa cidade nova, sozinho, vira minha minha mensagem e não se preocuparam em me mandar um "Oi".

Não aguentei e mandei um "?".
Ele nem recebeu a mensagem. Havia desligado o celular.

Eu tinha que começar a agir. Procurei o endereço da empresa do Marcelo na internet e pedi um Uber pra lá. A bela cidade passava pela janela do carro enquanto eu planejava meus passos. Seria muito simples e fácil de engolir. Iria lhe fazer uma surpresa, chamar ele pra almoçar... sei lá.

TINTO SUAVE - Especial Dia dos Namorados -Where stories live. Discover now