#33

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Estava terminando de arrumar a minha gravata em frente ao espelho no closet de meu quarto, me lembrei que a última vez que usei um terno foi no casamento, e estava tendo que usar novamente graças a aquele baile, me olhava no espelho gostando do que via. Certamente ternos me caiam bem.

Desci as escadas e esperei por Hellena encostado sob a bancada da cozinha. Ouvi a porta de se quarto abrir e ela surgiu no topo das escadas, descia vestida de um longe vestido azul marinho de um tecido que parecia seda e modelava perfeitamente o seu corpo. O seu longo cabelo estava preso em um tipo de coque que deixava seus ombros a mostra. Ela era bonita sem maquiagem mas naquele dia usava um batom vermelho que chamava atenção em sua pele clara.
Ela passou por mim deixando um rastro de seu perfume doce e revelando que o vestido deixava grande parte das suas costas à mostra, eu nunca à havia visto expor tanto sua pele. Eu ainda estava parado olhando para ela quando ela chegou até a porta e parou me lançando um olhar irritado.

— Vem logo Liam. Por que ainda está parado aí? — Ela disse impaciente.

Eu respirei fundo e saí pela porta indo até a garagem. Entramos em meu carro e eu tentei manter meus olhos na estrada. Dizia a mim mesmo mentalmente que era só uma garota bonita, era normal que eu sentisse atração, ainda mais depois de tanto tempo sem ficar com ninguém, isso deveria estar mexendo com a minha mente.

Ao chegarmos no baile, eu ofereci meu braço para ela, ela segurou suavemente e entramos no local, o salão se parecia muito com um antigo castelo, havia um grande espaço de dança no centro, e algumas mesas ao redor, estava tudo decorado com dourado, como todos os anos. Haviam muitas pessoas ali, alguns casais dançavam, outros se cumprimentavam e conversavam ao redor. Caminhamos pelas mesas e encontramos uma reservada com nossos nomes, nos sentamos e um garçom veio nos servir champanhe, eu peguei uma taça mas Hellena puxou a taça na direção dela com um olhar de reprovação.
— Não mesmo! Você está dirigindo. — ela disse.
— E eu vou ter que aguentar essa festa entediante, sóbrio? — questionei. Algumas taças de champanhe não iam me embriagar a ponto de eu não conseguir dirigir, mas Hellena como sempre, era toda certinha.
— Você vai sobreviver! — ela disse, me dando dois tapinhas nas costas e para completar, começou a beber da taça de champanhe.

Já estávamos sentados faziam alguns minutos quando meus pais apareceram, minha mãe estava com um sorriso enorme, e nos cumprimentou com empolgação.
— Oi mãe. Pai. — Eu disse, sem olhar muito para meu pai, eu ainda estava com um pouco de raiva dele por ter entregado o cargo tão facilmente para Hellena. Mesmo que a raiva de Hellena já tivesse passado.
— Olá Sr. e Sra. Suller — Disse Hellena com um sorriso simpático. Pensei em como eu gostaria que ela sorrisse daquela forma para mim, ao invés de sempre ser alvo de sua raiva e expressões forçadas de nojo.
— Vocês estão lindos! Aproveitem o Baile! — Disse minha mãe, antes de sair segurando o braço de meu pai e indo falar com outras pessoas.

— Sua mãe parece animada. — disse Hellena bebericando seu champanhe.
— Ela sempre fica animada com este baile. —
Após nossa breve troca de frases o silêncio reinou entre nós novamente. Não tínhamos muito o que conversar e como todas as vezes, aquele baile estava extremamente entediante. Eu olhava para o relógio e aquela tortura ainda estava longe de terminar. Pensava no que eu poderia fazer para que o tempo passasse mais rápido. Eu olhei para as pessoas dançando a música clássica que ecoava, no centro do salão, então olhei para Hellen e pensei: por que não?
Me levantei e estendi a mão para ela, que me olhou com um olhar de incompreensão.

— Vem, vamos dançar. — Eu disse, ela franziu a testa rejeitando a ideia.
— De jeito nenhum! — Ela disse.
— Por que não? não tem nada melhor pra fazer aqui e ainda temos muito tempo para mostrar que somos um casal de recém casados feliz e apaixonado. — Eu disse. Ela olhou para mim e pareceu reconsiderar, então revirou os olhos e bufou.
— Ok, vamos. — Ela disse me dando a mão. Guiei ela para o centro do salão e me posicionei em frente a ela. Coloquei as mãos nas costas dela e pelo vestido dela ser aberto atrás, eu sentia a sua pele macia e quente contra minha mão.
O salto agulha que ela usava aumentava alguns centímetros da altura dela, fazendo o rosto dela ficar um pouco mais próximo do meu, notei que isso pareceu deixar ela incomodada pois evitava olhar para mim.
Balançamos suavemente conforme a música sem dizer nada, reparei que ela parecia estar desconfortável, com uma cara meio estranha.
— Tem algo errado? — perguntei.
— Além de você? Não. Nada. — Ela disse, sem nem olhar para mim.
— O que tem de errado em mim? — perguntei.
— Essa sua atuação ridícula. —
Eu ri, ainda sem acreditar que ela continuava com aquela idéia.
— Ainda acha que eu to fingindo? —
— Eu tenho certeza. —
— Como você pode ter certeza se nem ao menos tentou acreditar? — Eu disse, ela olhou para mim e e eu pude olhar em seus olhos.
- Por que eu tentaria? Você acha que merece um voto de confiança depois de tudo o que aconteceu? - Ela disse com sinceridade. Eu calculei bem as minhas palavras. A forma que estávamos conversando com os corpos tão próximos por conta da dança fazia parecer que nunca tínhamos tido uma conversa tão íntima como aquela na vida e eu precisava aproveitar aquele momento.
- Hellena, eu sinto muito por você ter sido vítima das idiotices que eu fazia na escola. Você estava certa quando disse que eu não me importava com ninguém além de mim mesmo, eu nunca medi as consequências mas eu sinto muito, de verdade. - Eu disse tentando parecer o mais sincero possível, eu não sabia o que havia mudado dentro de mim mas desde aquele dia no orfanato tudo o que eu sentia era culpa e me desculpar era tudo o que eu podia fazer, aquele parecia o momento perfeito para isso. Ela pareceu se surpreender mas eu ainda via dúvida em seus olhos. Ela ficou em silêncio pelo o que pareceu um longe tempo.
- É a primeira vez que ouço você se desculpar. - ela disse.
- Acho que é a primeira vez que me ouço me desculpar também. - Eu disse. Um estranho clima pairava entre nós e ela parecia constrangida então limpei a garganta e tentei usar meu senso de humor para quebrar aquele clima: - Você deveria se sentir honrada por isso. - Eu disse sorrindo. Ela revirou os olhos.
- Mesmo se desculpando, continua arrogante? - Ela disse em tom de ironia. Eu ri.
- Me acha arrogante? -
- Muito, você se acha bem mais do que devia. - Disse ela em um tom astuto, ainda evitava me olhar nos olhos.
- Então você está dizendo que eu não sou tão bom assim? - Eu disse forçando um tom de indignação.
- Não. Na verdade eu nem entendo o que as mulheres veem em você. - Ela disse. Eu tentava decifrar se ela dizia a verdade, mas a forma que ela parecia tão confiante do que dizia me instigava a provoca-la para ver suas reações.
- Então você não se afeta nenhum pouco com tudo isso? - Brinquei. Ela riu como se eu tivesse dito uma piada, mas eu gostei de ver ela sorrindo.
- Nenhum pouco. Como eu disse, você nem é tudo isso. - Falou. Eu ri pronto para ultrapassar uns níveis mesmo sabendo que corria risco de deixa-la irritada.
— Todas as pessoas ao nosso redor acreditam que somos casados, certo? — perguntei.
Ela franziu a testa, estranhando a pergunta.
— Sim, por que? —
— Se eu te beijasse agora, você não poderia fazer nada que estragasse nossa imagem. — Eu disse, e ela corou imediatamente, eu ri com sua reação.
— Não faça isso! — Ela disse pausadamente.
- Por que não? Não é como se nunca tivéssemos feito isso antes. - Eu disse, me lembrando do beijo do casamento, o beijo foi rápido mas eu ainda me lembrava do seu sabor doce. Ela engoliu seco.
- Aquilo foi diferente. Foi profissional, praticamente um beijo técnico. - Ela disse. Eu ri com sua explicação.
- Não pareceu técnico. - Continuei. Como eu imaginava ela olhou para mim cheia de irritação.
- Liam! Está sendo inconveniente, pare. - Disse.
- Tudo bem, você venceu, não vou te beijar hoje. -  Eu disse em tom de ironia. Mas ela não pareceu ter gostado da brincadeira, pois de repente la pareceu estar passando mal.
— O que foi? Parece que está prestes a vomitar vomitar. — eu questionei analisando o rosto dela.
— E estou mesmo, por considerar beijar você. — disse.
— Então você considerou? — perguntei sorrindo.
— Você acha engraçado me deixar desconfortável e irritada? — ela perguntou olhando para mim. Eu aproveitei para olhar em seus olhos, por mais que seus lábios tingidos de vermelho estivessem muito chamativos.
— Admito que me divirto um pouco. — eu disse, sem quebrar o contato visual. Ela pareceu ainda mais irritada.
- Então você se desculpa pelo passado mas continua sendo o mesmo cara que faz as pessoas se sentirem desconfortáveis pelo próprio divertimento? Uau. - Disse ela com ironia. Ela tinha um bom ponto. Eu queria explicar para ela que não era a mesma coisa, que na verdade era bonitinha a forma que ela se irritava. Mas não sabia como dizer isso.
- Sinto muito, eu só estou brincando. - Eu disse, mas essa frase pareceu deixar ela ainda mais chateada. Ela quebrou o contato visual e se soltou de mim.
— Preciso ir tomar um pouco de ar. —  Ela disse, e então saiu andando pelo salão, sem pensar eu fui atrás dela.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now