#36

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Despertei subitamente no meio da noite e senti minha garganta meio seca, estava escuro, então tateei a escrivaninha ao lado da minha cama a procura do meu celular.
Olhei para a tela e a luz forte incomodou meus olhos, eram 2:40 da madrugada. Eu não costumava acordar de madrugada, mas sempre que acordava é por que precisava ir ao banheiro ou beber água. E naquele momento eu definitivamente precisava de água.
Me levantei com muita preguiça e sai do meu quarto, desci as escadas estranhando que a luz da cozinha ainda estava acesa, mas continuei descendo, pensei que Liam deveria ter esquecido de apagar. Mas quando cheguei na cozinha, me deparei com o próprio Liam, ele estava sem blusa e virado de costas para mim.
— Insônia? — Eu disse. E ele pareceu se assustar quando se virou rapidamente levando a mão ao coração, a outra segurava um copo de água.
— Hellena! Meu Deus! que susto. — Ele disse. E eu ri exageradamente. Ainda estava tentando me acostumar com nossa nova "boa relação". Não éramos melhores amigos, mas desde o baile beneficente tinha sido uma semana tranquila e sem troca de farpas.
Abri a geladeira e peguei a jarra de água, me estreitei ao lado de Liam para pegar um copo atrás dele e o enchi com água.
— Não é insônia, só estava com sede também. — Ele disse. Como se meus olhos tivessem vida própria eu olhei para o seu abdômen e me lembrei imediatamente de lembrar ele sobre a regra número 01 da casa. Eu estava prestes a começar meu discurso quando me lembrei do que eu vestia. Olhei para baixo vendo minha camisola de seda preta que era tão curta que mal cobria metade das minhas coxas. Eu senti meu rosto queimar ao perceber que eu vestia aquilo na frente de Liam. Eu engasguei com a água e comecei a tossir. 
— Calma, respira! — Ele disse se aproximando e colocando uma mão nas minhas costas para me ajudar. Mas assim que ele se aproximou e eu vi como seu corpo estava próximo demais de mim eu dei um passo para trás tentando conseguir voltar a respirar. Olhei para baixo novamente e cada vez eu eu olhava eu me sentia mais indecentemente. Eu precisava sair dali. Quando finalmente parei de tossir eu terminei de beber toda a água do copo na tentativa de fazer minha garganta parar de arder por conta do engasgo.
— Boa noite. — Eu disse rapidamente deixando o copo sob a bancada. Já estava me virando para correr para para longe daquele constrangimento quando ele segurou meu braço e me puxou de volta. Eu olhei para ele e sei que transparecia estar assustada. Meu coração estava acelerado e meu corpo todo queimava. Por que ele sempre me fazia queimar? As vezes de raiva e as vezes de constrangimento. Bom, eu esperava que fosse constrangimento...
— Por que está tão corada? — Ele perguntou sério.
— Não estou corada. — Eu disse, sabendo que era mentira por que eu claramente sentia meu rosto queimar.
— Está sim. — ele disse erguendo uma sobrancelha.
— Ahh... Deve ser por que engasguei. Não é óbvio? Agora preciso ir dormir, acordo cedo amanhã. — Eu disse sem pensar, tentando puxar meu braço da mão dele mas ele não soltou. Meu Deus, por que ele estava complicando as coisas?
— Mas amanhã é sábado. — Ele disse, com uma expressão de suspeita. Eu olhei pra ele apavorada e para piorar eu vacilei e olhei para o abdômen dele bem ali na minha frente e depois para os seus braços fortes que me seguravam. Quando voltei os olhos para o rosto dele, lá estava um sorriso malicioso. Ele havia percebido, é claro que sim. E usaria aquilo contra mim. Eu mal consegui pensar no que dizer.
- Claro! É sábado. Eu... esqueci. - Eu disse.
— Parece assustada. — ele falou.
— Por que eu estaria assustada? —
- Eu tenho algumas suspeitas. - Ele disse sorrindo.
— Eu só estou morrendo de sono. — Eu disse tentando fingir bocejar.
— Ok, então volta pra cama. — Ele disse, soltando meu braço. Eu me senti aliviada por estar finalmente livre. Quando pensei que eu poderia finalmente escalar dali, eu me lembrei que se eu me virasse e subisse as escadas com aquela camisola super curta seria ainda pior.
— Pode ir na frente. - Eu disse lançando um sorriso de gentileza. Então ele sorriu e balançou a cabeça como se tivesse pensado em uma piada interna, ele passou por mim e subiu as escadas. Eu respirei aliviada. Ainda sentia um enorme calor. Pisquei algumas vezes, tentando afastar qualquer pensamento idiota que envolvesse o corpo de Liam da minha mente, fui até o interruptor, apaguei a luz e subi de volta para o meu quarto.

Ao acordar pela manhã, eu tomei um banho rápido e me troquei, fui para a cozinha e Liam estava lá, me dando um pequeno flashback daquele momento constrangedor de madrugada, ao lembrar disso eu me senti um pouco envergonhada. Ele havia me visto de camisola e aparentemente reparado que eu olhava para o corpo dele.
— Bom dia. — Ele disse.
— Bom dia! — Respondi, tentando fingir que nada tinha acontecido.
Preparei meu café da manhã e comi o mais rápido possível, eu estava muito incomodada em estar perto dele, e desta vez não era por odiar ele mas por estar tendo estranhas reações a presença dele.
Eu comi rapidamente e subi de volta para o meu quarto. No final da tarde saí para correr e aproveitei para comprar o jantar em um restaurante ali perto. Geralmente eu e Liam sempre comíamos separadamente, ele costumava comer marmitas fitness congeladas e eu sempre pedia comida ou comia fora. Mas até aquele momento, estávamos nos dando bem então pensei em levar o jantar para ele também. Pensei que poderia ser estranho, mas talvez a gentileza ajudasse a ele esquecer o que havia acontecido na noite passada. Então levei comida para dois e caminhei de volta para casa.

Liam havia ficado surpreso com a gentileza. Eu agradecia mentalmente por ele não estar mais fazendo comentários sobre isso. Por um breve momento enquanto eu olhava para ele sentado ao meu lado na bancada da cozinha enquanto estávamos comento, eu me perguntei se ele havia sentido alguma atração em me ver com aquela roupa de dormir ou se eu era a única que estava tendo aqueles pensamentos horrorosos. Mas no fundo eu tinha certeza de que ele não pensava em mim daquela forma, eu sabia o tipo de garota que Liam ficava e eu com certeza não fazia o tipo dele. Eu de repente quis dar um tiro em minha própria cabeça quando percebi que eu estava pensando naquilo e joguei esses pensamentos para longe. Eu não devo me importar. Afinal ele era o Liam, que fazia bullying comigo na escola e agora era meu marido falso recém-perdoado por aparentemente estar se tornando uma pessoa melhor. Eu estava pensando demais então decidi falar alguma coisa para que não me restasse muitas lacunas para preencher com aqueles pensamentos loucos. Eu deveria falar alguma coisa? Ele teria puxado assunto se quisesse, certo? Talvez só estivesse respeitando meu espaço. Ou talvez ele gostasse de comer em silêncio. Por que eu estava me importando tanto? Eu precisava urgentemente parar de me importar.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now