Capítulo 8

12 1 0
                                    

  
Eu esvazio o copo e a saudade o enche
Eu deveria apenas ceder, por que eu implicava?
  Até o saco de lixo jogado na rua
  Faz um som solitário no vento
Tudo que eu fiz foi colorir você no meu papel branco.

→_→✨←_←

Os dias passam cada vez mais devagar.
A mesma monotonia, a mesma sensação de insuficiência.

Eu só queria parar de ser um peso morto para todos.

Mamãe fingia estar bem, mas todos sabemos que ela está se matando aos poucos, de cansaço. Ela trabalha demais por muito pouco e os gastos com meu irmão ainda são existentes.

Gostaria de trabalhar e a ajudar em casa, mas dou mais gastos ainda, com toda essa merda de remédios e terapias. Se eu não estivesse assim, mamãe não teria de se preocupar e gastar tanto comigo.

Sua vida começou a desandar quando nasci, a partir do momento em que ela teve que trancar a faculdade para me criar, já que não tinha ajuda e por mais que abortar fosse sua vontade, papai a prometeu cuidados, esses que não foram bem efetuados.

Pai era sim uma pessoa boa, mas com as pessoas de fora de casa.

Disse a mãe que iria cuidar de nós, a prometeu as melhores coisas, que queria o filho. Porém não fora efetuado.

Ele continuou com o vício na bebida, suas farras de dias e noites adoeciam mamãe. Ele saia de tardezinha e voltava meio-dia do dia posterior. Isso nos cansava.

Chega um momento em nossas vidas que nós não seguramos mais as pontas, qualquer coisa que encha nossas mentes naquele momento toma nossas seguintes ações, foi isso o que aconteceu com o Jeongguk. Foi isso o que aconteceu comigo.

Eu não me sinto feliz por terminar assim, por deixar minhas fraquezas me sufocarem, mas eu simplesmente não consigo. Você me entende, certo?

Estou farto de tudo, cansado, triste e solitário. É como me encontro agora. Jeon me deixou sozinho, não teve forças para aguentar, então, porquê justo eu, tenho que continuar?

Mas eu não quero partir assim. Não quero deixar tudo pra trás e simplesmente ir. Quero fazer uma última coisa, algo que minha mãe não se sinta tão mal.

Foi a partir desse pensamento, quê eu arrumei toda a casa, tirei os móveis dos lugares e reorganizei. Tirei a poeira, abri as janelas e deixei que o cheiro forte de mofo se esvaice, algo para minha mãe. Ganhei ponto por isso.

Deixei meu irmão na faculdade, e fui buscá-lo depois. O acompanhei no ônibus, já que nao dirijo, nem tenho interesse.

Eles acharam que eu, sozinho, havia me curado. Enganados.

E isso durou uma semana, percebi que mamãe havia melhorado seu semblante. Que meu irmão já não estava tão preocupado. Eles poderiam voltar a  viver.

Toc, Toc, Toc.

Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos, e mando o dono do barulho importuno entrar.

- Ji? 'Tá ocupado? Posso entrar? - Ouvi a voz de JiHyun adentrar o local.

- De qualquer modo, você já tá aqui dentro. E não, não estou ocupado. Estava apenas guardando umas roupas, mas já terminei. - Disse enquanto pendurava a última peça e fechava a porta do armário.

- Hm, okay. Quer pedir pizza? Ninguém tá com saco pra cozinhar hoje.

- Tudo bem, pede você, sabe que eu como qualquer coisa. Já desço. - Dei um meio sorriso ao final da minha fala.

- Tá bom, tô indo.

- Tu é doido.. - Eu sorri, um sorriso pequeno, mas significativo, eu amo esse pirralho.

Após a chegada da pizza, sentamos os três na sala e comemos enquanto assistíamos Lilo&Stitch pela quadragésima quinta vez, mas fazer o que, é um clássico da filmologia.

Vi meu irmão sorrir entre os diálogos, os olhos da Park mais velha brilhavam para nós e para a tela, ela estava feliz.

Infelizmente não posso dizer o mesmo de mim, a dor continuava alí, amarrotando meu peito e pesando sobe meu coraçãozinho.

Eu queria poder tirar todo esse peso com minhas mãos, são pequenas, mas eu gostaria de tentar. Mas não funcionaria. Não dá para arrancar mágoas com as mãos.

Era estranho e completamente perturbador.

Mas eu me deixei levar pelo momento, me permiti sorrir junto com eles, me distrair com o desenho. Até perceber que JiHyun dormia no sofá enquanto abraçava a cintura de nossa mãe, essa que também se deixara levar pelo sono.

Subi os degraus da escada, busquei dois cobertores, os cobri e deixei um selo em suas testas.

De volta ao primeiro andar, busquei meu quarto o vendo limpo. Permiti me lavar durante um tempo em que achei necessário.

Escrevi minha última carta, e a coloquei sobre a escrivaninha. Não tinha mais volta.

De volta ao banheiro, abri meu remédio esquecido, retirei de dentro da caixinha as três cartelas restantes de Xanax. Ingeri 27 comprimidos ao todo. Tomei junto com uma vodka antiga que encontrei no quarto do meu irmão.

Senti meus membros pesados, minha cabeça girar, e dor, muita dor.

Me vi em situações impossíveis. Onde estava com meu Jun, estavamos com crianças. E então eu chorei, pois eu sabia que não era real.

Caí no chão do banheiro.

Vi meu pai aqui, gritando. Ele estava bêbado.

Minha cabeça doía.

Meu irmão estava formado, e casando.

Eu não via mais nada.

Minha mãe havia encontrado alguém que a amasse e a fizesse feliz.

Não senti mais nada.

Estavamos comemorando o natal em família, trocando presentes, falando sobre as crianças.

Eu apaguei.


Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 23, 2019 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

My passion. - KookMin {JiKook} Onde as histórias ganham vida. Descobre agora