#37

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Cheguei no estacionamento do orfanato. Olhei para o lado vendo Liam tirar seu cinto de segurança.
- Pronto para divertir umas crianças hoje? - perguntei.
- Eu já nasci pronto... E além do mais, elas me adoraram. - Ele disse piscando o olho. Eu tentei ignorar o quanto ele ainda era convencido pois achei legal que ele havia se interessado em voltar no orfanato.

— Olá Irmã Carla. — Eu disse para a jovem freira na recepção. Ela sorriu.
— Oi Lena! Como vai? Parece que as crianças conquistaram o seu marido também, hein!? — Ela disse simpaticamente, notando Liam ao meu lado.
Embora fosse estranho e desconfortável toda vez que se referiam ao Liam como "meu marido", eu fazia o meu melhor para fingir ser normal.
— É, parece que sim. — Eu disse sorrindo para ela.

Fomos até a brinquedoteca, como de costume. Percebi que estávamos um pouco atrasados, pois as crianças já estavam lá e pareciam entretidas brincando entre si, pois nem notaram que a gente havia entrado na sala. Antes que eu pudesse dizer oi, vi Tatiana vindo em minha direção com cara de brava.
- TIA LENA! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ MENTIU PRA MIM! - Ela disse alto demonstrando toda a sua irritação. Eu estranhei sua reação e me abaixei até ela para tentar entender o que ela queria dizer enquanto tentava não rir por ela ficar super fofa com aquela carinha de brava.
- Do que está falando Tati? - perguntei.
- Você me disse que ele era seu amigo. Mas a irmã Dulce disse pra gente que você e seu MARIDO iam vir ver a gente hoje. - Ela disse, e então cruzou is braços. Eu abri a boca mas não sabia o que dizer, quando olhei para Liam, ele estava morrendo de rir do meu lado. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa ele falou:
- Que absurdo "Tia Lema". - Disse ele ironicamente.
- Venha com o Tio Liam, deixe essa mentirosa aí. - Ele disse, pegando na mão de Tatiana e segurando o riso.
- Inacreditável. - Eu disse. Vendo que Liam ao invés de me ajudar ficou rindo e ainda saiu com a criança.
Ajudamos as crianças com as atividades e as vezes eu olhava para Liam interagindo com as crianças, mesmo que dessa vez eu não estivesse procurando sinais de fingimento, eu achava bonitinha a forma como ele brincava com eles e fazia eles se divertirem. E depois de contar a história, nós nos despedimos das crianças com muita dificuldade, pois eles não queriam deixar a gente ir e então fomos embora.

Quando chegamos em casa eu fui tomar um pouco de água na cozinha. Liam se debruçou no balcão olhando para mim.
- Como você foi capaz de mentir para uma criança? - Ele disse, fazendo uma expressão forçada de indignação. Eu revirei os olhos.
- Você poderia ser menos irritante, por gentileza? - eu disse.
- Você acha que um dia ela vai superar? - Ele dizia dramaticamente.
- Amanhã mesmo ela já esquece isso. - Eu disse, mesmo sabendo que a pergunta dele foi tão idiota quanto retórica.
- Não sei não... ela parecia bem decepcionada com você, você viu aqueles olhinhos cheios de decepção? - Quando ele disse isso, eu não resisti a rir, por que lembrei do rostinho bravo dela, e era a coisa mais fofa do mundo.
- O que você falou pra ela? - perguntei com curiosidade.
- Que desde aquela vez que fui lá, nos apaixonamos e eu te pedi em casamento. - Eu olhei para ele e ele realmente falava sério.
- Fez sentido pra ela. - Ele disse.
- Eu não conseguiria ter pensado em algo melhor. - admiti.
Eu suspirei em um sinal de cansaço, e fui em direção as escadas.
— Ok, preciso de um banho por que já vou ter que sair novamente. — Eu disse.
— Onde vai? — Ele perguntou.
Eu ergui uma sobrancelha e pensei em dizer que não o devia satisfações, mas estava sem tempo e aprendendo a trata-lo bem então decidi ser breve.
— Vou em um outro lugar que eu ajudo. — eu disse, parando em um degrau.
— Mais crianças? —
— Animais. —
Ele fez uma expressão de surpresa.
— Você não se cansa de ajudar tantos lugares? —
— Na verdade não, é um prazer pra mim. — Eu disse, e um sorriso distraído se formava em meus lábios ao pensar nas crianças, nos idosos e nos animais.
— Vou com você. — Ele disse com confiança.
— Oi? — eu disse, para saber se tinha escutado direito.
— Vou com você. Eu também gosto de animais. —
Eu abri a boca para contestar. Mas como eu poderia impedir alguém de ajudar?
— Saímos em 30 minutos. — Eu disse enquanto subia as escadas.

Eu estava dirigindo o meu carro e Liam estava no banco do carona, ele não tinha gostado da ideia mas era bom eu dirigir para variar, sempre que íamos para algum lugar juntos, a gente ia no carro dele. Quando chegamos na ONG eu resolvi algumas coisas sobre documentos e providenciei uma lista para compra de algumas coisas que estávamos precisando, e então fui mostrar os animais para Liam, ele ficou o tempo todo fazendo várias perguntas como uma criança de 5 anos.
No final do dia, ele estava literalmente agarrado a um filhote de cachorro marrom.
— Tem certeza que não podemos ficar com ele? — Ele disse, acariciando o cachorrinho, que lambia sua mão.
— Sim, não temos um quintal fechado e passamos muito tempo fora, ele ficaria sozinho e triste. — eu disse, pensando racionalmente.
— Mas e se a gente desse um jeitinho? Podemos cercar a casa e... — Ele parecia uma criança insistindo para os pais deixarem levar um cachorrinho para casa. — Liam, coloca ele no chão e vamos. — eu disse cortando ele.
— Mas olha só pra ele. — Ele disse colocando o filhote perto do meu rosto. Eu não consegui segurar o riso.
— Você pode vir ver ele sempre que quiser, agora vamos. —
Ele se deu por vencido e eu ri ao analisar aquela situação, eu estava conhecendo um Liam cada vez mais diferente.

— Tchau amiguinho. — Ele disse parecendo triste ao colocar relutantemente o cachorrinho no chão, o pequeno filhote pulava em suas pernas alegremente querendo ser pego de novo.

Quando estávamos saindo da ONG, quem eu menos esperava ver apareceu. Os olhos de Anthony encontraram os meus e logo depois pousaram em Liam. Eu sabia que ele não estava mais falando normalmente comigo, por que eu mesma havia pedido isso, então já ia passando diretamente por ele, mas Anthony segurou meu braço e me puxou para trás do balcão da recepção. Liam ficou na porta da ONG olhando para nós.
— Não acredito que trouxe ele aqui. — Anthony disse baixo, mas talvez não baixo o suficiente para que Liam não ouvisse. Eu olhei para ele sem saber o que dizer. Não esperava aquela reação.
— Ele só queria conhecer o lugar. Algum problema?— Eu disse, minha voz falhava um pouco. Olhei para trás e Liam agora estava com os braços cruzados enquanto olhava para nós e por algum motivo sua cara não era boa, era quase como se sentisse raiva de Anthony, mas ele não tinha motivos para isso então sabia que se tratava de alguma outra coisa.
— Nenhum. Só não esperava que fosse vir esfregar isso na minha cara. — Ele disse parecendo chateado. De repente eu me senti culpada, se ele ainda gostava de mim, certamente deveria doer saber que eu estava casada com outro cara e ainda trazer ele aqui.
— Não foi a minha intenção! Eu jamais faria isso, eu não sabia que você estaria aqui hoje. — Eu disse, olhando firme para ele. E como ele não disse mais nada, eu saí andando sem me despedir.

Liam continuou olhando para ele por alguns segundos e depois continuou me acompanhando até meu carro.

— Dava quase para tocar a tensão entre vocês. — Ele disse ao se sentar no namoro do carona.
— Da pra gente não falar sobre isso? — Pedi, enquanto ligava o carro, tentando esquecer aquele encontro inusitado, estava me sentindo culpada o suficiente. Como não havia pensado na possibilidade de encontrar Anthony ali naquele dia? Mas depois de quase 5 meses, eu esperava que ele já tivesse superado...
- Pensei que eram "apenas amigos" - disse Liam, eu conseguia ver um certo tom de irritação em sua voz mas não entendia o motivo. A única pessoa que tinha o direito de estar irritada ali era eu, depois que ser confrontada por Anthony.
- Mas nós realmente éramos só amigos... - Eu disse, sem entender por que eu estava explicando aquilo para Liam. Eu não devia satisfações para ele.
— Parece ter deixado o cara bem apaixonado. — Liam disse em tom de ironia. Aquele assunto estava me irritando e eu só queria que ele casse a boca, as vezes ele conseguia ser bem inconveniente só para me irritar.
— Liam, por favor. Só dessa vez, não seja tão irritante! — Eu disse, um pouco nervosa.
Ele levantou as mãos como se estivesse se rendendo. A forma como ele parecia gostar de me irritar ainda era um problema entre nós.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now