Amor em Chamas: O Contrato

#42

{ Hellena Point of View }

Eu olhava para todos aqueles papéis na minha mesa e me esforçava para não surtar. O que eu ainda estava fazendo ali? Eu já tinha aceitado o fato de que eu passada de querer ferrar o Liam para querer beijar o Liam. Tudo bem que eu tinha decidido interromper sei lá o que estivesse acontecendo entre a gente na noite passada, mas já não faz mais sentido nenhum eu continuar trabalhando na Imperius a ponto de surtar, sendo que o único objetivo para eu ter entrado lá era para me vingar de Liam. Então eu respirei fundo e eu fui até a sala do Sr. Suller, bati na porta e esperei ele chamar.
- Hellena? Algum problema? - Ele perguntou quando entrei. Eu me sentei na cadeira a sua frente.
- Sr. Suller, eu sei que eu ainda estou aqui a pouco tempo e realmente amei a experiência, mas eu decidi deixar o cargo. - Eu disse de uma vez. Ele pareceu surpreso, e então respirou fundo.
- Hellena... calma. Aconteceu algo por aqui?  Não podemos resolver isso? - ele questionou.
- Não, não aconteceu nada. - Eu disse.
- Você tem certeza? Você tem sido uma das melhores a ocupar o cargo até hoje, seria uma pena. - disse.
- Obrigada Sr. Suller, mas eu tenho certeza. E por falar nisso... - eu comecei a dizer. Eu não acreditava que iria fazer aquilo - Eu realmente acho que o senhor deveria dar este cargo para Liam. Ele tem mudado bastante, parece estar mais maduro e responsável... Acho que está mais que apto para assumir o meu lugar. - eu disse.
Ele olhou para mim como se estivesse me analisando, e aquilo me deixou apavorada. A Sra. Suller já estava desconfiada, só faltava ele ficar também. Ele coçou o queixo e pareceu considerar minha recomendação.
- Tudo bem... É bom saber que meu filho tem melhorado. Vou ligar para ele hoje. Mas saiba que se mudar de ideia, sempre terá um lugar aqui na Imperius! - Ele disse.

Eu fiquei aliviada de sair da Imperius e admitoque até feliz em saber que Liam vai conseguir o que queria. Ao sair de lá e fui comer em um restaurante antes de ir para casa.

Quando cheguei em casa subi para o meu quarto, tomei banho e vesti roupas confortáveis, estava em minha cama assistindo Netflix em meu macbook quando comecei a sentir fome. Decidi preparar uma salada de frutas então fui para a cozinha, separei algumas frutas e comecei a cortá-las. Quando terminei de preparar, peguei um pouco em uma tijela e me sentei no banco próximo a bancada para comer.

Ainda comia quando Liam entrou pela porta da frente, com suas usuais roupas de academia.
- Hellena, pode me explicar por que meu pai me ligou e me disse que a partir de amanhã sou o diretor de operações da empresa? - Ele perguntou com os olhos cerrados.
- Uau! Fico feliz por você! - eu disse me virando para ele e fingindo surpresa.
- Por que desistiu do cargo? - Ele perguntou, ignorando meu fingimento.
- Muito cansativo. Boa sorte. - Era a mais pura verdade. Liam se sentou ao meu lado e olhou para mim.
- Obrigado Lena. - Ele disse. Eu sorri para ele.
- Está pronto para usar terno todo dia? - perguntei.
- Sim, afinal terno me cai bem, você não acha? - Ele disse com seu típico sorriso convencido. Eu revirei os olhos e me virei para voltar a comer quando Liam pegou minha tigela e subiu as escadas comendo minha salada de frutas.
- Ei! Liam! - eu gritei contestando. Ele era simplesmente inacreditável. Eu fiquei lá sentada rindo sozinha quando de repente me lembrei da sensação de estar nos braços dele.
Eu me sentia uma idiota. Eu queria ele e sabia que ele me queria. Mas saber que ele era o garoto que fez bullying comigo e que nós estávamos em um circunstância nada favorável para um romance: um casamento falso, me fazia recuar e sentir medo. E se desse tudo errado? E se estivéssemos nos precipitando? E se eu me machucasse?
Diante dos meus pensamentos confusos, eu subi para o meu quarto, troquei de roupa e decidi ir ao único lugar que poderia ter um bom conselho.

-

-  A Senhora acha que vale a pena arriscar tudo e ficar com ele? - eu perguntei, sentada ao lado da senhora ao meu lado, após contar para ela toda aquela confusão que havia se tornado a minha vida.
- Ah minha Lena, eu sempre te disse que a vida guardava um grande amor pra você. E o amor sempre chega de uma forma inesperada. E se você estiver perdendo seu grande amor por medo de dar tudo errado? -  Ela disse, olhando para mim, com aqueles olhinhos cheios de doçura e colocando uma de suas mãos cheia de marcas da vida sobre a minha.
- Mas e esse casamento falso? Vai se tornar um casamento de verdade? Eu nem sei se estou pronta para um casamento de verdade. - Eu disse, com um certo desespero. Ela olhou pra mim e pareceu pensar.
- Não está pronta para o casamento ou não está pronta para o amor? - perguntou ela.
- Acho que para os dois. - eu disse, suspirando.
- Ah minha netinha do coração, você é uma pessoa tão boa, nunca iria receber algo ruim em troca disso. Mas se você gosta desse rapaz e ele gosta de você, não jogue isso fora, o amor é raro minha menina! Principalmente nos dias de hoje... Pare de dificultar e deixe as coisas acontecerem naturalmente. - disse ela me dando um bela sorriso. Eu sorri de volta para ela, que mesmo aos seus 76 anos ainda era super lúcida, e sempre me recebia com carinho, assim como todos os idosos do asilo. Havia os mais quietinhos, os mais irritados, mas eu amava todos eles de uma forma especial,
- Obrigada Dona Francisca, a senhora me ajudou muito! - eu disse.

Após conversar mais um pouco com outros dos idosos eu me despedi e fui até o quintal do Asilo, nos fundos, onde havia o grande jardim que eu orgulhosamente paguei para ser construído ali com muito carinho, o local que antes era apenas um pátio onde os idosos usavam para tomar sol, agora era um local gramado, com árvores e flores.
Eu achava aquele pátio muito deprimente, demorou um pouco para a equipe que contratei quebrar todo o concreto e o paisagista poder fazer o que eu tinha em mente, na época da construção os idosos até tiveram que ficar em outro lugar por uns meses por conta do barulho , mas eu vejo o quanto eles ficaram mais felizes com isso e assim eu sei que valeu a pena.

- Ei, Bob! Cadê você? - eu gritei e em seguida assoviei. O grande labrador dourado surgiu correndo em minha direção e pulou em mim com animação enquanto balançava seu rabo.
- Como você está amigão? - Eu disse enquanto fazia carinho em sua cabeça. Bob havia sido mais um presente que eu trouxe diretamente da Ong para o Asilo, ele era apenas um filhote quando chegou aqui, e eu o trouxe para alegrar um pouco os idosos que gostam muito dele, e agora ele era oficialmente o mascote do asilo.
Sempre que vinha aqui, eu aproveitava para dar uma olhadinha nele.

Depois de brincar com pouco com Bob que logo me trouxe sua bolinha super empolgado, eu dirigi para casa. Ao longo do caminho fiquei pensando em tudo o que Dona Francisca me disse.
Talvez ela estivesse certa, talvez eu precisasse parar de tentar fugir do que estava acontecendo entre Liam e eu devesse deixar as coisas acontecerem. Eu não sabia onde aquilo ia dar mas eu sabia que não queria ir para lugar nenhum sem ele. Eu pensei sobre Liam, sobre meu medo de me entregar à alguém que já havia me ferido tanto. Ele parecia realmente arrependido e mudado, o que ainda me segurava? Seria mesmo apenas medo! ou talvez do remorso, rancor, orgulho? Me questionei se valia a pena guardar rancor de alguém que aparentemente já havia reconhecido seus erros, me questionei se eu mesma não estava me perdendo no orgulho e me privando de viver algo que poderia ser bom. Eu me lembrei daquelas memórias infantis da sacola onde eu me sentia tão humilhada por Liam e seus amigos e elas já não doíam mais tanto assim, porém foi exatamente a ausência de dor ao me lembrar disso que fizeram lágrimas caírem dos meus olhos, pois naquele dia eu tive certeza de que havia perdoado Liam verdadeiramente em meu coração. E depois desse perdão algum sentimento novo nascia no lugar. E esse sentimento parecia ser maior que todo o medo e orgulho que me impediam de ficar ao lado dele.