Susto e improviso

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Nada, e Kouyou colocaria muita ênfase nesse "nada", podia ser comparada à fúria de Yutaka ao recepcioná-los de volta já em Aomori.

Nem o retorno tenso feito novamente com os Trestálios, onde poucas palavras foram trocadas entre bruxos e japoneses. Nem a despedida silenciosa na porta do hotel onde ficariam acomodados. Sinceramente, os guitarristas estavam enrascados.

— ...Tamanha irresponsabilidade, estão me ouvindo? – Kai continuava seu discurso inflamado, condenando a atitude dos amigos de terem sumido desde a manhã cedinho e só aparecerem agora, no final da tarde.

— Sentimos muito, Kai-chan. – Uruha afirmou humilde de cabeça baixa, intimamente feliz por ouvir as palavras novamente em japonês. – Tínhamos uma coisa urgente pra resolver.

— Deixar um bilhete na porta do meu quarto não é a melhor forma de mostrar responsabilidade.

Ao ouvir a dura crítica Aoi e Uruha se entreolharam. Então a coruja deixara sua carta na porta do quarto de Yutaka? Agora não sabia se fora a melhor ou a pior decisão. Talvez tivesse sido melhor. Se o líder da banda surtava assim por encontrar a carta no chão, imagina a sincope que não teria ao recebê-la direto das patinhas de uma ave...

— E onde vocês estavam afinal de contas?

— Nós... – Kouyou começou.

— Chegamos a tempo, não chegamos? – Shiroyama cortou levemente inflamado. Seu bom humor estava começando a mudar.

— Chegaram a tempo? – Yutaka elevou a voz – Nós já vistoriamos o local, repassamos as músicas e afinamos os instrumentos, sem os guitarristas, já trocamos de roupa e podemos ouvir a casa cheia. Vocês chegaram a tempo de trocar de roupa e entrar no palco! – apontou os outros integrantes da banda, sentados no canto do grande camarim, assistindo a cena entre preocupados e surpresos.

O moreninho estava possesso. Pra desespero de Uruha, Aoi fez um som estranho com a garganta e o loiro pensou que seu amante ia explodir numa fúria semelhante à de Kai. Antes que acontecesse, pediu novamente:

— Desculpa, não...

— Desculpas não resolvem, Takashima. – Kai rebateu diminuindo o tom de voz – Não somos uma banda iniciante. Cada show dessa turnê tem um público de milhares de pessoas. Isso deixou de ser uma brincadeira há muito tempo. Todos nós assinamos contratos e não vou admitir atitudes infantis ou irresponsáveis de ninguém. E você, Shiroyama, como o mais velho devia ser o exemplo que...

As palavras morreram nos lábios de Kai. Ele bem que tinha percebido a raiva dominar os olhos escuros do guitarrista moreno. Mas não tinha medo de ceninhas, por isso continuara seu sermão. Entretanto à medida que as palavras escapavam, a fúria silenciosa de Yuu foi cedendo, cedendo, até que mágoa e arrependimento dominassem a face pálida. Logo os lábios sensuais estavam tremendo e sem que o líder pudesse imaginar, Aoi agachou-se no chão e abraçou os joelhos, começando a chorar:

— Sinto muito, Kai-chan. A culpa é toda minha. – disse com dificuldade, soluçando.

Kouyou abaixou-se ao lado do amante e começou a acariciar as costas do moreno:

— A culpa não é só sua. Briga comigo, Yutaka, mas não o faça chorar. – A situação não era algo que podia ser facilmente explicada. "Nós fomos até Londres pra fazer um pré-natal.". Tinham consciência de como soaria ridículo.

Kai simplesmente não encontrou palavras para rebater. De todas as atitudes esperadas, pranto incontrolado não fazia parte da lista.

— Desculpa... – Aoi repetiu.

ChizuruWhere stories live. Discover now