três é uma multidão

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Era o meu primeiro dia de trabalho depois do verão e eu estava animada. Sempre havia gostado de trabalhar na loja e a Claire, a outra funcionária era tão quieta que era como se eu estivesse sozinha — me perguntava se algum dia eu já havia escutado o som de sua voz. A loja funcionava como um estúdio onde as bandas locais ou as que passavam pelo condado usavam para ensaiar.

— Os novos funcionários estão atrasados. — Dennis resmungou surgindo da porta com um papel pardo que guardava dois hambúrgueres do Hall's, ele era o sócio de meu pai e ex-guitarrista da Flare, a antiga banda de meu pai.

— Novos funcionários? Pra que? E a Claire? — Eu não queria soar egoísta, claro que não.

— Claire pediu demissão por ser trabalho demais pra um só, então seu pai achou melhor contratar dois funcionários pra te ajudar.— Ele disse dando uma mordida em seu hambúrguer — Te vejo depois, criança. — O homem corpulento e careca despenteou meu cabelo propositalmente arrancando um grunhido irritado.

Toda parte de ficar sozinha e apreciar a música havia ido por água abaixo.

Logo depois que Dennis saiu pela porta, uma caminhonete cor-tomate estacionou em frente a loja, mas eu não me importei, continuei focada em meu celular.

JC havia enviado uma mensagem na noite anterior, pois, logo depois de minha conversa reveladora com Dylan, fui embora e passei uma madrugada tortuosa pensando na música que Adam havia cantado, não era para mim, não poderia ser.  Eu observava a mensagem ainda não respondida de Jaden, ele claramente gostava de mim, eu seria burra de deixar isso passar.

E Adam, bem, ele não me conhecia o suficiente para escrever uma música e cantar em frente da inteira Park Ridge — que conspirava incessantemente no Facebook sobre "Quem era a garota de olhos azuis?". Madison Ridges estava possessa, pois, seus olhos eram verdes, ou seja, ela estava descartada. 

A musa da música era a menina mais odiada e a mais procurada pelos cidadãos de Park Ridge. 

A porta se abriu revelando risadas vindas de fora, no momento em que direcionei meus olhos para frente pude ver os cabelos ondulados cor mel de JC e ao seu lado Adam, ambos usavam a blusa da Brew's Shop. 

Minha vida era uma merda de um talk show matutino, exceto que não tinha uma grávida, ainda. 

— JC, Adam, o que fazem aqui? — Eu estava exagerando, quer dizer, qual era o problema de trabalhar com os dois homens que tem deixado minha cabeça confusa desde a noite passada.

— Ei! Não sabia que trabalhava aqui também. — JC disse animado se aproximando do balcão, enquanto Adam permaneceu calado apenas nos observando.

— Sim, depois que quebrei a perna e etc, meu pai achou melhor que eu ficasse um tempo fora.

— Entendi. Eu te mandei mensagem ontem, não te achei depois do show. — Adam olhava para todos os lugares menos para nós, parecia desconfortável, pensativo.

— Passei mal, acabei tendo que ir embora. — Não era uma mentira completa, eu estava me tornando boa em criar desculpas.

 — Eu vou guardar minhas coisas, já volto e combinamos aquilo, okay? — JC tinha um sorriso bonito, ele me parecia uma pessoa boa demais e eu acho que nunca tinha conhecido alguém assim.

— Okay. —  Ele seguiu o corredor para a sala dos funcionários, onde guardávamos nossa mochila e comíamos às vezes —  eu nunca comia lá, Dennis sempre dormia lá e a sala ficava com cheiro de flatulência, era um trabalho para corajosos.

Um pesado silêncio tomou conta de nós, mais espesso do que a tensão desconfortável na atmosfera. Nos pegamos algum segundo em olhares que falharam a ser evitados, até que ele se aproximasse de mim.

Eu Também Te Amo, Piper Brew. - LIVRO 1.Where stories live. Discover now