Primavera

318 56 9
                                    


Capítulo IV

Conforme os dias se passavam Midoriya e Kaminari se aproximavam cada vez mais. O Deus da agricultura vivia tirando singelos sorrisos do esverdeado, principalmente quando ressaltava em como ele era alguém bom, e que apenas era incompreendido.

Por mais que não admitisse em voz alta, o Deus do submundo sentia seu coração se aquecer por aquelas doces palavras. E apesar de uma grande tristeza se apossar de si, Midoriya tinha certeza que fez a melhor decisão quando foi ao Olimpo. O que importava para Izuku, era ver aquele brilho no olhar de Denki. Aquele mesmo olhar doce e inocente de quando o viu pela primeira vez.

Mas havia uma coisa que estava incomodando Midoriya. O esverdeado jamais se sentiu dessa maneira, - arrependido pelo seus atos. Era estranho aquela sensação. Sentir seu peito sendo esmagado de uma maneira sufocante, como se o ar escapasse de seus pulmões.

Precisava mudar aquilo. O primeiro passo tinha dado, - falar com Zeus. Agora precisava dar o segundo passo, - o pedido de desculpas, algo que nunca tinha feito.

E para isso, Izuku tinha bolado um pedido de desculpas perfeito, - ou quase, já que na verdade ele não tinha ideia nenhuma, apenas pegou a ideia de Kaminari, que era uma coroa de flores. Sim uma coroa de flores como pedido de desculpas.

Midoriya tinha que admitir que era algo muito simples, mas quando Denki tinha feito uma para si, percebeu que para o loiro aquilo era muito mais. Algo que Izuku ainda não sabia o que era.

Por isso naquele momento se encontrava escondido nos aposentos de Kaminari, colhia as várias flores nos vasos, - que tinha dado para o mesmo. Midoriya tinha que admitir que era difícil colher flores, quando pegava algumas, elas simplesmente morriam em suas mãos, - e cada vez que isso acontecia uma pontada surgia em seu coração ao saber que as flores que morriam, foram feitas pelo loiro.

— Aí. — Resmungou ao sentir um espinho espetar em seu dedo. Observou atentamente o sangue escorrer e o ferimento de fechar. Como as pessoas gostavam desse tipo de flores? - se perguntava.

Assim que terminou de colher uma quantidade significativa de flores, saiu o mais rápido possível do quarto do loiro, afinal, aquilo era para ser uma surpresa. Ao voltar para o seu aposento, começou a fazer a coroa.

Depois algumas falhas, Midoriya tinha enfim conseguido terminar a coroa e tinha que admitir que estava horrível, - em vários sentidos. Midoriya sabia que sua coroa não ia ficar bonita como a de Denki, mas não imaginou que ficaria extremamente simples e feia.

Se perguntou se deveria fazer uma nova. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Denki tinha entrado em seu quarto. — O que está fazendo? — Questionou, assustando o esverdeado - que não tinha percebido a sua presença.

— Eu... — Balbuciou, perdendo a fala. Desviou o olhar para aquele amontoado de flores ao seu redor e a coroa em suas mãos. — O que você faz aqui? — Mudou de assunto, ainda alarmado por ter sido descoberto.

— Eu vi que as flores tinham sido arrancadas e vim ver o que estava fazendo com elas. — Disse, cruzando os braços. — Além disso, você machucou muito delas. — O acusou.

Midoriya sentiu suas bochechas queimarem por ter sido pego no flagra. Acabou por soltar um suspiro, já não tinha mais o que fazer. Levantou-se de sua cama com a coroa em mãos e aproximou-se do loiro, - este que lhe olhava atentamente.

— Nunca fui de fazer essas coisas. — Iniciou num murmúrio. — Eu não lhe pedi desculpas apropriadamente. Tudo isso que aconteceu com você, é culpa minha. Se eu não tivesse subido ao Olimpo, não teria ficado interessado em você, não teria pedido para a sua mãe a sua mão, não teria trazido você para o submundo no momento em que estava adormecido e principalmente não teria oferecido uma comida daqui de baixo, eu sabia qual era as consequências, mas eu queria você perto de mim, ignorei seus sentimentos pensando apenas em mim. — Seus olhos banhavam a culpa. — Denki, você estava totalmente errado sobre mim. Eu não sou alguém incompreendido, eu realmente não sou bom. — Desviou o olhar para a coroa em suas mãos. — Eu não consegui pensar num pedido desculpas, eu espero que me perdoe por tudo o que está acontecendo. — E entregou a coroa para Kaminari. — Mas, não se preocupe, eu já consertei tudo. Você está livre para voltar ao Olimpo, e não precisará mais voltar para o submundo. — E se retirou dos aposentos, deixando Kaminari para trás, - que permanecia olhando para a cama bagunçada do esverdeado.

Seu olhar caiu para a coroa em suas mãos. Tinha que admitir que ficou chateado com as atitudes iniciais do Deus, mas saber que o mesmo se arrependeu e conseguiu convencer Zeus a deixá-lo ir, por algum motivo isso aqueceu o seu coração.

[...]

Quando Denki retornou para o Monte Olimpo, foi recebido por sua mãe que chorava de alegria. — Meu filho, que bom que está bem! Izuku lhe fez algum mal? — Indagou preocupada, pois sabia o quão cruel o Deus do submundo poderia ser.

Kaminari olhou para a sua mãe e em seguida para a coroa, - que por algum motivo não conseguia jogá-la fora, nem mesmo sentia vontade para tal ato. — Não. — Murmurou.

Saori olhava preocupada para o seu filho, - tinha algo de errado, ela sentia isso. — Tem certeza? — Questionou mais uma vez.

Mas dessa vez, Denki deu um largo sorriso. — Absoluta. — E isso foi o suficiente para deixar a sua mãe tranquila.

Deméter, enquanto guiava o seu filho para o quarto. Todas as plantações ao seu redor, começaram a crescer novamente. As flores que estavam mortas, começaram a ressuscitar. Tudo o que estava morto, voltou a viver.

Os dias foram se passando e Saori começou a estranhar a atitude de seu filho. Denki não ia mais para os campos colher as flores, apenas ficava em seu quarto, olhando para a coroa de flores. Mas quando perguntou para o mesmo o que ele tinha, Denki apenas desviou o assunto, - algo que não era do seu feitio.

Kaminari desde que voltou sentiu-se estranho. Vazio. Era como se alguma coisa faltasse, mais precisamente a presença de Midoriya. Por mais que o esverdeado tivesse feito aquelas coisas, Denki não conseguiu ter raiva de si.

Por mais que Izuku tivesse dito que não era bom, Denki sentia que o Deus era bom. Afinal, porque depois de tudo aquilo o esverdeado se preocupou consigo?

Nesse momento o loiro se encontrava de frente para Zeus, querendo saber o motivo de sua liberação. — Hades propôs me servir sem me questionar, em troca de sua liberdade. — Foi o que o Deus disse.

Saber daquilo fez seu coração se apertar, sentia que aquilo estava errado, porque Hades tinha que servir Zeus sem questionar. Não importava o que os outros diziam, Denki tinha a total certeza que Izuku não era o vilão descrito por todos. As ações que presenciou foram totalmente diferentes, o que houve no início foi apenas puro egoísmo, mas quem nunca foi egoísta uma única vez?

— Eu quero mudar a proposta que ele ofereceu. — Ditou Kaminari, atraindo a total atenção de Zeus.

[...]

— O que? — Saori estava confusa, assustada e levemente inconformada. — Como assim? — Questionou.

— Eu decidi que meio ano ficarei no Olimpo e meio no submundo. — Disse Denki

— Mas por que?

Porque eu gosto do Izuku. — Sibilou, - em suas mãos se encontrava a coroa feita pelo esverdeado.

Saori caiu o seu olhar para a coroa e compreendeu, soltou um pequeno suspiro e abraçou fortemente o filho. — Então vamos aproveitar esse meio tempo.

[...]

Midoriya encontrava-se sentado em sua poltrona, observando o fogo sob a lareira. Seu olhar era morto, desde que Kaminari foi embora era como se tivesse qualquer alegria daquele lugar infernal.

Sabia que tinha feito a coisa certa, mas porque sentia seu coração doer tanto? Porque sentia aquela vontade súbita de chorar?

O mesmo soltou um pequeno suspiro e pegou a coroa de flores que o loiro tinha feito para si. Um curto sorriso surgiu em seus lábios. Os únicos momentos que sentia vestígios de felicidade, era quando olhava para aquela coroa, se lembrava de todos os momentos que teve do loiro, das risadas que deram, sentia falta daquilo.

— O Izuku. — O Deus estava tão distraído, que acabou por levar um susto ao escutar aquela doce voz.

Ao se virar para trás arregalou os olhos ao ver Denki com um largo sorriso e suas bochechas vermelhas. — Denki. — Murmurou ainda não acreditando no que via. — O que faz aqui?

Kaminari se aproximou do esverdeado. Suas mãos que se encontravam atrás das costas, seguravam a coroa feita pelo Deus. Quando ficou de frente para o mesmo, pôs a coroa feita pelo esverdeado em sua cabeça e deu um largo sorriso — Vim pra ficar com você. 

O Mito das EstaçõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora