Capítulo 1

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Descobri quando tinha mais ou menos quatorze anos, que não tinha mesmo nenhum interesse em garotas. Esta era uma revelação bastante atordoante, pois sabia que aconteciam coisas terríveis com as pessoas, especialmente pessoas da minha idade, o que falavam sobre garotos que eram interessados em outros garotos e passei cerca de seis meses em profunda depressão, sem saber o que fazer. Tentei mudar, tentei encontrar algum interesse em meninas, mas imediatamente ficou aparente que não havia mudança para o que eu era. No entanto, quando estava perdido nas profundezas da depressão, um salvador que nunca esperei se materializou.

Aconteceu numa noite quando me sentia como se não quisesse mais viver. Eu era, porém, um covarde por natureza e não podia descobrir como acabar comigo mesmo. Minha família não era do tipo que tinha armas em casa e, já que meus pais não eram do tipo que tinham o vício nacional em medicamentos sem prescrição, não existia nenhuma pílula para dormir ou sedativos para uma overdose também. Acho que podia ter usado uma lâmina de barbear para cortar meus pulsos, mas não me relaciono bem com dor ou sangue. Eu sei, é bastante estranho para alguém que trabalha em um hospital, mas não sou parte da equipe médica. Quando lido com pacientes, a maior parte deles está na recuperação e em breve serão liberados.

Naquela noite estava tão desesperado com minha situação, que estava deitado em minha cama, chorando. Pensei que estivesse sozinho em casa, porque meus pais tinham saído e meu irmão estava fora em um encontro com uma nova namorada. Acho que devia dizer que Todd era um atleta muito bonito e popular, que nunca precisava procurar por uma companhia do sexo feminino e nem por amigos do sexo masculino, também. Nunca houve um fim de semana à noite que ele não tivesse algo para fazer, ou algum lugar para ir. Ou era um encontro com uma menina ou saía com seus companheiros atletas fazendo seja o que for que faziam. Eu não tinha a mínima ideia do por que ele e eu éramos completamente opostos. Eu quase não tinha amigos, sendo o que poderia ser chamado um quase gênio. Era brilhante, tinha notas boas, mas não usava óculos de lentes grossas ou tinha um protetor de bolso cheio de canetas, mas mesmo assim não ia a lugar nenhum e não poderia namorar, porque não estava interessado em meninas e os únicos rapazes que conhecia, não eram o tipo de caras que estavam interessados em se envolver com alguém. Eles eram os verdadeiros gênios que usavam óculos grossos e tinham protetores de bolso.

Então, estava em casa sozinho com minha miséria, enquanto todo mundo tinha saído. Ou pelo menos achava, pois quando estava deitado lá chorando, de repente senti umas mãos fortes e quentes segurando meus ombros e me virando na cama. Olhei para cima e, por entre as lágrimas, vi Todd, olhando confuso para mim. Ele colocou seus braços ao meu redor e me atraiu para ele de forma que acabei chorando com meu rosto enterrado em seu peito musculoso. Segurou-me enquanto eu chorava, gentilmente acariciando minha cabeça e não dizendo nada até que finalmente parei de chorar e só descansei contra ele. Então finalmente falou.

"Tim, que diabo está acontecendo?"

Aos dezesseis anos, tinham se passado muitos anos desde que Todd chorara e tinha sido quase tanto tempo desde que me viu fazer aquilo.

"Nada." consegui murmurar.

"Irmão, não minta. Porra, você não é bom nisso. Agora, o que está errado?"

Eu não sabia o que dizer. Não queria mentir para Todd e nunca tive que fazê-lo antes. Nós não tivemos o tipo de relação que tinha ouvido falar, com tantos irmãos. Sempre estivemos próximos um do outro e não havia nenhuma rivalidade entre nós, e mesmo quando eu era o típico e desagradável irmãozinho, Todd nunca tinha ficado com raiva de mim. Acho que é porque ele sabia que, acima de tudo, olhava para ele como meu herói pessoal. Sempre amei e admirei meu irmão. Não havia um esporte que ele participasse que não estava sempre à margem ou nas arquibancadas aplaudindo-o. Era seu próprio líder de torcida pessoal e fã clube. Mas como lhe diria aquilo? A última coisa no mundo que podia suportar era ter Todd me odiando. Então gostaria de encontrar uma maneira de me matar, mesmo se tivesse que sair na frente de um ônibus para fazê-lo. E como ele poderia não me odiar? Eu me odiava e só podia imaginar o quanto ele o faria por eu ser gay. De alguma maneira, seria pior para ele, porque meu homossexualismo se refletiria nele e ele teria que lidar com as pessoas o insultando porque seu irmão era uma "bicha." Podia até levantar questões sobre sua orientação sexual, afinal, se seu irmão era "estranho" talvez ele também fosse. Então, eu estava completamente perdido sobre o que fazer. Dizer-lhe e arriscar seu ódio ou tentar mentir e rezar para que comprasse qualquer desculpa que possivelmente pudesse lhe apresentar por me encontrar daquele jeito, chorando como se minha vida estivesse terminada? Desesperadamente, estava tentando apresentar algum tipo de mentira plausível, quando Todd me chocou totalmente.

O VETERANOWhere stories live. Discover now