3ª Dose

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#FlocoDeNeve

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#FlocoDeNeve

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Ricos anseiam pela nossa pobreza, por ganância

Eles nos dizem para ter sonhos, embora ninguém os tenha

Eles usam esses sonhos como garantia

E injetam essa morfina que se chama "esperança" em nós

Quem se beneficia mais? Quem sofre mais?

Em um mundo doente, quem está bem é mutante

Strange - Agust D feat. RM

❄️❄️❄️

Seul, Coreia do Sul. 23 de setembro de 2023.

● Park Jimin ●

Apesar de Yerin entregar minha mochila no salão, não posso sair pela porta da frente, como Jeon Jungkook fez.

É que ele é cliente e eu sou só um garçom, um funcionário subalterno que precisa saber que lugar ocupa na sociedade. Por isso, volto ao corredor das instalações internas do prédio e vou ao vestiário. Troco meu uniforme por jeans escuros, botas e um suéter vermelho de lã. Jogo água no rosto, miro meu reflexo no espelho e passo o Lip Balm nos lábios ressecados. Isso acontece no outono, porque o ar fica mais seco quando as temperaturas começam a cair. Coloco a máscara no rosto e a boina sobre a cabeça, jogo a mochila no ombro e saio.

Cruzo os corredores e me despeço dos colegas que passam, com acenos. Desço os degraus para o acesso de funcionários, uma porta dos fundos. Dois cozinheiros saem antes de mim, se encolhem em seus casacos e correm para o estacionamento. Como não tenho carro, meu caminho é outro. E, no momento em que saio para percorrer o beco da lateral do prédio, até a entrada, onde Jeon me aguarda, descubro que o frio é pior do que pensei. O ar morno e confortável do ambiente controlado se transforma em uma noite fria e soturna.

Encolho-me, esfrego as palmas das mãos e me maldigo por não ter escolhido um casaco mais aconchegante, para me proteger. Olho ao redor. Os arranha-céus de Gangnam ostentam suas fachadas espelhadas e futuristas estendidas até lá no alto, escondendo parte do infinito de nuvens alaranjadas que cerram a escuridão e ocultam a lua. E, para além da modernidade que se vê três metros acima do chão, aqui embaixo a realidade é um pouco mais suja. Aqui é o lugar onde o futuro descarta seus dejetos pretéritos e obsoletos.

Os postes da iluminação pública criam intervalos de luz e penumbra, alumiando parte do asfalto lamacento no beco entre os prédios do quarteirão, por onde a brisa enregelada sopra, uiva e espirala do alto até o chão, e me chicoteia. Tremo e suspiro, criando uma nuvem de vapor condensado contra à luz em meu rosto coberto pela máscara. Desço da calçada e chego ao asfalto. Ando olhando para o chão, para me desviar das poças nos desníveis e dos gatos que se movem sorrateiros por entre os contêineres de lixo orgânico do restaurante.

Lítio ● jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora