2º Capítulo

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POV Claire

Minha proposta pode parecer a história mais sem cabimento do mundo. Por que uma renomada cirurgiã-chefe de um dos melhores hospitais da América do Norte faria isso com um aluno? Por que tirar o nome dele do seu maravilhoso projeto que, provavelmente, lhe tirou tantas noites de sono? Pois bem, permita que eu me explique, por favor.

Batalhei muito para chegar ao meu atual posto. Desde que meus pais faleceram, quando eu tinha cinco anos de idade, a falta deles dilacerava meu coração diariamente. Entrei em depressão profunda, mas, com a ajuda de meu tio Lamb (que se tornou meu tutor quando fiquei órfã), consegui reunir todas as forças que me restaram para me reerguer. E os estudos foram o escape perfeito para que meus dias se tornassem coloridos novamente. Metódicos, mas coloridos mesmo assim. Creio que, por essa razão, fui sempre a primeira da turma em todas as instituições em que passei. Tanto que Oxford me aceitou no curso de medicina quando ainda não tinha completado 16 anos. Foram anos difíceis, tive que me auto afirmar diariamente para ser aceita e respeitada durante os anos de formação acadêmica. E na residência não foi diferente. Estava tão farta de tudo aquilo que, assim que finalizei o curso e minha residência em neurologia, submeti meu currículo para diversas instituições nos Estados Unidos, ficar em Londres não era mais uma possibilidade para mim.

Boston me recebeu de braços abertos, seis anos atrás. Nem acreditei quando fui aceita nesse hospital-escola, um dos mais renomados no mundo, mas o diretor foi categórico quando afirmou que eles queriam ter em seu time só os melhores profissionais. E isso me deixou muito lisonjeada. Entrei como chefe adjunta da neurologia e, desde o primeiro dia, fui muito ativa em diversos projetos, além de realizar cirurgias neurológicas cada vez mais complexas e com resultados muito positivos. Minha ascensão foi meteórica como tudo em minha vida profissional até então e, assim que o Dr. Peterson recebeu sua merecida aposentadoria, o substituí como cirurgiã-chefe da minha área.

Posso ter sido bem aceita por meus chefes e colegas, mas o mesmo não aconteceu com os alunos que eu orientava. Por ser da mesma idade que eles, às vezes até mais nova, não era minimamente respeitada e tive que reutilizar uma arma que até então estava esquecida: voltar a ser a mulher arrogante que tinha sido durante meus anos em Oxford. Não sorrir era muito difícil para mim no começo, gostava de estimular os internos e residentes quando respondiam corretamente ou quando suas cirurgias tinham sido bem realizadas. Mas, depois de tanto tempo, comecei a me acostumar com aquilo e a construir um personagem cada vez mais maquiavélico. Novas turmas foram aparecendo e minha fama de excelente profissional tinha se espalhado como uma avalanche, assim como minha fama de ser uma filha da puta. Não me orgulhava disso, mas, de novo, a gente se acostuma com tudo na vida.

Estou explicando tudo isso e vocês talvez estejam pensando que eu queira enrolar todo mundo, mas só quis mostrar meu cenário do passado para contextualizar o atual. Eu estou ferrada. Meu visto de trabalho expirou há mais de um mês. Devido ao intenso trabalho dentro do hospital não consegui realizar novos projetos de pesquisa, um item essencial para renovar meu posto de trabalho e, assim, explicar sem problemas o motivo de continuar na América. Meus chefes tentaram me ajudar de diversas formas com a imigração, com ligações e cartas de recomendação reafirmando que eu trabalhava lá, mas não ter meu contrato renovado era o grande problema e, por ser um hospital privado, meus chefes não tinham como simplesmente renovar, se o dono tinha criado aquelas regras, elas seriam cumpridas de qualquer forma.

Quando assisti à apresentação do Jamie, quer dizer, do Fraser, a ideia dele era tão perfeita que tive a certeza que seria o projeto que faria com que eu conseguisse renovar meu contrato e, consequentemente, meu visto. Assim que ele terminou o avisei que precisava conversar em particular logo que as apresentações terminassem. Enquanto esperava que ele chegasse até minha sala para conversarmos, um nervosismo começou a tomar conta de mim, mas recoloquei minha máscara 'sem sentimentos' assim que ouvi uma batida em minha porta.

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