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Dante levantou após o soar do alarme às 7:00 da manhã, e resmungou seus costumeiros xingamentos por ter de acordar tão cedo em um domingo

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Dante levantou após o soar do alarme às 7:00 da manhã, e resmungou seus costumeiros xingamentos por ter de acordar tão cedo em um domingo. Era a sua vez de aparecer no trabalho durante o final de semana e ele não estava nem um pouco animado em fazer isso, depois do sábado extremamente cansativo que teve na fábrica. As escalas de trabalho eram organizadas de modo a nunca ficar um dia sequer sem ninguém trabalhando para o bom funcionamento da Corporação, e como o sábado e o domingo tinha menos gente no cronograma, quem ficava de plantão trabalhava dobrado com o serviço que não diminuía.

— Escaneamento de retina obrigatório, aproxime-se, por favor — disse a máquina com voz robótica, quando Dante chegou à fábrica para trabalhar.

Ele se aproximou da caixinha eletrônica presa na beirada da porta e encostou o olho direito arregalado no buraco que emitia uma luz vermelha. Como sempre, teve dificuldade para manter o olho aberto fitando aquele laser que o fazia lacrimejar e quase o cegava todas as vezes.

— Bem-vindo, senhor Dante Dickson. Tenha um bom dia de trabalho...

— ...cheio de produtividade pelo bem da humanidade — ele falou, sem paciência, junto com a voz robótica. Já tinha decorado de tanto ouvir.

O ano era 573 a. EV. (antes das Explosões Vulcânicas). Dante caminhou sem pressa, dando sua habitual olhada no horizonte cinza que dava para ver do pátio da fábrica. O céu era sempre nublado da fumaça que vez ou outra aparecia mais densa que o normal, quase colorindo a cidade inteira de preto e branco. Era como se a cor do mundo tivesse evaporado. Ele pôde ver ao longe o vulcão que aparecera décadas atrás, após um terremoto, surpreendendo todo mundo em Pickeri. A Corporação explicou que tudo ainda era consequência das explosões que haviam alterado demais o funcionamento do planeta. Nada mais funcionava como deveria.

O garoto gostava de olhar aquele vulcão todos os dias para se lembrar da história do seu povo sofrido, prometendo fazer por merecer estar vivo quando tantas outras bilhões de pessoas não tiveram essa oportunidade. Ele se considerava sortudo, mas lá no fundo não conseguia deixar de pensar se não teria muito menos problemas caso tivesse simplesmente morrido. Recusava-se a acreditar que estava fadado a viver uma vida cinza e monótona, como vinha fazendo há 21 anos. Na verdade, seu sonho era poder viver, e não apenas sobreviver.

Assim que entrou no galpão da fábrica, vestiu seu uniforme de trabalho, que consistia em um macacão grosso e emborrachado, capacete e luvas. Já tinha vindo com suas botas reforçadas e agradeceu pela máscara de plástico, que era usada como protocolo obrigatório. O cheiro emanando das caldeiras e a fumaça expelida dos fornos onde a comida era fabricada podia fazer qualquer um desmaiar em segundos, devido ao seu odor forte. Ele gostava de brincar que seu cérebro tinha um botão que ligava e desligava ao sair da fábrica, permitindo-o esquecer como tudo era feito. Esse era o único jeito de conseguir comer aquilo e não morrer de fome.

O dia passou lento e melancólico como de costume. Ninguém falava muito. Por mais que Dante tentasse puxar assunto, era como se as pessoas preferissem economizar a energia de falar, para trabalhar. Era só nisso que a sociedade pensava: trabalhar para sobreviver. Trabalhar para o bem da humanidade. Trabalhar para dar continuidade à raça humana.

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