Capítulo 4

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Ao chegar ao sítio, André entrou pela cozinha, como costumava fazer quando era criança para surpreender a proprietária. Ele encontrou Dalva tirando do forno um bolo de fubá. Ao ouvir a voz do recém-chegado, ela se virou em sua direção e se mostrou muito contente em vê-lo. Largando o bolo quente sobre a mesa de modo apressado, ela se voltou para ele e o abraçou.

— Andrezinho, meu menino! Como é bom te ver! Nossa! Como está diferente, um homenzarrão, muito bonito!

— Obrigado! Muito bom ver a senhora também! 

— Está cada vez mais parecido com sua mãe, os mesmos olhos espertos. — Dalva deu dois beijos estalados nas bochechas dele.

André enrubesceu diante de tão efusiva recepção.

— Obrigado, tia Dalva.

Quando criança costumava chamá-la de "tia", e ao estar perto dela, se sentia novamente a vontade para chamá-la assim.

— Chegou na hora certa! — Disse ela indicando a ele uma cadeira. Letícia deixou os dois a sós na cozinha se retirando silenciosamente. — Olha o que fiz pensando em você! — Mostrou o bolo que havia tirado do forno.

—Meu favorito! Lembro-me de comer esse bolo com geleia de banana.

— Pois aqui está a geleia fresquinha, fiz ontem à tarde. — Dalva colocou um pote de vidro com geleia de banana sobre a mesa. — Lembro-me de você bem pequeno, magrelinho, correndo pra cima e pra baixo, Parece que foi ontem...

— Fico feliz em vê-la tão animada e disposta, tia Dalva. Não mudou nada, parece que o tempo esqueceu de passar por aqui.

— Obrigada, filho! Suas palavras são gentis, mas o tempo é um cobrador zeloso que não deixa ninguém para trás. Diga-me, o que você faz da vida, rapaz? Estou há muito tempo sem notícias tuas.

— Sou investigador da polícia, mas vim aqui pra te ver e relaxar. Gostaria muito que a senhora fizesse o favor de não contar a ninguém minha profissão.

— Eita, menino, por que todo esse segredo?

— Nada demais, tia, só quero sossego. Além do mais, as pessoas agem diferente quando sabem que estão perto de um policial... Sempre que posso, procuro evitar o clima desnecessário.

— Fique tranquilo, da minha boca não saberão de nada! Anda, coma mais um pedacinho de bolo, você está muito magrinho. É mesmo muito bom ter você aqui! Tem umas mocinhas bem bonitas, solteiras, que você vai gostar de conhecer...

—Meu Deus, tia! — André riu alto com as palavras dela. — Eu vim pra ter sossego,  não começa a por fantasias nessa cabecinha!

Os dois conversaram sobre o passado e André devorou o bolo de fubá sem cerimônia. Sentia-se como um menino, como se sentia tempos atrás. Dalva sempre teve o dom de deixar as pessoas à vontade, sentindo-se bem recebidas.

Rafael entrou na cozinha.

— Olá! Estou sentido cheiro de café fresquinho desde o lado de fora. — Ele olhou para André e sorriu. — Opa! Vejo que temos um novo hóspede, Dona Dalva?

Ela fez as apresentações de praxe, depois serviu café aos dois. Rafael adorava café e aceitou com prazer, já André, que sempre detestou a bebida, tentou dizer que não gostava, mas não conseguiu se desvencilhar.

— Como assim não bebe café? Imagino que o café servido no Rio de Janeiro seja uma água suja, feito naquelas geringonças caras que tem que enfiar cápsulas e coisas do tipo! Tanta modernidade para uma bela porcaria! Prove o meu, você vai adorar! Toma aqui. — Ela entregou uma caneca para André. — Café de verdade! Bebe e me diz o que acha.

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