Ao chegar ao sítio, André entrou pela cozinha, como costumava fazer quando era criança para surpreender a proprietária. Ele encontrou Dalva tirando do forno um bolo de fubá. Ao ouvir a voz do recém-chegado, ela se virou em sua direção e se mostrou muito contente em vê-lo. Largando o bolo quente sobre a mesa de modo apressado, ela se voltou para ele e o abraçou.
— Andrezinho, meu menino! Como é bom te ver! Nossa! Como está diferente, um homenzarrão, muito bonito!
— Obrigado! Muito bom ver a senhora também!
— Está cada vez mais parecido com sua mãe, os mesmos olhos espertos. — Dalva deu dois beijos estalados nas bochechas dele.
André enrubesceu diante de tão efusiva recepção.
— Obrigado, tia Dalva.
Quando criança costumava chamá-la de "tia", e ao estar perto dela, se sentia novamente a vontade para chamá-la assim.
— Chegou na hora certa! — Disse ela indicando a ele uma cadeira. Letícia deixou os dois a sós na cozinha se retirando silenciosamente. — Olha o que fiz pensando em você! — Mostrou o bolo que havia tirado do forno.
—Meu favorito! Lembro-me de comer esse bolo com geleia de banana.
— Pois aqui está a geleia fresquinha, fiz ontem à tarde. — Dalva colocou um pote de vidro com geleia de banana sobre a mesa. — Lembro-me de você bem pequeno, magrelinho, correndo pra cima e pra baixo, Parece que foi ontem...
— Fico feliz em vê-la tão animada e disposta, tia Dalva. Não mudou nada, parece que o tempo esqueceu de passar por aqui.
— Obrigada, filho! Suas palavras são gentis, mas o tempo é um cobrador zeloso que não deixa ninguém para trás. Diga-me, o que você faz da vida, rapaz? Estou há muito tempo sem notícias tuas.
— Sou investigador da polícia, mas vim aqui pra te ver e relaxar. Gostaria muito que a senhora fizesse o favor de não contar a ninguém minha profissão.
— Eita, menino, por que todo esse segredo?
— Nada demais, tia, só quero sossego. Além do mais, as pessoas agem diferente quando sabem que estão perto de um policial... Sempre que posso, procuro evitar o clima desnecessário.
— Fique tranquilo, da minha boca não saberão de nada! Anda, coma mais um pedacinho de bolo, você está muito magrinho. É mesmo muito bom ter você aqui! Tem umas mocinhas bem bonitas, solteiras, que você vai gostar de conhecer...
—Meu Deus, tia! — André riu alto com as palavras dela. — Eu vim pra ter sossego, não começa a por fantasias nessa cabecinha!
Os dois conversaram sobre o passado e André devorou o bolo de fubá sem cerimônia. Sentia-se como um menino, como se sentia tempos atrás. Dalva sempre teve o dom de deixar as pessoas à vontade, sentindo-se bem recebidas.
Rafael entrou na cozinha.
— Olá! Estou sentido cheiro de café fresquinho desde o lado de fora. — Ele olhou para André e sorriu. — Opa! Vejo que temos um novo hóspede, Dona Dalva?
Ela fez as apresentações de praxe, depois serviu café aos dois. Rafael adorava café e aceitou com prazer, já André, que sempre detestou a bebida, tentou dizer que não gostava, mas não conseguiu se desvencilhar.
— Como assim não bebe café? Imagino que o café servido no Rio de Janeiro seja uma água suja, feito naquelas geringonças caras que tem que enfiar cápsulas e coisas do tipo! Tanta modernidade para uma bela porcaria! Prove o meu, você vai adorar! Toma aqui. — Ela entregou uma caneca para André. — Café de verdade! Bebe e me diz o que acha.
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Correntes da Ilusão
Mystery / ThrillerOs detetives André Gonçalves e Luis Oliveira se envolvem em uma investigação para capturar uma quadrilha de traficantes de drogas. Em uma operação na cidade do Rio de Janeiro, depois de meses de trabalho investigativo, eles se deparam com o local va...