[#1]Classic

6.2K 295 91
                                    

Bom, pra começar eu queria dizer que não costumo ser pontual para muitas coisas na minha vida... quase nada exceto minhas manhãs nada produtivas na praia. Meu hobby preferido inclui passar horas no mar em cima de uma prancha de um lado para o outro, mas não diria que a época em que vivemos seja muito propícia para isso. O ponto é: em plena penúltima década do século vinte, Samantha Muller acaba de se mudar para Los Angeles, Califórnia (de novo, mas isso é história para mais tarde) e ao que todos os meus devaneios indicam, esse será o melhor ano da minha vida

Outra coisa que você precisa saber sobre mim, eu não gosto de me gabar, mas acho que penso um pouco fora da caixinha, talvez eu até esteja errada, mas os estilos mais antiquados de vida são minimamente mais respeitosos com as mulheres do que os que estamos acostumados. Não sou muito delicada ou fácil de lidar, e é normal ouvir coisas do tipo: " você é muito grosseira" "seja mais feminina", ou "surfar não é coisa para garotas, nunca vai encontrar um marido", mas sinceramente, foda-se.

Enfim...

O som do despertador ecoou pelo pequeno quarto, o que geralmente não é motivo para felicidade, mas cá estamos nós no último dia antes do fim das férias de verão, com uma manhã ensolarada como nunca. Tateei a cabeceira minimamente cansada, torcendo para que em um futuro mais próximo criassem algo no qual poderíamos escolher o som... Ugh esse negócio é definitivamente irritante

Meu quarto se encontrava em um estado deplorável, as caixas e malas da mudança ainda estavam espalhadas pela casa repleta de objetos desorganizados tornando tudo uma completa bagunça, em uma pilha de roupas notei meu biquíni preto básico e os clássicos shorts cintura alta, e na outra uma roupa mais especifica para surfar, já que minha experiência com biquínis e mar não é uma das melhores. O relógio já marcava 6:20, o que me incentivou a caminhar mais rápido  em ansiedade

Antes de sair, escrevi um bilhete: "estarei na praia, beijos te amo xoxo Ass: Samantha" e usei o chiclete meio mastigado para o prender na geladeira. Nojento? Talvez um pouco. Dei de ombros, voltando ao meu caminho mais determinada do que nunca a sentir água salgada que me aguardava tão cedo

Sobre a minha família, meu pai é abertamente gay, ou melhor, ela nos largou quando descobriu sobre o meu pai e não nos falamos muito dês de então, resumidamente eu e meu pai moramos sozinhos, apesar de o fato de que ele trabalha com a polícia, e a maioria dos seus colegas de trabalho viram de certa forma da família, ou pelo menos era assim antes de nos mudarmos e consequentemente perder contato

Saí pela porta da frente com a minha prancha debaixo do braço prestes a andar algumas boas quadras até a orla. As casas pela vizinhança eram vagamente parecidas, muito bonitas aliás, com gramados, e algumas delas até possuíam bandeiras nacionais presas aos telhados. As pessoas não reparavam muito nos meus cabelos alaranjados como eu estava acostumada, aparentemente por aqui eu sou completamente comum

Analisei o sinal vermelho por instantes antes de focar completamente minha atenção no mar. Parando para pensar, as ondas me remetiam vagamente os filmes, mas eu imaginava a cor menos azul. É simplesmente perfeito

Eu estava completamente hipnotizada pela atmosfera contagiante do meu lugar favorito.

As pessoas ao meu redor me encaravam feio. Não sei se pelo fato da minha pessoa ser algo muito parecido com uma turista ou pela prancha, mas em todo caso ignorei

Finalmente o sinal de pedestres abriu, mas antes que eu pudesse sequer por o pé na faixa uma moto apareceu sabe se lá deus de onde, e freou bruscamente, quase carregando minha prancha consigo

Desvende a minha mente (e o meu coração) se puderWhere stories live. Discover now