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Não consigo deixar os olhos abertos por mais de um segundo, então volto a fechá-los e pisco pesadamente

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Não consigo deixar os olhos abertos por mais de um segundo, então volto a fechá-los e pisco pesadamente. Sinto um ardor atrás das pálpebras, e sonhos desconexos aparecem nos próximos segundos de luta contra o sono. Entre a vontade de voltar a dormir e a obrigação de levantar, sento ereta na cama. Assim, de uma vez, abruptamente. Esse é o único jeito de eu conseguir despertar. E um banho também. Não sou do tipo que acorda aos poucos, com pássaros cantando ao fundo e um despertador tocando de cinco em cinco minutos. Preciso de ação, de um ultimato, ou então durmo pelo resto do dia.

Uma música muito estranha começa a tocar no quarto, me fazendo xingar baixo com o susto. Quando me recupero, procuro a origem do som até encontrar um pequeno autofalante preso no teto, perto da porta. Não sei que merda é essa, mas é bem doentio. Parece uma cena de filme de terror ou coisa do tipo. Os idealizadores do programa precisam maneirar um pouco nessa dramatização.

Levanto da cama, enrolada no meu cobertor. Está frio pra caralho nessa droga de chalé, e não tem aquecedor. Por que teria? Não é como se eles estivessem se importando com o bem-estar dos participantes. Talvez seja até uma tática, nos fazer sofrer: quanto maior o desgaste emocional e físico, maiores são as chances de perdemos o limite. Tenho certeza de que se alguém me tirar do sério enquanto sinto tanto frio, por exemplo, serei expulsa do programa por agressão. E aí a audiência vai às alturas.

Dentro do banheiro, ligo o chuveiro e deixo a água quente fazer o papel de aquecedor. Sei que é uma merda e a água do mundo está acabando, mas estou presa na porra de um reality show com vinte das pessoas que mais odeio no mundo, então estou tomando a liberdade de ser um pouco egoísta. Sempre fui mesmo, e nunca liguei. Vivo com um cachorro em um apartamento de um quarto, então não é como se eu precisasse ser altruísta.

Nossa, estou pensando em muitos palavrões esta manhã. Preciso me controlar para não deixá-los escapar em voz alta. Seria infringir as regras, e quero ficar rica. Não posso perder tudo por causa da minha boca suja.

Café da manhã em dez minutos.

Merda de autofalante. Espero não estar perto dele no meu próximo acesso de raiva, porque eu certamente o arrancaria da parede sem pensar duas vezes. Odeio aquele apresentador sorridente, odeio a voz dele, odeio acordar cedo e odeio que esse maldito chuveiro seja dez vezes melhor que o da minha casa! Pelo menos um ponto positivo esse lugar ganhou.

Quando saio do meu chalé, totalmente vestida e tremendo de frio, vejo que está fazendo sol. A maioria dos meus colegas de turma já está no centro do gramado, na mesa de café da manhã, e eu tento me aproximar sem ser notada. Claro que é inútil, porque Bruno abre um enorme sorriso quando me vê. Ele dá bom dia, mas eu só resmungo alguma coisa que nem sei o que é antes de sentar com a cara fechada. A conversa fiada dessas pessoas me irrita mais do que o fato de eu ter acordado cedo demais. Sério, como alguém consegue falar tanto às seis da manhã? Eu não consigo nem raciocinar o que eles estão dizendo. Enquanto tento acordar, ainda quieta, as vozes se tornam um caos irritante de sons irreconhecíveis. É como estar presa em um quintal cheio de pássaros malucos.

Do Terceirão Para a VidaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora