The Descent - Alma Katsu (TRADUÇÃO - A DESCIDA)

QUATRO

Adair não fez nada enquanto eu falava. Ele manteve uma expressão neutra fixa em seu rosto enquanto ouvia, sentando com uma perna cruzando a outra, as mãos e os dedos indicadores entrelaçados. Ocasionalmente, ele batia os dedos indicadores juntos ou balançava o pé direito para cima e para baixo. Sua falta de resposta me deixou nervosa, e as possíveis razões passaram no fundo da minha mente: ele deve estar desapontado ao saber que eu vim por causa de Jonathan, não por ele. Ou talvez ele achasse que eu era tolo de presumir que os sonhos tivessem algum significado. Eu também me preocupava que, depois de lhe dar a razão para aparecer sem avisar na sua porta, minha audiência com ele terminaria. Ou pior, que a verdade poderia despertar o dragão adormecido que era seu temperamento violento, e essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.

Mas ele não parecia estar com raiva. Quando terminei de contar a ele sobre os pesadelos, minha voz diminuiu para um silêncio envergonhado e constrangido, então ele disse: "Ora, Lanore, estou surpreso que você deixaria algo assim incomodar você! Você mesmo disse: são sonhos, nada mais que isso ".

"Não tenho tanta certeza", respondi.

"Claro que são. E você sabe tão bem quanto eu que você está tendo esses pesadelos porque algo está incomodando você. Talvez haja algo em sua consciência? Algo em que você se sente culpada? "

Minhas bochechas aqueceram com o pensamento. A lista de coisas das quais eu era culpado era realmente muito longa. "Claro que tenho arrependimentos. Ainda sou só uma humana, afinal. "

Ele sabia que eu estava sendo evasiva. "O que eu quis dizer é: você se sente culpado por algo relacionado a Jonathan? Algo que também tem a ver com esse homem morto, o médico? "

E havia. Era um segredo vergonhoso que eu carregava no meu coração desde que Luke me ajudou a escapar de St. Andrew, há quatro anos atrás. Ele me contrabandeou pela polícia e me apoiou emocionalmente depois que eu dei a Jonathan a misericórdia que ele tanto queria.

Eu nunca superei a sensação de que eu usei Luke da maneira mais horrível, o encantando para me tornar uma fugitiva, a fim de me ajudar. Claro, ele queria fazer isso; não foi como se eu pudesse forçá-lo a fazer algo contra a sua vontade. Mas vi que ele era vulnerável: sua esposa o deixara pelo namorado de colégio e se mudara para longe com suas filhas e seus pais – razão de ele se mudar para aquela pequena cidade isolada, para cuidar deles - tinham acabado de morrer. Ele estava sozinho e morbidamente deprimido; qualquer um que olhasse para ele teria poderia ver.

Depois que ele me levou para fora da cidade e atravessou a fronteira com Canadá em segurança, eu deveria tê-lo mandado de volta. Eu sempre me perguntava se não teria sido melhor se eu tivesse dormido com ele enquanto ele dormia no motel. Ao acordar e ver que eu tinha ido, ele teria voltado para St. Andrew, envergonhado e ressentido por ter sido enganado, mas ele teria uma vida normal. Teria sido como liberar um animal de volta à natureza, em vez de tentar mantê-lo como animal de estimação.

Mas Luke não era o único sozinho: até Jonathan ter voltado à minha vida, ela estava vazia. O que a vida se tornou para mim, exceto uma série de relacionamentos, indo de um companheiro para o outro para manter a solidão longe? Quando o companheiro era jovem, a vida seria uma série de distrações de fogo, boates e jantares, brigas, lágrimas e reconciliações apaixonadas. E então, quando o companheiro ficou mais velho, se ainda estávamos juntos, a vida se transformava em noites tranquilas e palavras cruzadas e, no final, no hospital, sempre acabávamos no hospital. Mas eu me cansei disso. Minhas forças emocionais estavam esgotadas e no fim, acabei vivendo sozinha.

Então eu pensei - eu sinceramente pensei - que aqui estava uma chance de tentar novamente com Luke, um homem legal que se colocou no limite por mim. Ele provara ser confiável; por que não ficar com ele? Eu lhe devia minha lealdade - afinal, ele me salvou da prisão. Eu disse a mim mesma que não importava se eu não o amava. Ele também não me amava - como ele poderia quando ele mal me conhecia?