Minha Amiga

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O sol já despontava no céu azul, iluminando toda Konoha, fazendo os pássaros saírem de seus ninhos para saudarem o novo dia, mas na cabana mais afastada da vila, naquela clareira que os raios de sol invadiam por entre os galhos das árvores, para beijar as flores silvestres que ali cresciam; duas crianças dormiam serenas o sono dos justos, mas uma delas logo acordaria mais agitada que nunca. E bastou o canto dos pássaros, para fazê-lo abrir os olhos, estava eufórico e não conseguiria dormir mais, um sorriso gigante logo tomou conta do seu rosto rechonchudo, que ainda continha muitos traços do bebê que fora um dia; Naruto pensava em todos os anos que esteve sozinho ali, somente com Kurenai-san por companhia, todas as vezes que tentou se aproximar das crianças da vila, mas sempre sendo excluído e humilhado por essas, e tudo sem nunca entender o motivo. Ele só queria brincar, dizia suplicando, não era um menino mal, Kurenai-san garantira isso a ele muitas vezes, mas ainda assim era deixado de lado; com o tempo parara de tentar se aproximar, apenas os observava de longe, enquanto eles corriam e brincavam de pega, queria ser como eles, queria ter muitos amigos, amigos que quisessem brincar com ele sem chamá-lo de monstro, que ele nem sabia o que era direito, apenas entendeu, depois de ouvir que só chamavam a ele assim, deduziu que deveria ser alguma coisa ruim, e de fato era, já que Kurenai-san não quis lhe explicar o significado daquela palavra difícil, ela só garantiu que Naruto não o era.

Mas hoje seria um dia diferente, sabia que seria, hoje seria o primeiro dia com sua nova amiga e estava ansioso por brincar com ela, queria mostrar para a menina os seus poucos brinquedos, para que ela escolhesse o que lhe agradasse mais; Kurenai-san o ensinou a ser gentil com as pessoas, a ser hospitaleiro, e mesmo que não tivesse muito o que oferecer para a menina, faria o que estivesse ao seu alcance para ela ser sua amiga para sempre. Na noite passada, estava tão exultante de alegria, que não se importou nem um pouco de dividir sua cama com ela, Kurenai-san lhes dissera que seria até o vovô mandar uma cama para Hinata, mas ele não se importaria, deixaria ela dormir o quanto quisesse ali, só para que não fosse embora como todos faziam; assim a mulher os colocou na cama, depois de fazer um prato para a menina, que estava faminta por sinal, e cada um em uma ponta da cama, os dois pegaram no sono ao ouvir sua tutora contar uma história de contos. Agora Naruto estava impaciente, queria que sua amiga acordasse logo para poderem aproveitar o dia, mas esperaria, já que Kurenai-san se zangaria com ele por acordar a menina.

Kurenai se espantou ao entrar no quarto dos pequenos, e encontrar Naruto muito acordado, ele apertava as cobertas e demonstrava toda a sua impaciência, mas se mantinha quietinho na cama. Riu ao notar o desespero que seu pequeno menino estava sentindo, se bem o conhecia, ele queria muito brincar de todas as coisas que fora privado durante esses anos; a mulher se aproximou da cama com calma, passou a mão sobre os cabelos negros da menina e lhe fez um afago, a pobrezinha parecia estar tão cansada e abatida, estava fora do peso normal para sua idade e ainda tinha todos aqueles hematomas. Com todo aquele trauma, Kurenai até pensou que ela não falava mais, e se surpreendeu quando a ouviu desejar um singelo boa noite, foi então que percebeu que a menina não falava por receio, era nítido o medo em seus olhos tão belos; Hinata se retraia inteira a menor elevação de voz, mas o engraçado é que isso era apenas para os adultos, com Naruto ela se soltou um pouco mais, deu leves risadas e não se assustava com os súbitos surtos de alegria do garoto. Foi com uma grande dor no coração que notou que Hinata morria de medo dos adultos, e isso era suficiente para fazer Kurenai espumar de raiva, só de imaginar o quanto de maldade tinham feito àquela menina. 

Sentindo o carinho em seus cabelos, Hinata foi despertando, abriu lentamente seus grandes olhos e encontrou Kurenai a fitando, mas era de uma forma que a menina nunca fora fitada antes, era um olhar de carinho, de ternura. A pequena sentou seu corpinho na cama e esticou os bracinhos, viu sua tutora sorrir com seu gesto e se envergonhou por parecer tão a vontade, se seu pai a visse agora, com certeza seria repreendida ou talvez até castigada, por que a herdeira de um clã não devia se portar daquela forma tão desleixada, devia ser firme e séria o tempo todo para impor respeito; mas logo sua atenção foi desviada para a outra ponta da cama, onde encontrou um par de olhos muito azuis a fitando e um sorriso maior que o mundo, isso a acalmou, estava começando a se sentir em casa e queria passar o resto da vida ali. A menina, mesmo com seu raciocínio infantil, sabia que estava segura ali, sabia que nunca mais teria medo; a única hora que se sentiu triste naquela casa, foi quando acordou no meio da noite, sentia falta da sua mãe e isso a fez ter um pesadelo, acordou chorando e sentindo uma enorme saudade da mãe e ficou com muito mais medo quando viu o quarto escuro; foi então que ela ouviu o garotinho sentar na outra ponta e perguntar sonolento o que ela tinha, e como ela não respondia, prometeu que tudo ficaria bem, e como se fosse mágica, a menina conseguiu ficar calma e voltou a dormir, acreditando na promessa dele.

O Sol e A LuaWhere stories live. Discover now