Capítulo 3 jackson

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— Quinhentos dólares agora, quinhentos na semana que vem — falei secamente

para a mulher que não parava de pestanejar os cílios falsos para mim. Ela havia

se esforçado para me mostrar o decote, mas era inútil. Eu já tinha visto o que

havia por baixo daquela blusa, e não sobrara muita coisa para ela me mostrar.

— Mas... — Ela começou a falar, mas não prestei atenção. Nada do que ela

poderia dizer me interessaria. Nada em uma cidadezinha nos Estados Unidos

poderia me interessar.

Tudo em Chester, Georgia, era um pé no saco, e eu odiava estar preso ali.

Tudo era tão irritante, desde as fofocas de cidade pequena até as pessoas de

mente pequena. Elas agiam como se tivessem saído diretamente de um filme

clichê com personagens estereotipados de cidadãos fictícios, embora os

estereótipos decorram de fatos reais. Talvez Chester fosse o modelo usado para

aqueles filmes de merda. De qualquer maneira, eu odiava aquele lugar.

Não dava para dizer que o povo de Chester era ignorante em relação ao

mundo real fora dos limites da cidade, porque não eram. Eles sabiam o que

acontecia lá fora.

Eles sabiam que o país estava uma bagunça. Entendiam que a pobreza estava

varrendo nossa nação e tinham ouvido histórias sobre o tráfico de drogas. Eles

sabiam sobre incêndios florestais, massacres em escolas, marchas na capital e

protestos pela qualidade da água. Sabiam sobre nosso presidente, tanto o ex

quanto o atual. Sim, o povo de Chester, Georgia, sabia muito bem como o

mundo real funcionava, mas eles simplesmente preferiam conversar sobre a

razão de Louise Honey não ter ido ao estudo da Bíblia na quinta-feira à noite, e

por que Justine Homemaker estava cansada demais para fazer seus cupcakes

caseiros para a quermesse da igreja no sábado.

Eles amavam fofocar sobre merdas que não tinham a menor importância, e

esse era um dos motivos por que eu odiava morar aqui.

Com todo o ódio que eu sentia pela cidade, era bom saber que o sentimento

era mútuo. Os cidadãos de Chester me odiavam tanto quanto eu os desprezava

— talvez até mais.

Eu tinha ouvido as pessoas cochicharem sobre mim, mas não estava nem aí.

Eles me chamavam de cria do satã e aquilo havia me incomodado quando eu era

mais novo, mas quanto mais eu crescia, mais gostava daquilo. As pessoas

haviam fabricado um medo desnecessário de meu pai e de mim por quinze anos

ou mais. Eles nos chamavam de monstros e, depois de um tempo, nós

assumimos esse papel.

Nós éramos as ovelhas negras de Chester, e eu não me importava nem um

pouco com isso. Eu não poderia me importar menos com o fato de aquelas

vergonhaWhere stories live. Discover now