Capítulo 2.

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-- Acho que já cumprimentei a todos. -- Toni falou mantendo um falso sorriso no rosto.

O espartilho por debaixo de sua roupa lhe estava incomodando, já que tudo o que a mulher queria fazer era simplesmente ir para sua casa, para seu quarto, --- mais especificamente sua cama --- arrancar todas as suas roupas e se jogar ali. O sono a consumia por estar há dias sem ter uma noite de sono tranquila, já que os problemas não lhe davam sossego e, mesmo na penumbra da noite, seus pensamentos não a deixavam esquecer das questões a se resolver a respeito da cidade.

Seu vestido cor bordô com amarras soltas em seu decote, apesar de lindo, era bastante pesado, ajudando a mulher a se lembrar constantemente do quão exausta estava. As mangas e a saia de sua vestimenta eram bufantes e compridas. Verônica havia insistido para que ela levasse seu leque e seu chapéu com uma fita posta devidamente em um laço da mesma cor do vestido, com uma pequena pluma cor branca, porém Toni alegou que apenas as riquinhas egocêntricas e desesperadas por achar alguém é que faziam isso. Sem contar que isso atrairia uma leva considerável de homens e homem era tudo o que Toni menos queria em sua vida.

Seus cabelos apenas foram arrumados em cachos e ela se via bem satisfeita com isso.

-- Não está pensando em já ir embora, está? -- Verônica perguntou à sua amiga, quem bufou e encarou todas aquelas pessoas. Era uma festa comunitária, por isso todos, incluindo a classe baixa das redondezas, haviam sido convidados. Comemoravam a última vitória da cidade contra as tropas inimigas. Os vilarejos, apesar de não estarem protegidos pelas enormes fortalezas e paredes da cidade, também eram beneficiados, porque se as tropas inimigas alcançassem adentrar a cidade, consequentemente invadiriam e queimariam as casas dos povoados aos redores do lugar.

-- Não. Só vou dar uma volta às margens do rio que cerca a fortaleza, tudo bem? -- Perguntou e Verônica assentiu, achando válida a ideia de pelo menos Toni não ir embora. Assim que Toni virou as costas os olhos de Verônica encontraram os olhos cansados e aflitos de quem ela menos esperava ali. Ajeitou os seios discretamente e caminhou até o homem, adotando a expressão fria e séria.

-- Como se atreve a aparecer por aqui? -- Perguntou de forma arrogante, porém seu coração se destroçou ao ver a expressão de medo nos olhos do senhor de meia idade.

-- Eu... -- Ele tentou, mas nada saiu. Retirou seu chapéu de sua cabeça em forma de respeito à Verônica e o segurou com ambas as mãos em frente ao seu peito. Verônica suspirou e negou com a cabeça, sabendo que o único motivo de haver sido ríspida com o homem foi pelo fato de sua mulher ser uma arrogante, bruxa velha.

-- Sua esposa também veio? -- Ele apenas assentiu, abaixando seu olhar para seus pés.

-- Eu não tenho como pagar vocês, meu negócio faliu. -- Confessou em tom baixo. -- Estou trabalhando com plantação para outras pessoas, mas o pouco que ganho só dá para sustentar minha esposa e filha.

-- Olha, você não precisava ter fugido de nós, não somos más pessoas, tudo bem? Toni vai entender a sua situação se conversar com ela. Eu... -- Sua voz foi interrompida ao reparar a esposa do homem se aproximar.

-- Fiz ele vir porque achei uma solução para a nossa dívida. -- Ela disse em tom esnobe. Usava roupas finas e quem olhava para ela não poderia imaginar que estava à beira da ruína.

-- Que seria...? -- Verônica perguntou, voltando a estar na defensiva.

-- Mujer, não! -- O homem disse a olhando sério.

-- Todos sabemos o gosto peculiar de sua querida chefe. -- Ela disse encarando Verônica.

-- O que está insinuando? -- Verônica perguntou fechando suas mãos em punhos.

-- Oh, querida, não estou insinuando nada. Todos sabemos que Antoinette tende a se inclinar pela anatomia feminina. -- Ela disse sorrindo pretensiosamente. -- E está mais do que na hora de ela se casar. -- Falou abanando levemente seu leque antes de dar continuidade. -- Vou direto ao ponto.

-- Pense bem no que vai dizer, porque para fazer a senhora engolir esse leque não me levaria nem trinta segundos. -- Verônica falou e a mulher soltou uma risada tão gélida que arrepiou o corpo inteiro da mais nova.

-- Estamos do mesmo lado aqui, criança. -- Ela disse. -- Bem, como eu dizia, temos uma dívida com vocês; Antoinette precisa se casar; temos uma bela filha. -- O homem a olhou perplexo. -- Acho que não dá para ser mais clara do que isso.

-- Está insinuando que quer vender sua filha em troca de uma dívida? -- Verônica perguntou mais para si do que para a mulher.

-- Todos fazemos isso, a diferença é que Antoinette é uma mulher, não um homem, como de costume, mas sou bem prática, se não for para ela seria para outro qualquer mesmo. Antes sendo para a herdeira de todo o poder, hm?

-- Eu... Eu... -- Verônica achava um absurdo tal ideia, mas não poderia negar tal proposta sem antes falar com "Sua Alteza Ilustríssima", como costumava chamá-la em meio às suas brincadeiras. -- Falarei com ela e amanhã cedo passaremos pelo povoado para dar-lhes a tão esperada resposta. -- Informou. -- Nos vemos. -- Disse antes de se virar e sair dali a procura de Toni. No fundo ela sentiu pena pelo senhor, pois viu em seus olhos o desejo nítido de negar tal proposta, mas havia ficado claro, diante da última conversa, quem mandava na relação.

[...]

-- Por onde esteve? -- A voz de Penélope assustou Cheryl, quem engoliu em seco ante sua falta de criatividade para inventar alguma desculpa plausível.

-- Eu estava... é...

-- Estava com aquele plebeuzinho outra vez, não é? -- Perguntou irritada. -- De pobre já basta nós. Quando vai entender que seu pai faliu e que você precisa ajudar a família? -- Cheryl abaixou seu olhar sem dizer nada. -- Já falei que você precisa arrumar um marido rico, então trate de esquecer aquele verme.

-- Nunca. -- Cheryl não se conteve ao responder com irritação. Penélope suspirou, negando com a cabeça.

-- Filha, esse homem não é para você. Você merece coisa melhor. -- Disse mudando a tática de seu jogo. -- Quero que entenda que seu pai e eu é quem sempre torcemos para a sua felicidade. -- Disse, fingindo estar emocionada. -- Eu queria que você enxergasse que John não é um bom homem, mas como sei que está cega por essa paixonite sem fundamentos... -- Suspirou tentando não sair de seu papel. -- Posso provar que ele não é quem diz ser.

-- O que vai inventar, mamãe? -- Perguntou aborrecida.

-- Não é invenção, querida. Sou apenas eu tentando abrir seus olhos. Ele é... -- Ele hesitou, mas logo disse. -- John é casado. -- O chão de Cheryl pareceu desabar sobre seus pés.

-- Por que está... -- Sua voz vacilou ligeiramente. -- Por que está me dizendo isso?

-- Porque quero o seu bem e como sei que não acredita em mim faço questão de te apresentar alguém especial. Me siga. -- E com isso, sua mãe segurou sua mão e guiou uma Cheryl desnorteada pelo meio das pessoas.

Ela não queria acreditar, ela não podia acreditar que John, seu John, seu lindo e fiel namorado, havia lhe enganado todo esse tempo, mas sua mãe jamais mentiria algo de tamanha magnitude. Suspirou, temendo tudo que aconteceria nos próximos minutos. Só pediu internamente para que tudo isso não passasse de uma pegadinha de mau gosto. Precisava ser.

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Twitter: @cmilaspetsch

Over The Rainbow (Choni Version) [Concluída]Where stories live. Discover now