CAPÍTULO UM

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     Ele mentira. O rei e a rainha foram mortos muito tempo antes de ela chegar. Tudo fora uma mentira, todas as malditas palavras que o capitão disse. Lucius matara sua família e a deixara só. 

     As correntes a manteve presa por dias na prisão sob o palácio. Ninguém fora busca-la, não que isso importasse. Aquela altura, nada em sua vida importava mais... Tudo o que tinha, o que desejava se fora com sua família. Na verdade, gostava de ficar desacordada na maior parte do tempo, assim não pensaria no futuro incerto que a aguardava. 

     Seria rainha ou viveria o restante da vida como prisioneira? Sairia viva daquele lugar? Conseguiria governar um reino sozinha?

     Era certo que não importava qual fosse seu destino, passaria sozinha. Não havia mais Lianna para lhe fazer companhia nem sua mãe para corrigir seus modos, muito menos seu pai para cobrar suas obrigações. Fora treinada toda a sua vida para ser rainha, para ser uma rocha não importa o que aconteça, mas naquele momento se sentia tão fraca, vazia. Não passava de um corpo sem alma jogado ao chão todo ensanguentado, se o sangue era seu ou da irmã não sabia. Não importava mais. Nada importava mais.

     A jovem desafiava os guardas sempre que podia, queria que eles a castigasse, pois quem sabe assim pudesse sentir algo. Mas, quando o chicote rasgou suas costas e o sangue jorrou quente e grosso no chão, ainda permanecia naquele breu sem inicio ou fim, apenas solitário. Estava tão absorvida pelo vazio que nem mesmo emitiu som, a dor era apenas um sussurro oco no interior dela, sem forças.

     ― Não pare enquanto eu não ouvir o grito dessa pirralha ― disse o capitão longe. O guarda lançou o chicote mais uma vez. Cinco vezes. Dez vezes. Só os deuses sabiam como aquele burburinho estava gritando dentro dela agora, partindo sua alma. Mais um corte atravessou a coluna da jovem, perfurando tanto que o osso se revelou. Ela arquejou, a respiração pesada. ― Vamos, Genevieve, reaja!

     Ela rosnou em resposta, odiando cada parte de seu corpo por insistir em atender a vontade de Lucius. Ele tirara tudo dela, não permitiria que destruísse seu orgulho também, fora a única coisa que sobrou. Então apenas encarou o chão, deixando que o suor escorresse por sua testa, traçando um longo caminho até os lábios ressecados. 

     Como sentia sede...

     O capitão precisaria de muito mais do que algumas chicotadas para derruba-la. Não havia mais nada que pudesse ser tirado dela. As pessoas que mais amava já estavam se decompondo em algum lugar da masmorra, a jovem conseguia sentir o cheiro. Se tivesse sorte, em poucos dias estaria junto à família. Azalea se perguntava se Dianna, deusa da morte e da luz, a receberia de braços abertos. Mas a herdeira sabia que não teria essa sorte, nos olhos de Lucius estava estampado que o seu objetivo não era mata-la, mas enviar uma mensagem ao povo.

     Ele derrubara a realeza e não havia ninguém para reerguê-la. 

~

     Amim a aguardava no altar com um imenso sorriso no rosto. Se não estivesse tão dispersa teria ficado encantada com a beleza incomum que a encarava. Mas não sentia nada. Não queria se casar com o filho do homem que matou sua família, mesmo que tivesse a salvado daquela escuridão, mesmo que tivesse trancafiado o pai na masmorra no lugar mais solitário e escuro que existia. Os olhos verdes esmeralda ainda a lembrava das suas piores noites, onde passara jogada sobre a própria imundície, simplesmente não poderia passar sua vida o fitando sem se recordar da perversidade que vira em seu pai ao cortar o pescoço de Lianna. Embora soubesse que Amim não tivera culpa alguma, sabia que nunca poderia o ver como marido. Mas sua vontade não era prioridade, em breve ela estaria não só casada com ele como seria sua rainha, rainha de Waldeck. Era seu dever.

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⏰ Last updated: Sep 16, 2019 ⏰

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