Capítulo 13 - Xeque Mate da Rainha

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Luna encarou o novo convidado daquela reunião como se ele fosse um fantasma.

— Eu sei que você visitou meu túmulo no Templo Espiritual. Aquela data de morte é uma farsa, Luna. Meu nome não é Dominus. Me chamo Helber e sou um alba. E sempre fui leal a Rainha Caelis — confessou o antigo mestre de Luna.

— Você mentiu. Todos aqueles anos me treinando, me ensinando. Foi para que neste momento, eu escolhesse o caminho que vocês construíram para mim! — disse Luna, entredentes.

— A rainha Caelis percebeu a monstruosidade que os albas cometiam. Ela confessou a mim o plano dela. O sonho de consertar os erros da nossa raça — falou Helber.

O sonho de um monstro, pensou Luna.

— Eu forjei minha morte como um guerreiro alba dezoito anos atrás. Precisava me passar por um Hyacinthum e encontrar alguém forte o suficiente para guiar esse mundo. Precisávamos de alguém com a mente em formação, alguém que pudesse aprender desde criança a lutar, a fazer escolhas difíceis, a compreender como esse mundo funcionava — falou Helber.

— Necessitávamos de alguém como você, Luna. Um alguém para se tornar líder dos Hyacinthums, depois do plano ser executado — completou a rainha.

— Vocês mandaram aqueles sequestradores atacar o rei. Para que assim eu o salvasse — concluiu Luna. Ela transmitia sua ira em cada sílaba. — Você, rainha, manipulou o rei para que ele me presenteasse com O Passe, assim eu viria para Soberania, só para depois assassiná-lo. Tudo foi manipulado; vocês me usaram!

— Não! Nós a preparamos porque vimos coragem em você — disse Helber.

— Você era como uma pai para mim! — disse Luna, cuspindo as palavras como veneno. — Você me ensinou tudo, para que no fim eu fosse sua marionete!

— Acredite, Luna, eu pagarei um preço alto por isso — falou Helber.

— Vocês me transformaram num monstro — vociferou Luna.

— Somente monstros destroem monstros — falou a rainha. — Você precisava descobrir tudo. Fazer suas escolhas. Seu povo precisará de uma líder forte e destemida. Uma líder que os salvará antes mesmo de ser nomeada. Você, Luna, precisa fazer isso agora! Destrua A Máquina.

Paralisada, Luna encarou o aparato em sua mão. Mestre Dominus estava com os dedos na arma em sua cintura.

— Tem que ser sua decisão. — A voz da rainha, pela primeira vez, saiu embargada. — Pelo seu povo.

— Faça isso — começou mestre Dominus — pelo Puer, pelo Fratris e pela sua mãe.

Luna deixou as lágrimas descerem pelo rosto, enquanto a raiva queimava. Lá no fundo, ela queria fazer aquilo. Dentro dela, existia uma Luna, que não se importava com a morte dos albas inocentes, desde que sua raça vivesse. E foi essa Luna, essa nova Luna, que fixou o objeto de bronze n'A Máquina. Essa Luna acionou a alavanca do aparato.

Um estrondo ribombou pelo céu. Pássaros se agitaram no ar, piando como um mal agouro. O chão tremeu quando pequenos explosivos se espalharam por todo o sistema de tubos que conectavam A Máquina a cidade de Soberania. Ao longe, os gritos dos albas anunciava o fim de uma raça.

Luna sentiu como se tivesse morrido naquele momento. Naquele único instante.

Um disparo foi feito por Helber e Luna foi ao chão, sentindo o ferimento queimar. Por mais que ela tentasse se mexer, seu corpo não obedecia os comandos do seu sistema nervoso. A única coisa que ela não queria era morrer ali, naquele lugar horrível, numa cova coletiva de Hyacinthums.

A rainha caminhou lentamente, abaixando-se e olhando-a nos olhos. Aproveitou para retirar o dardo tranquilizante que estava cravado no pescoço de Luna.

— Obrigado pelo seu sacrifício, Luna — disse Caelis, colocando duas cartas no bolso da garota. Em seguida despediu-se, beijando-a na testa.

— Temos apenas dois minutos — disse Dominus. — Precisamos colocá-la na capsula! AGORA!

Helber ergueu Luna nos braços, murmurando palavras que ela não conseguia ouvir. Um ensinamento dele, de muito tempo atrás, voltou a mente dela: "Lembre-se, Luna, às vezes, a escolha mais heroica pode não ser a mais eficaz. Precisamos ser egoístas se quisermos sobreviver nesse mundo".

Em seguida, Soberania caiu. E tudo escureceu.

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