Cap. 5 _ Sobremesa

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Após pesquisar em alguns sites e pegar todas as informações de como criar uma loja virtual, de como poderia divulgar os produtos e principalmente de como poderia receber pelas vendas, foi a hora de colocar a mão na massa e criar minhas peças.

Comprei logo bastante peças plus size extremamente sem graças. Era incrível como os fabricantes achavam que mulheres gordas não gostavam de se sentirem sexys. Era como se fôssemos mulheres à parte na sociedade. Isso era lamentável. Éramos tão femininas quanto às outras e isso nunca era explorado. Porém na minha loja seria diferente. Eu decidi fazer peças para provar que não só existimos, como também somos gostosas pra caramba. Por isso comprei também lingeries completamente lisas para modificar. Comprei rendas, linhas de várias cores e uma máquina de costurar que minha mãe prometeu me ensinar a usar. Eu até queria comprar uma máquina para estampar tecidos, porém decidi ir com calma. Um passo de cada vez.

Durante as manhãs eu desenhava em um caderno o rascunho de como faria os modelos, e à noite minha mãe me ensinava a usar a máquina de costura. Eu nunca havia me sentido tão animada com algo em toda a minha vida.

— Uau! Que coisa mais linda esse vestido! — Minha mãe elogiou observando meu mais novo xodó personalizado, que eu estava experimentando.

— Acha que alguém vai querer comprar?

— Lógico que vai! Está perfeito e o melhor, foi feito com amor. — Ela elogiou apertando meu nariz.

Sorri feliz e mais motivada. Observei o montante que tinha, já dava para montar o meu próprio negócio. O friozinho na barriga da empolgação me atingiu em cheio.

— Agora deixa essa produção por um minuto aí que o jantar está pronto.

— Tá, eu já vou. — Falei cortando a linha que estava sobrando na costura e percebi que minha mãe ainda estava parada ao meu lado. A olhei intrigada.

— Venha logo! Temos visita.

— Visita? Quem? — Arqueei a sobrancelha e ela sorriu dando de ombros.

— Convidei o nosso novo vizinho para jantar. — Avisou me deixando alarmada e saindo do meu quarto.

Levantei rapidamente a seguindo pelo corredor.

— Mãe! Espera! Mãe! — Chamei e ela parou me olhando confusa. — Por que a senhora convidou ele?

— Ele me contou que está sem fogão ainda. Pobrezinho, está se entupindo de pizza. Isso não é nada saudável. — Respondeu voltando a caminhar e eu corri até ela.

— E a senhora o convida para nossa casa? Mal conhecemos ele. Pode até ser um serial killer.

— Serial de quê? — Ela franziu a testa e eu quase caí para trás quando vi Gael sorrindo atrás dela.

— Eu não sou um serial killer, Flor de Lis. — Ele rebateu me deixando sem jeito.

Forcei um sorriso e respirei fundo. Minha mãe permaneceu me olhando com a expressão nítida de quem não sabia o que era um serial killer.

— Desculpa, não quis te ofender. — Falei timidamente e ele assentiu ainda sorrindo.

— Tudo bem, eu te entendo. Hoje em dia não se pode confiar em qualquer pessoa mesmo. Mas como prova de que não sou um psicopata, trouxe torta de chocolate para a sobremesa.

— Que maravilha! Muito obrigada! — Minha mãe pegou a travessa e saiu quase saltitante para a cozinha. Ela era louca por chocolate. Tá, confesso, eu também.

O olhar de Gael voltou a me encontrar e eu notei certo divertimento em seu silêncio.

— Esse doce não te isenta de nada. — Brinquei e ele riu concordando com a cabeça. — Vamos logo jantar!

Minha mãe montou um verdadeiro banquete, o que indicava que o convite para a visita foi premeditado. Ah, dona Marilene, depois teríamos uma conversinha.

— Experimenta esse purê de mandioquinha! — Meu pai sugeriu já lotando o prato do rapaz de purê.

— Está uma delícia! — Gael deu o veredito e minha mãe sorriu satisfeita.

— Ah imagina! Fiz uma comida super simples.

Eu ri dela tentando ser modesta. Terminei de comer minha refeição e servi um pouco de torta antes deles terminarem de jantar, o que pareceu causar curiosidade no meu vizinho.

— Eu estou com pressa, preciso voltar para o meu trabalho. — Expliquei sua pergunta muda.

— Você trabalha com o quê?

— Personalizo roupas e irei montar uma loja virtual em breve.

— Que tipo de roupas? — Perguntou interessado e eu apontei para o vestido que estava usando.

— Roupas plus size.

Ele desceu o olhar pelo meu corpo e então encontrou meus olhos novamente.

— Bem interessante! — Replicou sorrindo. — Eu não sabia como interpretar aquilo exatamente, então resolvi levar como um elogio. — Vou indo então, não quero atrapalhar vocês.

— Não precisa, não está atrapalhando. Além do mais seria um crime você sair antes de experimentar a sua torta. — Falei e ele olhou para o doce parecendo ponderar.

Minha mãe rapidamente ofereceu um pratinho para ele que se serviu com o chocolate.

— Huuum! Fazia tanto tempo que eu não comia chocolate. — Confessou se deliciando a cada garfada.

— Vai me dizer que você faz regime? — Minha mãe questionou fazendo uma careta de nojo.

Eu acabei rindo, ela tinha pavor dessa palavra por conta das minhas antigas paranóias.

— Eu meio que era obrigado a fazer dieta, dona Marilene.

— Obrigado? — Perguntei intrigada e ele deu de ombros, levando outro pedaço à boca. Parecia uma criança se fartando de açúcar.

— Longa história. Um dia eu conto.

Pouco depois ele foi embora. Na minha casa trabalhávamos como uma cooperativa, enquanto meu pai lavava as vasilhas, eu secava e minha mãe guardava.

— Esse rapaz é muito bonito e simpático. — Minha mãe comentou aleatoriamente e eu coloquei o pano de prato no ombro.

— Espera! A senhora está fazendo o que eu acho que está fazendo? — Perguntei em tom acusatório e ela riu pegando a panela já seca das minhas mãos.

— Eu não estou fazendo nada. Só estou sendo uma boa vizinha. — Respondeu se fazendo de inocente e eu a olhei desconfiada. — Além do mais está mais do que na hora de você virar a página do Ítalo.

— Mãe! Eu não preciso de cupido.

— Eu falei que nossa menina não iria gostar. — Meu pai resmungou ensaboando os copos.

— Mas eu não fiz nada demais. Foi apenas um jantar.

— A senhora nem conhece ele, mãe. Como pôde chamá-lo do nada?

— Não é bem verdade. Eu conheço ele, na verdade conheço a tia dele. Lembra da Branca? A dona da casa onde ele está morando? Pois é, ela é tia dele, e me contou tudo. Parece que ele é trabalhador, bom caráter, além de...

— Então a senhora montou a ficha completa do rapaz?

— Mas é claro. Jamais iria colocar qualquer um dentro da nossa casa. — Revidou sensata. — Eu não nasci ontem, minha filha. Eu só convidei porque sabia que ele não era de procedência duvidosa.

Eu sorri balançando a cabeça. Minha mãe era terrível.

Quando Parei De Ligar  Where stories live. Discover now