𝒏𝒐 𝒎𝒐𝒓𝒆 𝒉𝒆𝒂𝒓𝒕 𝒃𝒓𝒆𝒂𝒌.

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LEIAM AS NOTAS FINAIS!

Escutem a música na mídia assim que começarem a ler.
Mercury - Sleeping At Last.

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New York, 23 de dezembro de 2026.

O céu tinha amanhecido extremamente nublado naquele dia. O clima natalino, o pisca-pisca e as bolinhas coloridas já se faziam presentes em todas as casas da vizinhança, nos comércios e até nos hospitais. Mas nada disso parecia bonito aos olhos de Millie. Estava tudo muito escuro para aquela época do ano, melancólico demais para um tempo tão feliz como o natal. Ela tentava se concentrar na montanha de papéis jogados em sua mesa, enquanto batia a caneta freneticamente no produto metálico e gelado, tanto quanto o corpo pálido que descansava sobre ele. Brown teve de ouvir diversos discursos de Finn e Gaten para ela não pegar Noah para autópsia. E, talvez, eles estivessem certos. O tranco do momento a deixava triste, cansada por algo que acontecia em seu interior.

Rows of houses.
Fileiras de casas.

A mulher tinha aprendido a se segurar em relação às emoções com os pacientes, tanto os vivos quanto mortos. Não tinha contato com a família, e na única vez que isso aconteceu, ela se viu sentada em uma das cadeiras no local, chorando mais que a própria mãe do menininho de doze anos que havia falecido por diversos tiros em sua caixa torácica. E desde o acontecido, prometeu a si mesma e exigiu aos seguranças do necrotério para não deixarem nenhum familiar entrar em seu horário de trabalho. Blindou a si mesma com várias barreiras de muros grossas o suficiente para não deixarem qualquer situação fazer com que saíssem.

Sound asleep.
Dormindo profundamente.

Precisou puxar a respiração do fundo de seus pulmões saudáveis e cheios de vida, antes de levantar-se da cadeira e ir de encontro ao corpo repousado na maca. A máscara de proteção já estava em seu nariz e boca, as luvas  ensangüentadas encontraram o lixo, e novas se fizeram presentes em suas mãos. Talvez tivesse sido melhor deixar com que Wyatt cuidasse de seu melhor amigo, assim como ele propôs algumas horas antes.

— Eu posso fazer isso, Mills. — Colocou as mãos nos ombros da mulher, que observava Noah deitado, com o lençol branco cobrindo até seu pescoço. — Vamos lá, você precisa descansar.

— Não, o plantão é meu. — Prendeu o cabelo em um coque, não deixando nem um fio solto, para que não houvesse nenhuma alteração no resultado da autópsia. — Deixa que eu faço.

Only street lights notice me.
Apenas as luzes das ruas me percebem.

O humor de Gaten definitivamente não era um dos melhores. Os dedos batucavam o copo grande de café que estava pousado na mesa de madeira da cafeteria rústica no meio da cidade pequena de Cape Cod. Estava precisando furar seu braço com uma agulha mais do que precisava de ar para sobreviver. Seus nervos quase explodiam, e sua mente era um turbilhão de pensamentos. O enterro do amigo loiro era no dia seguinte, e ele não sabia se poderia aguentar vê-lo pela última vez.

I am desperate.
Estou desesperado.

— Oi, eu queria um machiatto, por favor. — Uma voz feminina disse, e Matarazzo ouviu as unhas compridas batendo na mesa.

— Claro! Qual o seu nome? — O atendente respondeu, anotando o pedido no IPad branco e sorrindo para a mulher, quando a ouviu responder.

— Lizzy.

If nothing else.
Se nada além.

O barulho irritante da chaleira quase ensurdecia Finn, enquanto ele descia devagar os degraus que pareciam ser infinitos aos seus olhos naquele momento. Por mais que se esforçasse, não conseguia descê-las em menos de dois minutos. Antes, não durava vinte segundos. Sua respiração parecia engatar, a vontade de vomitar vinha no topo de sua garganta, e precisava urgentemente se segurar em qualquer coisa forte o suficiente para aguentar seu próprio peso.

𝒔𝒂𝒕𝒖𝒓𝒏 || 𝒇𝒊𝒍𝒍𝒊𝒆Where stories live. Discover now