capítulo 3

1.6K 67 1
                                    

- Onde você estava, Ainê? - Bruno perguntou pela terceira vez desde que eu chegara ao seu apartamento.

- Eu já disse que estava na casa do meu pai - fui sincera.

- Certeza? - dessa vez ele elevou o tom de voz.

- Meu Deus, você bebeu? - o olhei, indignada.

Ele coçou a nuca e respirou fundo, olhando nos meus olhos:

- E o que você tem a ver com isso?

- Eu te levei em uma clínica de reabilitação pra te ajudar a parar de beber e você pergunta o que eu tenho a ver com isso?

Ele veio até mim e segurou meu braço com força.

- Me solta agora - praticamente berrei.

- Não antes de falar com quem você estava - ele me puxou pelo braço até seu closet. Bruno prensou seu corpo contra o meu, me deixando sem saída.

- Seu nojento - cuspi as palavras em sua cara e ele desferiu um tapa em meu rosto.

- Repete - ele sussurrou.

- Você me bateu? - minha voz saiu fraca.

Essa foi uma das últimas lembranças que eu tive daquela noite, antes de ser salva pelo porteiro do prédio do meu ex namorado, que ouviu meus gritos e conseguiu me tirar de lá. Obviamente, nós nos separamos. Resolvi não envolver a polícia nisso, mesmo Carol, Larissa e Natália insistindo para que eu o fizesse.

Minha mãe sempre fora a única a apoiar minha volta com Bruno. Ela insistia que ele aprendeu com seu erro e estava pagando por isso. Às vezes, até encontro com ele em alguns lugares, como a praia, onde adoro ir. Deixei de acreditar que esses encontros eram coincidência há muito tempo...

Respirei fundo antes de a olhar nos olhos para responder sua pergunta:

- Não, mãe. Também não pretendo ter nenhum tipo de contato com ele - fui seca na resposta - será que a gente pode não falar disso?

- Mas, filha...

- Com licença - me levantei da mesa, sem nem mesmo ouvir o que ela tinha pra falar.

Dirigi-me ao meu quarto com passos largos, fechando a porta atrás de mim e respirando fundo, na tentativa de me acalmar. Eu sempre ficava nervosa quando lembrava desse assunto. Fiz uma promessa a mim mesma desde o ocorrido de que não ia deixar isso me abalar novamente e seguiria minha vida, por isso viajei para os Estados Unidos, na tentativa de esquecer o que eu havia sofrido. Mas ficava cada vez mais difícil com a minha mãe me lembrando dele a todo momento.

Livrei-me das minhas roupas e entrei embaixo do chuveiro, deixando a água quente colidir com meu corpo e espantar meus pensamentos por uns minutos.

Sai do banho depois de dez minutos e peguei um pijama qualquer no armário. Já vestida, sai do meu quarto para pegar um copo de água na cozinha.

Ao passar em frente ao quarto da minha mãe, ouvi a mesma falando no celular com alguém. Me aproximei da porta para ouvir melhor, tentando não fazer barulho para que ela não me ouvisse.

- Eu tentei convencê-la - a ouvi dizer.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, só ouvindo a pessoa do outro lado da linha falar.

- Ela nem me deixou falar alguma coisa - minha mãe continuou.

Era com ele que ela falava. Era com Bruno. Sem querer, encostei na parede com certa força. Nesse momento, minha mãe parou de falar no telefone e me dei conta da burrada que eu havia feito.

- Depois eu retorno a ligação - ela disse antes de desligar o telefone e vir até a porta, a abrindo rapidamente e olhando para mim, como se tivesse visto um fantasma.

- Com quem você estava falando? - perguntei sem delongas.

two hearts Where stories live. Discover now