Take Me Back To The Night We Met

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-Oi, Lucy, sou eu aqui de novo... Acabei de passar no seu condomínio e o segurança me informou que meu nome foi barrado na portaria. Bem, acho que é justo. – Suspiro com tristeza. – Já mandei várias mensagens e você não respondeu, então acredito que também vá ignorar esta, mas de qualquer jeito, eu só queria, mais uma vez, me desculpar. Fui uma idiota por muito tempo e sei que nenhuma declaração bonita vai reparar o dano mas... Eu sinto muito, de verdade. Mesmo não merecendo, espero que um dia queira voltar a ser minha amiga.

Encaro o teto do carro procurando em minha mente por uma nova desculpa ou qualquer argumento que pudesse amenizar a situação, e quando nada me vem, opto por encerrar a mensagem. É, acho que agora só resta dar tempo ao tempo. A colombiana não quer me ver nem pintada de ouro e é inegável que ela tem bons motivos para isso.

Dou partida no carro, decidindo ir para o meu próximo destino. Esse é oficialmente mais um, dos tão frequentes momentos, em que eu só queria que um meteoro atingisse minha cabeça. Qual é a droga do meu problema? Por que tenho essa necessidade louca de fazer merda e ferrar com tudo?

Sabe, é bem provável que Lucy tenha notado antes que eu andava cismada com a proximidade dela com a Lauren, mas na semana passada, depois do jeito que agi ao vê-las juntas no sofá, ficou mais que escancarado o que eu estava pensando. Mal tive tempo de me arrepender, pois, já na manhã seguinte, recebi uma ligação sua me xingando de todas as formas possíveis. Sua reação foi tão natural e indignada que, mesmo se eu quisesse continuar insistindo na loucura, não tinha como. Ouvi tudo o que ela tinha para dizer calada, me sentindo péssima como poucas vezes me senti na vida. É claro, o desprezo de alguém que você gosta dói muito, sobretudo quando você fez por onde merece-lo. E tudo só piorou depois que ela esfregou na minha cara que o jantar e a produção eram pra mim, e que só ficou lá em casa para tentar animar a Lauren depois que furei, assim como fez por diversas vezes.

De nada adianta isso agora, mas apesar da desconfiança, em nenhum momento cheguei sequer perto de me convencer 100% de que elas seriam capazes de fazer isso comigo. Era assim: eu via as duas fazendo algo que a Lauren e eu costumávamos fazer juntas, ficava cega de insegurança de estar perdendo meu lugar ao seu lado e só conseguia pensar no quanto estar com outra pessoa seria melhor para ela. Então, depois de esfriar a cabeça, me arrependia e ficava com remorso. A Lucy, de fato, é a pessoa com quem mais brigo, mas quase sempre por política, questões filosóficas e na hora da bebedeira. Tirando isso, estivemos juntas nos piores momentos uma da outra e ela sempre foi uma amiga fiel e verdadeira, que de modo algum merecia minha desconfiança. E tem a Lauren. Sim, eu morro de medo dela deixar de gostar de mim ou se apaixonar por outra pessoa, mas sei que essas são questões fora do controle dela. Agora, depois de tudo o que ela tem suportado para ficar comigo e conhecendo seu caráter como conheço, como cai nessa de sequer considerar que ela me trairia, por meses, dentro da nossa casa, com a minha melhor amiga? Cara, eu não entendo!

E eu nem posso reclamar de me foder. Tive todas as chances do mundo de colocar a cabeça no lugar e analisar a situação com clareza; sem contar que podia ter simplesmente perguntado, mas não, preferi ficar presa na minha bolha de insegurança e paranoia, sofrendo quieta e sendo refém do medo. A Lucy também fez dois questionamentos que não param de martelar nos meus pensamentos: era realmente necessário que ela fosse obrigada a falar que nada estava rolando para eu parar com a neura? Se ela não tivesse dito nada, eu cairia na real sozinha ou iria continuar vendo coisas? Acho que prefiro nem refletir sobre isso para evitar a vontade de me jogar de um prédio.

Tem outro ponto nessa história que também tenho evitado pensar no significado, que é o fato da Lauren ter se fingido de boba. Além de me conhecer como a palma da mão, minha namorada tem tato clinico para pegar coisas no ar, então fica obvio que ela notou o motivo do meu comportamento estupido e decidiu fingir que não percebeu nada. E olha, preciso reconhecer que não sei interpretar esse seu silêncio.

Tongue TiedOnde histórias criam vida. Descubra agora