Parte XXI - Levy

49 13 0
                                    

Sempre que aquele telefone tocava, más notícias viriam. Já era a terceira vez que aquele telefone tocava hoje. Nas outras duas, simplesmente ignorei tentando manter minha sanidade. Hoje eu sentia que precisava atender. Algo gritava que dessa vez, se eu não atendesse, me arrependeria.

Largo minha caneta, respiro fundo e vou até o telefone. O encaro por um tempo, seguro-o com força e tomo coragem para levá-lo até a orelha. Murmuro um "alô" apreensivo escuto uma mulher falando.

Carro. Estrada. Chuva. Derrapando. Pai. Mãe. Irmão. Hospital. Coma. Morte.

As palavras estão soltas no ar, nada faz muito sentido. Coloco o telefone no lugar e vou até minha cama ainda tentando assimilar as coisas. A chuva desta madrugada. Meus pais estavam indo viajar com meu irmão. Algo aconteceu e o carro derrapou na estrada molhada. Capotou algumas vezes. Meu irmão estava sem cinto, voou para fora do carro e morreu na hora. Meus pais foram socorridos, meu pai morreu no caminho. Mamãe chegou a ficar em coma por um tempo mas não resistiu também.

O primeiro telefonema era sobre o acidente. O segundo sobre o coma. Agora sobre a última morte.

A ficha cai e tomo ciência de que a partir desse momento, eu estava sozinho no mundo, sem nenhum suporte caso precisasse. Minha família agora era apenas eu, sem mais. Em um dia, perdi tudo de mais importante para mim, sem sequer ter ciência disso. As lágrimas começam a escorrer e não consigo controlá-las.

Não percebo quando ela se aproxima, mas sinto sua pequena mão tocando a minha. Talvez ela fosse a resposta. Talvez ela fosse o que eu precisava para seguir em frente naquele momento. Talvez ela tivesse voltado para minha vida, depois de tanto tempo, com esse propósito. Talvez tudo, no final, estivesse interligado.

Nesse momento, mais do que nunca, eu precisava me apoiar em alguém

Pequena YaniDonde viven las historias. Descúbrelo ahora