16 | Aquele em que Yoongi corre na chuva

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Após ajudar Taehyung a se sentar nos bancos de trás, Yoongi entrou no carro e desbundou no banco do motorista com um suspiro bem audível. Em seguida, Hoseok também entrou e fechou a porta sem delicadeza alguma, fazendo Yoongi soltar um pequeno gemido pela falta de consideração e cuidado que os dois tinham com a Del Rey velha. Ainda no estacionamento do hospital, Yoongi não havia dado a partida, e também não daria tão cedo — em verdade, sequer havia colocado a chave na ignição próxima ao volante.

Sentia que devia dizer alguma coisa, que devia fazer alguma coisa — assim como, horas atrás, deveria ter dito alguma coisa e deveria ter feito alguma coisa — mas não sabia, exatamente, o quê ou como. Queria saber como seus namorados se sentiam, mas no fim, suspeitava que ambos se sentiam assim como ele: aliviado, ainda preocupado, decepcionado. E estaria tudo bem para Yoongi se ambos seus namorados estivessem o culpando naquele exato momento, porque ele mesmo também o fazia. Desde o começo, todas as coisas que haviam dado errado na viagem eram culpa dele e de seu péssimo planejamento — até mesmo o caixote de Hoseok, a multa, Abigail morrer na estrada e agora, aquilo. E o pior de tudo era saber que se ele não estivesse tão distraído no momento do desastre, poderia ter evitado a dor de Taehyung. E começava a se preocupar com o quanto Taehyung estava se ferrando naquela viagem, por exemplo.

A verdade era que Yoongi nem imaginava como poderia começar a pedir desculpas.

Hoseok esticou o braço até ele e Yoongi se esquivou, mas o outro só queria pegar a chave, colocá-la na ignição e girá-la até meio ponto, para poder ligar o rádio — e assim o fez, começando a passar as músicas uma por uma. Levaria certo tempo até que Hoseok encontrasse alguma melodia que se adequasse àquela situação, Yoongi pensava, a não ser que ele fosse direto na playlist que continha alguma de suas — muitas — músicas tristes. E coincidentemente, ou não, foi exatamente o que ele fez.

A necessidade mais imediata — depois somente da urgência em conversar — era encontrarem algum lugar para passar a noite, mas estavam em Seul, a capital, e achar um hotel ou motel barato não seria difícil numa cidade tão grande e movimentada, ainda que tivessem de procurar nos locais mais afastados do grande centro urbano. Yoongi ainda não sabia o que dizer, não sabia se deveria sugerir que fossem logo embora dali ou o quê.

Olhou de relance para Taehyung pelo retrovisor. Ele também carregava a culpa no olhar, aquele sentimento pesava o ar dentro do carro tornando difícil de respirar ali dentro, como se fosse algo palpável ao invés de abstrato. E talvez fosse, mesmo: pura energia negativa, espessa, que os rodeava e sufocava. As pernas do mais novo, enfaixadas, estavam esticadas sobre o banco mas o próprio Taehyung, desta vez, não estava deitado e sim sentado de forma comportada, com o semblante triste e as costas apoiadas na porta do utilitário.

As queimaduras não haviam chegado à gravidade do terceiro grau, felizmente, apesar de assim parecer em alguns locais. Yoongi prestou muita atenção em todas as explicações do médico socorrista que atendeu Taehyung, sobre as queimaduras serem de segundo grau profundas e, embora se assemelhassem às de terceiro em aparência, e fossem relativamente mais graves do que as de segundo grau superficial, poderiam cicatrizar em algumas semanas, ainda que correndo o risco de deixar marcas na pele do ruivo.

Além de vigiar a alimentação de Taehyung para melhores chances de cicatrização, claro que Yoongi teria que passar em uma farmácia depois — e como ele já estava assumindo a responsabilidade pelo acidente, assumia também a responsabilidade de tudo, como deveria ter feito desde o começo —, para comprar as pomadas e o analgésico que Taehyung precisaria fazer uso por um tempo. E, pelos céus, como ficariam os pais dele quando soubessem, em especial seu pai preconceituoso? Ele com certeza odiaria Yoongi ainda mais, e de quebra Hoseok também, que nem tinha culpa. Estava pensando em todas essas coisas imediatas quando Hoseok interrompeu seus pensamentos ao falar, no banco ao lado, com a voz mais embargada do que Yoongi jamais o vira usar desde quando se conheceram:

Voyage à trois • {taeyoonseok}Where stories live. Discover now