Capítulo 3 - PARTE 2

60 12 118
                                    

 Um estampido silenciou todos os outros sons. Tom saiu da caminhonete segurando a espingarda que havia visto naquele mesmo dia. Randy agora apalpava o peito com a mão gigante, saía sangue e seus olhos e boca estavam abertos. Por um momento a face dele parecia com a que antecede um espirro.

— Você é tão idiota quanto um zumbi e eu já matei muitos deles — Disse Tom guardando a espingarda na caminhonete e correndo em direção à Justine.

— Eu estou bem, Tom — Disse ela e se levantou para ser amparada novamente pelos braços dele, então correram em direção à caminhonete. Tinha que estar pegando.

Os dois entraram na caminhonete e procuraram as chaves por todos os cantos; bancos, painel, porta-luvas e estava escuro, mas Tom com a visão restabelecida enxergou o fraco brilho das chaves no chão da caminhonete.

— É isso ai!

Ele colocou a chave na ignição e deu a partida, o motor da caminhonete começou a gorgolejar. Não era um som bom. Tom tentou e tentou, mas a caminhonete não pegava, devia estar parada há anos.

— Por favor! Deus nos ajude! — Justine no banco de carona olhava para todos os lados com as mãos tremendo de forma incontrolável. — Por favor, pega. — Tom girou a chave mais uma vez e nada. Nada. Nada. Então quando menos esperavam ouviram algo bater na janela. Os punhos de Randy. Havia se levantado como um zumbi de olhos esbugalhados e esmurrava o vidro da janela com as mãos poderosas.

Tom com as mãos também trêmulas largou a chave e fechou os punhos sobre a espingarda, mas Randy abriu a porta de uma vez e foi rápido o suficiente para impedir Tom de apontar a arma. Então com uma força sobre-humana agarrou Tom pela camisa ensanguentada e o jogou para fora da caminhonete junto da espingarda.

— Tom, não! Não! — Justine puxou o canivete do bolso e se arrastou desequilibrada pelo estofado furado dos bancos, passou por cima do câmbio e saiu da caminhonete.

Neste momento Tom estava sendo esmurrado repetidas vezes pelo irmão maior. Justine segurou forte o cabo do canivete. Então desferiu um golpe em direção às costas do agressor. Justine cravou a lâmina e Randy berrou para alto com o peito e as costas ensanguentadas.

Tom já desfigurado pelos socos, zonzo e com as lentes quebradas apalpou o chão a sua volta em busca da espingarda, mas seus dedos sentiam apenas a terra úmida.

Justine puxou o canivete das costas do brutamonte e fincou novamente a lâmina ouvindo outro berro. Randy se virou e agarrou Justine pelos ombros a levantando para o alto. Ele pressionou os ombros frágeis dela e a atirou em direção a caminhonete. Seu corpo bateu na lataria e ela gritou.

Randy ensandecido puxou o canivete das próprias costas e caminhou na direção de Justine que ainda recuperava o fôlego.

— Vô mata ocê! Vagabunda! — Os passos pisavam na grama em direção a Justine e a mão se fechava em torno da lâmina do canivete pronto para golpear, mas antes que pudesse chegar, outro som de tiro foi escutado e Randy caiu novamente. Saía fumaça da ponta da espingarda que Tom ainda deitado no chão segurava.

Justine se levantou sentindo a coluna doer e correu com dificuldade para Tom.

— Vem, Tom. Precisamos achar a trilha e dar o fora daqui. — Ela segurou a mão do amigo e o ajudou a se levantar.

— O velho deve estar por aí ainda. — disse ele levando a espingarda junto consigo para a mata.

A passos lentos e sofridos, os dois amigos tentavam correr o máximo que conseguiam para fora do vilarejo. Não demorou muito para avistarem a mata fechada na qual tinham percorrido para chegar até ali. Uma nuvem de arrependimento cobriu a cabeça de Justine, que se pudesse voltar no tempo, nunca teria feito esse caminho idiota.

Vilarejo Sangrento [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now