Capítulo 26

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Seu irmão parecia olhar um ponto fixo naquele céu e mar à sua frente, enquanto o vento frio, agradável, o ar puro e aquela vista tão única pareciam não ter efeitos nenhum nele e somente seu silêncio e sua retração para dentro de si anestesiasse todas as suas sensações em uma só direção.

Amanda havia pensado que a viagem para qualquer lugar distante, que não simulasse estar perto das coisas que ela sabia que talvez estivesse influenciando todo o aspecto fechado e triste do seu irmão, resolveria tudo o que ela observava, mas não.

Ele continuava assim.

As semanas depois do evento na mansão dos Grosvenor passaram tão lentas e trazendo às claras muitas coisas das quais suas suspeitas somente tomavam corpo e sentido em uma mesma proporção, ainda que se perguntasse se manter a linha de suspeitas fosse realmente necessário para descobrir o porquê de tudo o que estava acontecendo com seu irmão, quando ele parecia não saber esconder muito bem as coisas.

Bom, ele estava conseguindo esconder os fatos, só não o efeitos deles nele. E agradecia consideravelmente seu irmão não conseguir esconder as coisas que sentia, pois isso facilitava bastante sua observação e análise de tudo para poder ajudá-lo.

Não podia negar, estava extremamente difícil, ainda que já tivesse estado nas mesmas situações e encontrado uma maneira correta de entender seu irmão sem precisar dele para descobrir as coisas, mas ele estava tão fechado, triste, retraído, a todo momento se isolado como se estar sozinho fosse mais produtivo em sua vida que qualquer outra coisa. Sabia muito bem que seu irmão sempre havia prezado por seu espaço pessoal não ser invadido, muito menos sendo coordenado por coisas externas à ele, mas toda a situação despertava um certo grau de preocupação em Amanda, porque seu irmão não era daquele jeito.

Peter, com relação aos seus problemas, ainda que fossem bem mais complicados que qualquer um outro que pudera analisar, era sempre bastante forte, nunca vendo sua expressão mudar, seu jeito, seu aspecto, tudo nele parecia em contato com ele mesmo. Isso de qualquer forma agradava seu ser, pois seu irmão conseguia ser forte o suficiente para ser autossuficiente e não mudar por seus problemas ou qualquer coisa que estivesse diretamente relacionados à ele. Parecia ser tão fraca considerando seu irmão, que parecia engolir as lágrimas, sufocar seu coração e nunca deixar as emoções e coisas iguais e de mesma natureza influenciar seus dias. Ele conseguia ser tão impessoal com suas emoções que nada vindo dele parecia surpreender seu ser, suas atitudes eram admiráveis e bastante condizentes à todas as normas que havia adotado para dar poder ao seu nome e a tudo que representava.

No entanto, isso havia mudado.

A mudança estava assustando Amanda, porque não sabia o que havia sido responsável por aquilo, muito menos seu irmão facilitou as coisas expondo com clareza como sempre fazia. O silêncio rigoroso, as respostas tão curtas, os momentos juntos tão reduzidos, o cansaço descrito nele, sua retração com relação as pessoas e principalmente à sua retração para todas as emoções e características normais que dignava apresentar no seu dia a dia, como sorrir.

Não via Peter sorrir.

Seu rosto parecia trancado em um semblante pétreo que parecia suprimir qualquer manifestação emocional ou temporal vindo de dentro. Não era um pétreo que simulasse seriedade, muito menos uma raiva inerente e sim um semblante sem emoção alguma, ilegível, trancado, como se ele estivesse perdido lá dentro e nem ela mesma conseguiria encontrá-lo. Ele raramente se colocava assim, nem mesmo, quando criança, costumava fechar-se tanto diante de qualquer situação, como se estivesse sufocando sua dor ou estivesse sufocando algo bem mais pesado que uma simples dor.

Ver seu irmão daquele jeito conseguia despertar todo seu instinto materno que já era claro quando o assunto era Peter; um instinto desenvolvido desde que sua mãe havia falecido, que, naquele momento, despertava seu medo interno, seu medo de ver seu irmão sofrer sem saber o que estava acontecendo com ele para oferecer toda a sua ajuda necessária. Sabia que não se configurava como falta de coragem para perguntar; não era isso. Sabia muito bem de sua capacidade de invadir o espaço pessoal dele para conseguir suas informações mais relevantes era totalmente eficiente, mas naquela ocasião sabia que não era como devia proceder. Na verdade, ela não sabia como proceder ali, muito menos tinha competência suficiente para conversar com ele como realmente uma irmã que estava preocupada.

Apenas um Desejo Latente (Uncontrolled Guys Series Book 1)Where stories live. Discover now