Capítulo Vinte

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      Os cabelos de minha mãe perdiam o brilho, seu olhar a vida, e sua pele a cor. De repente, aquilo olhou para mim, e aí eu acordei. Não é minha mãe, eu quis que fosse, mas não é.
     
      — Eu... não posso voltar. Não posso voltar. Não posso voltar — aquilo sussurrava repetidas vezes, encarando meus olhos como se invadissem minha mente. Como isso aconteceu? O que me levou a parar aqui? Não faz sentido... — Quando o dragão rugir... — aquilo começou cantando em uma melodia suave. Essa melodia... — os feéricos vão ruir... Voe, voe, veroz dragão, encontre sua motivação... — por que não consigo me lembrar dessa música, mas sua melodia me é tão recorrente? — Doce menina que nasceu das chamas, seu poder é grande e emana...

      O que eu estou fazendo aqui? Q-qual meu objetivo? As coisas parecem nubladas...

       Vi lentamente aquilo se aproximar de mim, a cada passado sua pele parecia se desfazer em pó quando poeira caia de seu corpo. E então, aquilo tocou meu rosto. Não pude desviar, meu corpo não me obedecia. O que eu vim fazer aqui? O que é isso?
   
         — Eu te amo tanto... Não me deixa de novo, por favor... Minha que... — ele dizia suave, mas não conseguiu terminar, pois seu corpo se desfez em pó a minha frente. Assustada com a imagem de minha mãe, ou algo parecido com ela, assim, fechei meus olhos com força. O que está acontecendo? Ouvi um barulho de respiração próximo a mim, então logo me apressei a abrir meus olhos. Me assustei com a imagem do Elfo-estelar Vy, que competia em nome de Strix, a minha frente. Analisando toda a situação eu estava deitada em seu colo. Mas o que...

        — Você estava alucinando. Tem algo de errado com as criaturas desse labirinto, fique atenta — ele era direto em tudo que falava enquanto me ajudava a levantar.

         — Por que me ajudou? — Perguntei olhando para seus olhos dourados, mas tinha certa dificuldade devido aos seus dois metros de altura.

         Ele não me respondeu, somente me encarou por exatos vinte segundos e então se virou, indo embora. Sem mais, nem menos. Me deixando somente com as minhas dúvidas para trás. Ia voltar a correr pelo labirinto, quando notei o estado do meu corpo: meus braços e pernas estavam lotados de cortes de diversas profundidades e tamanhos, e embora nenhum fosse minimamente mortal, saia uma quantidade considerável de sangue. Ardiam também, porém a dor era completamente irrelevante e suportável. Que porra aconteceu? Resolvi ignorar esses vis ferimentos e voltei a correr pelo labirinto com um ritmo um pouco menor. Achar o espelho. Repetia isso em minha mente, temendo esquecer novamente minha missão dentro desse labirinto. Não voltei a cruzar com aracnotitãs ou Okias; contudo, parecia que tudo a minha volta mudava, quase como se eu estivesse saindo de um ambiente para outro, e logo me vi cercadas de muros de vinhas espinhentas e, aparentemente, gigantes.

          Minha cabeça ainda está um pouco confusa e dói, mas meus objetivos ficam cada vez mais claros na minha mente outra vez. Alguma coisa está errada com esse lugar... Vejo um vulto esverdeado passar em alta velocidade ao meu lado e automaticamente me viro em sua direção; entretanto me deparo somente com mais e mais vinhas que agora de espalhavam não só pelo muro, mas também pelo chão. Foi coisa da minha cabeça? Essa hipótese muda ao ver o vulto passar novamente, só que dessa vez na direção que outrora eu seguia, ao olhar para o local eu encontro uma tenebrosa ninfa. Ninfas são criaturas que existem a partir de algum elemento da natureza, ironicamente elas só se dão bem com os magos, que também tem magia elemental correndo pelas veias. Os cabelos dessa em específico são formados por longas vinhas que se misturavam com as que cobriam o chão, sua pele igual a madeira bruta e estranhos olhos brancos. Ela me encara aparentemente com raiva, possivelmente por eu ter invadido seu espaço pessoal nesse labirinto, mas não me deixo intimidar pela criatura e a encaro de volta firmemente; ela não parece contente com minha afronta, pois faz com que diversas vinhas espinhentas comecem a me atacar, em minha defesa eu utilizo da minha magia para criar uma cúpula ao meu redor, cortando as vinhas abaixo de meus pés e me isolando da ninfa, que batia com raiva em minha defesa. Revirei meus olhos diante uma atitude tão animalesca vinda de uma criatura com consciência. Sem muito esforço crio um espinho gigante abaixo da ninfa na intenção de a empalar, porém ela usa de suas vinhas para se afastar pelo ar, se escondendo por fim. Para economizar minhas energias, que aparentemente foram boa parte drenada enquanto eu estava inconsciente, desativo minha proteção e sigo em frente.

      Após vinte e sete minutos andando, as vinhas iam diminuindo no percurso, até os muros voltarem a ser puramente madeira. E com mais trinta minutos de caminhada, encontrando com diversas criaturas em meu percurso, eu cheguei a uma parte interessante do labirinto. A minha frente um lindo altar prateado se formava, e no meio dele eu pude ver o pequeno espelho que tanto procurei nesse maldito lugar, só espero ter achado o meu, caso contrário será muito decepcionante. Porém, me atento a um fato, ele está em um local de fácil alcance, sem nada para me impedir de pegá-lo... Uma armadilha. Vasculho com meu olhar todo o altar e as coisas a sua volta, nada aparente; contudo, não posso arriscar... Boom! Me assusto com o grande barulho de explosão a minha esquerda junto a grande poeira que subiu, alguém não muito longe de mim provavelmente está morto, depois de uma explosão dessas... enfim, retorno minha atenção ao altar e por um acaso me passa pela cabeça que esse pode ser justamente a armadilha, uma explosão capaz de matar que cometesse um erro. Sem muitas opções, resolvo utilizar de uma tática arriscada, pois é uma manipulação mágica que exige absoluta concentração de seu usuário... Fecho meus olhos meditando por um segundo, deixando minha magia fluir livremente pelo meu corpo antes de começar, e então, por fim, um passo no ar. E outro, e outro, minha energia formava pequenas plataformas abaixo de mim para que eu pudesse chegar ao altar sem pisar no chão ou em algo que pode ocasionar a ativação da possível armadilha. Sinto uma gota pequena de suor descer por minha testa, já que um pequeno erro de manipulação e eu iria cair, e embora eu não estivesse em uma altura mortal, tudo tem um risco. Após alguns passos, me vejo perto o suficiente do espelho para conseguir ma abaixar e me esticar para pegar ela, logo conseguindo. Por um segundo prendi minha respiração, esperando a ativação de algo, mas nada. Um suspiro de alívio. Começo a reparar no espelho em minha mão, quando vejo em seu interior o nome Katrina ser formado por uma letra verde cintilante, era muito linda, perfeitamente curvada. Me concentrando, começo a andar lentamente para longe do altar com o pequeno espelho em minha mão. Quando eu já estou a uns vinte e cinco metros do altar, pulo da pequena plataforma em direção ao chão em um pouso perfeito. Consegui, Ai. Eu consegui. Agora preciso voltar para o lugar onde eu entrei, o que não seria um desafio devido a minha memória fotográfica. Sem muita pressa mas também não muito devagar, refiz todo meu caminho em direção a saída desse maldito labirinto. Será que algum competidor já saiu? Por que aquele garoto de Strix me ajudou? Como o Yuuhi está? Tenho tanta coisa pra descobrir e resolver, me dá náuseas só de pensar. Enquanto me perdia em meus pensamentos, logo pude ver a luz da entrada do labirinto brilhar para mim, então acelerei o passo, saindo daquele lugar desprezível. Tudo sucessivamente foi estressante, pois assim que pisei na entrada do labirinto grandes uivos em êxtase foram ouvidos da plateia, e em meio aquela multidão pude ver Aidan quase pular das arquibancadas em minha direção, mas foi impedido por Arey e Kol, que temeram que o garoto se machucasse. Peter também solta grandes comemorações em meio a plateia. Kal e Serafin também comemoravam a minha volta, só que mais contidos. Olho em direção ao placar, e pude ver que cheguei em segundo lugar, e em primeiro o nome Vy brilhava em dourado. Interessante.

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