Capítulo 1 Delírios do profeta na carta para o boi dormir

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1 - O boi piou naqueles dias. O carro acelerou, grande velocidade,

bateu contra nada. Uma lagarta rastejou sobre a terra até encontrar a

horta verdejante. Decidiu comer todas as folhas. Começaria pela

primeira que avistou não fosse o grito da coruja. Vaidosa ela começou

a mudar de cores. Arrancou a penas vermelhas e usou um manto

marrom. Naqueles dias o boi piou sobre a terra. E o profeta disse: as

coisas se renovarão.

2 - Cansado de ficar inerte, o elefante decidiu dar um pequeno passo

para a humanidade e, sem querer, pisou no formigueiro. Do ponto de

vista das formigas foi uma tragédia de grandes proporções. Foi como se

uma nave gigantesca caísse sobre o solo aprofundando-se e

destruindo tudo. Naqueles dias o boi piou menos sobre a terra.

3 - Estava tudo espalhado, partes, partículas, partituras, tudo partido.

Eram pedaços de alguma coisa querendo se juntar novamente. Jamais

em universo algum houve tanta necessidade, tanta velocidade, tanta

ênfase! Seria absurdo se não fosse lógico!

4 - Então aconteceu. Roubaram tudo, a nave espacial, o bolo de fubá.

O carro voou longe e o galo cacarejou. Naqueles dias o sol ficava mais

tempo sobre a terra. Houve couve, mas acabou. Comeram tudo, desde

o tubo até o duto. As pastas alimentícias ficaram em falta.

Documentos? Não ficou pasta sobre pasta.

5 - O cavalo escoiceou, a bananeira caiu e a macacada fugiu. Naquele

tempo o boi piou novamente sobre a terra. Era época de esquecimento

e fantasia. Época em que nem diferença fazia.

6 - Houve um tempo em que as chuvas eram escassas. Rios secaram e

cobras rastejavam sobre a terra. Choveu, o homem ficou tão feliz como

um bebê se lambuzando com mingau! E surgiu a lama. A carruagem de

fogo que pousava escorregou. Bateu num barranco. Naquela região

nem tinha boi.

7 - Mas um dia teve uma traficante de drogas, tipo uma feiticeira, que

vendia produtos da terra, das plantas, para aliviar dores, acalmar seres.

Tão parecida como céu, era a situação em que ela "deixava" as

pessoas, que a chamavam de Celeste.

8 - Os meninos que um dia chegaram naquela terra aprenderam a

defender Karina, a carruagem de fogo que os transportou. Com o

passar dos tempos tornaram-se os lendários Defensores de Karina. Eles

viram quando animais se espalharam pelo mundo.

Cada menino tinha um animal como padrinho. Um deles era afilhado

do boi. Jumério, por sua vez, era afilhado do jumento e gostava de

exibir sua espada, mesmo em tempos de paz.

O boi piouWhere stories live. Discover now