Mete o pé, parça, mete o pé!!!

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O quartel está de guarda (vigia constante, na moita; quem é quem nessa porra?), e os homi não estão de brincadeira; é tiro no coco e notícia no jornal. E o garoto da quebrada já nasce com uma mira no peito, e essa semana foi mais 3, o sangue escorre na rua da Grota, em Borel e na Maré, maluco! Mas quem é que está contando?
Ei, ouve essa então:
"Uma criança que eu peguei no colo quando nasceu e peguei no colo quando morreu", ele diz, e é mais uma vítima que chora, porque essa porra mano, parece até vírus, paporeto.
A violência está sem controle, e o sonho morre cedo. O ódio consome, tá ligado?, mas a dor de quem perde, inibe todo resto; só resta a voz para gritar por justiça; mas quem é essa?, ninguém vê, partiu sem passagem de volta.
E o medo, ele fica de bonde, não há sossego na alma dos cria. A 38 na cintura não é pra crime, vê se entende, é pra sobrevivência, porque os homi tão de afronta, chegam no calado, fazendo guerra, e nem criança se salva da covardia desses verme.
E lá se foi mais um, e amanhã o trauma será de outra família. E ninguém faz nada, e o morro se torna zona de guerra. É tiro pra todo lado, e o morador que corre, mal sabe que as bala já o tem como alvo.
"Os cara vão morrer na rua igual barata, pô...", diz o chefe no alto trono em Brasília, dando corda pra essa palhaçada, achando está fazendo o certo, tirando a culpa de quem está com o dedo no gatilho. E os homi não querem saber quem é que ta levando chumbo; o dedo coça, mermão.
Mas quem é que ta morrendo? Ele diz que são os cara. Aé, to ligado; são os cara, realmente. O cara trabalhador, o cara pai de família, o cara com 15 anos de idade com sonho de ser jogador. Cada dia um azarado diferente, e o caos nunca esteve pior.
E quando é que isso vai mudar? O morador já se cansou da covardia; o massacre precisa parar, tá ligado?! A vida de quem tá no morro também tem valor; isso aqui não é estande de tiro, porra, se liga!

Dicotomia do SerWhere stories live. Discover now