O homem da montanha

CAPÍTULO 1 - Alfonso

O sol brilha através das altas árvores de Whitefish, Montana, e não posso deixar de pensar em como essa cidade é muito melhor durante o verão em comparação com o inverno. Não me entenda mal, gosto tanto da neve quanto do verão, mas não suporto a enxurrada de turistas que tomam conta dos meses de verão. Mas neste dia lindo e quente, não há ninguém nas montanhas além de mim.

Ninguém mais está aqui porque precisaria de tração nas 4 rodas para atravessar as estradas de terra. Durante o inverno, eu vejo alguns esquiadores de cross-country, mas isso é muito bonito. Eu construí minha cabana na montanha pelas vistas e o lugar pacífico.

O motor da minha caminhonete ruge e uma enorme nuvem do escape sopra na traseira como a respiração de um dragão cuspidor de fogo. Eu tenho que admitir que gosto de fazer a minha presença conhecida, independentemente de ninguém estar por perto. Isso assusta o cervo, o que me impede de bater em um. Não é algo que eu queira lidar aqui em cima.

Vou para a cidade neste dia perfeito, mas não porque quero.

Algumas árvores caíram durante a última tempestade de verão pesada e quando eu estava limpando a encosta, a minha motosserra quebrou. Depois de tentar consertá-la, percebi que precisava de uma nova corrente. Fiquei imediatamente irritado porque agora tenho que ir até a loja para comprar as peças. Passei a manhã inteira tentando cortar as árvores caídas em blocos menores de lenha para o inverno. Considerando que não tenho o que preciso para terminar o trabalho, sou forçado a fazer uma viagem especial ao Jack's Hardware na cidade. Agora eu tenho que encarar a civilização, o que eu não gosto de fazer frequentemente, especialmente quando o trabalho precisa ser feito.

Com as janelas abaixadas, eu ligo a música enquanto meu labrador preto, Shark1, enfia a cabeça para fora da janela. Quando eu olho para ele, vejo sua língua feliz saindo de sua boca. Eu o tenho desde que eu tinha dezoito anos, o que faz disso uma sólida amizade de dez anos de companheirismo viril. Eu amo muito esse cachorro, e não consigo colocar em palavras o quanto ele significa para mim. Ele é muito mais social do que eu e está muito animado para ir à cidade. Eu queria que um pouco de sua felicidade fosse parar em mim.

—Você sabe que você está recebendo um tratamento, não sabe? — Shark balança o rabo em antecipação. Toda vez que vamos na cidade, eu pego um biscoito da Victoria's, uma padaria que faz bolos para cães. Eu costumo pegar um bolinho de mirtilo para mim porque são do tamanho da minha cabeça, mas mal satisfaz minha fome. Depois de trabalhar esta manhã, estou morrendo de fome e apenas um muffin não será suficiente. Tudo o que eu tinha eram alguns pedaços de bacon esta manhã, e eu já me sinto tonto desde que faz horas desde que eu comi pela última vez.

Ao longo dos anos de viver uma vida isolada nas montanhas e trabalhar na terra, eu cresci significativamente desde que deixei minha cidade natal. Entre os músculos, barba e cabelo desgrenhado, eu me tornei um homem da montanha. Se minha mãe me visse agora, ela não me reconheceria e definitivamente não aprovaria. Eu não sou mais a criança-propaganda da Abercrombie & Fitch2  que ela conheceu.

Eu viro à direita na bifurcação na estrada e sigo a rota ao longo do riacho. A floresta ao longo da estrada é interminável, e quando neva, muitas das trilhas da estrada são onde os turistas esquiam no inverno. A cidade está cheia de gente no verão também. Caminhantes, campistas e até mesmo ciclistas de montanha vêm visitar Whitefish. Ao longo da estrada, corre um rio pequeno que é vigoroso, e eu ocasionalmente vejo pessoas nadando também. Há um pescador aqui e ali, e só o pensamento me faz desejar estar sentado ao longo do rio e pegar um peixe fresco. Adoro manipular minha refeição do começo ao fim; da captura para a limpeza, cozinhar e depois comer.

Meu pai me ensinou a pescar quando eu era criança, o que é surpreendente, considerando que ele estava sempre ocupado gerenciando fundos de cobertura3. Mas houve muitas vezes em que ele me levou para o Lago Michigan. Foi uma das únicas vezes que eu deixei a nossa cobertura de Chicago.

Sem prestar atenção, bato na estrada, fazendo Shark voar. Eu solto uma risada e me vejo perguntando se ele está bem quando ele quase bate a cabeça peluda no teto do meu carro. Eu tenho que rir porque Shark olha para mim com sua grande língua pendurada para fora da boca, quase sorrindo. Ele vive para esse tipo de aventura. Inclinando-me, acaricio sua cabeça e lhe digo como ele é um bom menino.

Eu corro pela estrada, sujeira e poeira voando ao nosso redor, sabendo que logo estaremos descendo a encosta da montanha e na estrada asfaltada que leva à cidade. Quando os pneus batem no asfalto, diminuo a velocidade consideravelmente e vou em direção à cidade. Assim que Shark vê os prédios na rua principal, ele começa a latir, sabendo que logo ele vai ter o seu deleite.

Eu estaciono a caminhonete e deixo Shark lá dentro com as janelas abaixadas.

—Eu já volto, garoto, — digo a ele quando saio. Eu olho para mim mesmo na janela e percebo que pareço uma merda, mas não é como se eu estivesse tentando impressionar alguém. Minha camiseta branca está suja, meu jeans rasgado e minhas botas enlameadas. Meu cabelo castanho está voando por todo o lugar, e há sujeira sob minhas unhas. Eu poderia precisar de um banho também.