ibiza

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Constantine

Me recordo tão perfeitamente daquela fatídica madrugada onde deslizes foram cometidos em embriaguez.

Tudo parecia girar tão devagar e ainda assim tão rápido. Eu não pisaria na Espanha se não fosse Luther me convencer de que seria importante para Frida. Ela precisava da gente e Luther precisava de mim.

Entretanto, aquela casa de praia gigantesca e todo o maldito fogo que iluminava a areia me irritavam profundamente. E também os coquetéis de fruta, as pessoas vestidas de branco e as flores na decoração. O pior seria dormir naquele lugar com o som das ondas quebrando nos paredões rochosos em Ibiza.

O que para muitos seria um paraíso, para mim não era nada além de uma visão prévia do inferno.

Toda aquela calmaria, toda aquela momentânea paz, não condiziam com a minha realidade. Eu era uma criatura da noite, gostava das luzes e do caos da cidade. Paredões rochosos eram substituídos por edifícios gigantescos e as fogueiras por luzes de neon.

Entretanto, aquele sacrifício era necessário porque Frida precisava de mim. Era o aniversário dela e eu deveria estar perto.

Ela havia me recebido bem. Ao alugar uma casa de praia em Ibiza, Frida reservou os melhores quartos aos seus melhores amigos. Passaríamos a noite ali e pela manhã eu estaria livre para voltar a minha vida arriscada.

Deixar os meus negócios do tráfico mesmo que por apenas uma noite era arriscado e o fato do sinal de internet ser praticamente nulo naquela ilha me matava. Luther também estava um pouco preocupado, entretanto parecia mais relaxado do que eu esfregando o rosto nos seios de uma morena na areia.

_Por que você não relaxa? - Frida apareceu de repente, tomando o celular da minha mão e se sentando ao meu lado no banco constituído por fibras de alguma espécie de coqueiro. - A sensação que eu tenho é a de que você está fugindo desde que chegou aqui.

Eu suspirei pesadamente e cruzei os dedos da mão com os delas. Frida me encarou atenciosa. A brisa fazia os seus cabelos caramelados voarem de maneira suave, mas intensa. Os seus olhos eram mais negros do que nunca e as suas pálpebras estavam tingidas por um dourado muito reluzente.

Ela estava linda. Não, Frida estava radiante. Ela refletia vida. Exalava vida. Transmitia vida. E tudo aquilo significava muito para mim.

_Quando eu tinha uns dezenove anos a única certeza que eu possuía era a de que eu era o amor da sua vida e você o meu. Mas agora eu entendo, Frida. Você é o amor da sua própria vida e eu estou feliz por isso. - puxei a sua cabeça em direção ao meu peito e ela me abraçou.

_Por que está dizendo isso? - ela sussurrou, ainda em sintonia com as batidas lentas do meu coração.

_É porque eu estou feliz da mulher que você se tornou. Apesar de continuar louca, você parece mais confiante e um pouquinho menos insuportável. - baguncei o seu cabelo e ela riu me apertando mais forte.

_Eu senti muito a sua falta.

_Eu também senti. Na verdade, tenho pensado em muitas coisas desde que você se mudou.

_E o que são essas coisas? - ela me encarou.

_Apenas coisas.

Frida franziu as sobrancelhas e em seguida deu de ombros. Ela tirou o maço de cigarro de dentro do sutiã e queimou uma unidade. Ela soprou a fumaça para o céu e encarou o mar há apenas alguns metros de distância de nós.

_Você está diferente e o Luther também. Eu sinto que a energia mudou, sabe? Vocês estão ainda mais sérios, tensos, repletos de maldade. Eu entendo que você de algum modo sempre teve um lado obscuro, Victor. Mas o Luther não era assim. Por favor, não deixe que ele se torne uma pessoa ruim.

∆KIRA (+18) Onde histórias criam vida. Descubra agora