Capítulo Único

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Merda.

Merda, merda, merda. Era tudo o que eu poderia pensar naquele momento. Eu estava atrasado! Mas não aquele atrasado, atrasadinho. Estou falando daquele atrasado que fode sua vida e seu psicológico junto. Aquele atrasado que você sabe que vai te foder de um jeito que até sinta pena de si mesmo.

"Eu estou fodido!" gritei sem pensar, morrendo de vergonha depois porque todos que estavam na rua olharam para mim.

Abaixando minha cabeça, apressei meus passos ainda mais. Maldita ideia de sair de meio dia de casa. Eu pedi por isso, senhor! Se eu não entrar, minha mãe vai me matar, puta que pariu! Eu sou muito idiota!

Claro, eu tinha uma certa culpa por esse desespero todo, mas também não era tudo. Como eu poderia saber que o ônibus só sairia de meio dia e meia? Como eu iria saber que o Maps do Uber daria problema e ele pararia em um local totalmente errado? Eu poderia ter ouvido o Armin e ter vindo ontem pra saber direitinho onde ficava? Poderia. Mas eu fiz? Claro que não. Tava maratonando minha série, mas isso não vem ao caso. Só sei que eu vou entrar naquela porcaria, nem que eu pule a grade pra isso.

Assim que vi o colégio, não consegui conter o meu sorriso. Sorriso qual desmanchou assim que vi várias pessoas correndo para o outro lado. E isso só podia significar uma coisa... O portão estava fechando.

Sentindo meu coração bater acelerado enquanto suava frio, aumentei meus passos ainda mais, quase batendo em algumas pessoas que estavam na calçada. Mas fazer o que, né? Correr na rua e disputar com os carros não era uma opção legal. E eles tinham que ceder.

"Sai da frente que atrás tem gente! Estou atrasado para o Enem!" gritei, driblando um casal, pouco me fodendo para o que eles falaram depois.

Como a sorte estava ao meu lado, sendo uma boa amiga que é, tropecei logo depois. E como se estivesse em um daqueles filmes de drama, eu pude ver o chão se aproximar lentamente antes de cair em um baque forte. Sem perder tempo, levantei e continuei a correr, confirmando a postagem que vi nos Fatos Desconhecidos sobre o ser humano deixar de sentir dor quando o desespero bate.

Assim que cheguei na calçada com as mãos na cabeça, ficando de frente pro portão, fui atiçado pelos outros seguranças para ir no outro portão tentar entrar.

"Vai para o outro lado!" gritou um, achando graça do meu desespero.

Sem perder tempo, logo voltei a correr, ultrapassando alguns outros jovens facilmente. Conforme eu me aproximava do último portão, eu sentia como se fosse meus últimos segundos de vida, pois vi algumas pessoas indo em bora.

Parando aos poucos, não consegui acreditar que a porta estava fechada também. Eu só havia me atrasado por dez minutos!

Com passos longos, fui até a grade, sendo observado por um segurança baixinho, cujo qual emanava uma boa indiferença ao ambiente em seu arredor.

"Abre aí, por favor."

"Atrasado. Tente na próxima." Foi a única coisa que ele disse, fazendo-me franzir o cenho.

"Vamos... Só foram alguns minutinhos..."

"Dez minutos." Ele me cortou com frieza, apesar de seus olhos demonstrarem um certo divertimento pela minha situação.

"Deixa eu entrar, por favor!" insisti mais uma vez, "Minha mãe vai me matar!"

Ele apenas forçou um sorriso ao negar com seu dedo indicador, dando mais uma volta na chave para que eu visse que a porta estava de fato trancada.

Encarando-o com deboche, segurei na grade e aproximei meu rosto. "Se me deixar entrar, eu te dou meu cu." falei

Ao ouvir isso, ele levantou uma sobrancelha e sorriu. "Desculpe. Não estou interessado agora." piscou e isso me fez arfar de raiva.

Atrasado para o Enem Where stories live. Discover now