Capítulo 1

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Meus pulmões pareciam travar uma luta intensa para continuarem funcionando

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Meus pulmões pareciam travar uma luta intensa para continuarem funcionando. Suor escorria por todo o meu corpo, que queimava em febre. Minha cabeça doía fulgurantemente, parecia uma bomba relógio prestes à explodir. Lágrimas escorriam por minha face sem eu poder controlá-las. Queria gritar, porém não tinha mais voz. Queria levar minha mão até o botão que chamaria pela enfermeiras, porém meus braços já não funcionavam. Desejava correr e pedir por ajuda, mas nem minhas pernas eu sentia mais. Eu estava morrendo, eu sabia que era o fim. Não tinha para onde fugir.

Sempre ouvi dizer que quando estivesse morrendo todos os momentos bons passariam por minha mente. Mas não foi bem isso que aconteceu.

A primeira lembrança que tive, veio há quase dois meses atrás.

Eu estava no hospital após ter sofrido uma convulsão. Haviam feito vários exames. Mantinha meus olhos fechados pelo cansaço, porém não dormia.

— Senhora Esra, sua filha foi diagnosticada com GBM; Glioblastoma multiforme e... — ouvi uma voz masculina dizer.

— O que é isso? — minha mãe perguntou sem o deixar terminar de falar, o desespero era nítido em sua voz.

— É um tumor cerebral maligno. Eu lamento, mas o da sua filha se encontra em uma área sensível do cérebro onde não é possível fazer a cirurgia. Ela só tem dois meses de vida no máximo, aproveite da melhor maneira possível. — o homem que agora tinha certeza ser um médico falou, e logo sons de passos e a porta sendo fechada denunciaram que ele não estava mais no quarto.

Aquele dia escutei minha mãe chorar por horas, mas eu não chorei. Algo dentro de mim parecia ter morrido com aquela notícia, porém não tinha forças para me lamentar.

Logo as lembranças foram passando. Vivi novamente o dia em que já não conseguia mexer meus braços e pernas. O momento em que me tornei praticamente cega. Tive que reviver todo o sofrimento que passei durante esse tempo, aquilo era uma tormenta. A última lembrança foi dessa manhã.

— Filha, não poderei passar o natal aqui com você. — minha mãe falou, eu mal conseguia enxergar seu rosto, somente enxergava alguns vultos e imagens distorcidas.

Eu não me importava de passar o natal sozinha; não ligava para essa data; odiava estar em meio às pessoas, somente pegava meus presentes e me afastava, todo o resto não tinha a mínima importância.

— Eu não esperava menos. — respondi indiferente. Minha garganta queimava, precisava de muito esforço para pronunciar alguma palavra.

— Eu tenho trabalho para terminar. — ouvir aquilo me fez somente sentir mais ódio de tudo.

— Você sempre só se importou com seu emprego mesmo, nunca esteve comigo quando eu precisei. Todas as vezes que sentia dores na cabeça, me sentia mal, você só respondia: "isso não é nada, toma um xarope.". Agora eu estou morrendo e a culpa é toda sua! Você é egoísta. Eu odeio você! Espero que você se lembre pelo resto da vida que minha morte foi por sua culpa. — falei com o tom mais alto que conseguia. Queria a machucar, queria a fazer se arrepender por tudo.

A Noite De Natal Em Que Fui Ao CéuWhere stories live. Discover now