Capítulo 2

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Damon.
3 anos antes.

A água gelada bateu contra o meu rosto outra vez, me acordando do desmaio. Meu corpo queria desfalecer, mas minha mente gritava para eu continuar.

— Se não pode ficar acordado, não pode entrar no Bratva — o desgraçado gritou. — Se não pode lutar, até morrer com honra, não pode entrar no Bratva — ele parou bem na minha frente, me encarando com desdém. — Se não podem enfrentar o diabo só com o olhar, então não pode entrar no Bratva!

Mais uma rajada de água gelada atingiu meu corpo, que já tremia de frio. Ao meu lado, em fila, outros seis homens não enfrentavam uma condição melhor que a minha.

O velho carrasco que gritava na nossa frente estava vestido como um general. Ele andava e falava como um militar. Talvez porque fosse um, mas isso não importava. Ele era do Bratva, e nada mais. Sua história, seu passado, eram esquecidos quando ele assumia sua posição na máfia vermelha. Ele era apenas um mafioso, perigoso o suficiente para orquestrar as torturas de iniciação. Ele era um futuro irmão, porque eu estava disposto a entrar nesse time.

Eu tinha perdido a conta das horas, talvez fizesse mais de um dia que eu estava trancado dentro de um galpão escuro e pútrido, no subsolo de um prédio abandonado, sendo torturado e humilhado por homens diferentes. O primeiro, era um sádico terrorista que amava o sangue tanto quanto devia amar a alta costura — dado seu traje de gala para um evento tão podre quanto este. O segundo, era um verdadeiro psicopata, ávido por tirar de nós cada minúscula fraqueza que nos fazia humanos. O terceiro, este general raivoso, só sabia gritar e bater, até que a pele sangrasse o que a mente queria expressar.

Mas eu não ligava mais para a dor, ela se tornou insignificante depois das primeiras horas. Meu corpo se recusava a remoer as chicotadas e gritar pela água quente queimando minha pele. Ele desistiu de me alertar sobre a insanidade de tudo aquilo, mas eu me mantive forte. Eu precisava passar por essa prova, e então eu finalmente teria minha tão sonhada vingança.

Esperei dois anos inteiros para ter a chance de estar aqui e só sairia morto ou com a tatuagem no peito. Não importava se meu pai era um espião da Organizatsiya, ou se minha mãe, quando em vida, era o membro mais valioso deles, eu continuava sendo tratado feito um verme iniciante: nada além de um punhado de barro que precisava ser moldado e, pior, mostrar o seu valor. Eu tinha que mostrar que, sem mim, eles jamais conseguiriam pegar Armin Birromari.

— Cinquenta de vocês entraram por aquela porta — o general louco apontou para a porta do galpão, trancada à sete chaves — e apenas seis restaram. Não se enganem, mais de vocês vão morrer antes do nascer do sol. A questão é: quem será o próximo?

Ele caminhava na nossa frente, carregando os segredos dos seus testes desumanos dentro do quepe militar.

Não olhe em seus olhos, não deixe seu corpo tremer.

Vocês se acham dignos do Bratva? Acham que precisamos de vocês? Pois saibam que são tão insignificantes quanto o mais pobre homem. — Novamente, ele parou na minha frente. — Alguns aqui acham que estão no nível da irmandade só porque o pai e a mãe conseguiram alguns feitos. — Um sorriso lento e perverso tomou os seus lábios. — Mas aqui não é brincadeira de criança. Nós não somos os malditos italianos! — Todo mundo cuspiu no chão, amaldiçoando os inimigos. Pra mim foi automático, fazia isso desde moleque, mas alguns aqui tomaram uma boa surra por não praguejar contra os engomadinhos de chapéu. — Para entrar no Bratva, você tem que matar pelo Bratva — gritou. — Tem que amar os seus irmãos e doar sua vida à causa deles. Se um é atingido, então todos estão feridos. Se um atacar, então estão todos participando de uma guerra. Isso é lealdade. Isso é honra. Isso é o Bratva!

Amor RussoOnde histórias criam vida. Descubra agora