Capítulo 7

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O hidratante gelado me curou.

Eu suspirei de alívio quando o vento que entrava pela varanda atingiu minha pele, refrescando-a ainda mais.

— E aí ele veio deixar esse presente aqui? — Jonny perguntou.

— Não, acho que isso foi antes da briga que a gente teve lá no bar.

Ele tirou uns segundos para pensar. Tinha subido para o quarto pouco tempo depois que eu entrei, e me exigiu respostas que nem mesmo eu tinha.

Jonny puxou o ar com força, surpreso com qualquer coisa que uma das suas personalidades tenha descoberto. Ele cobriu a boca com espanto enquanto olhava para o nada.

— Você tá me dando medo de novo, Jonny, será que dá pra parar? — Me afastei um pouco.

— Ele é um planejador — divagou. — Que nem o Christopher. Que droga! Sabia que ele era bonito demais para ser psicologicamente estável.

Às vezes, eu preferia não conversar com Jonny. Ele sempre me deixava mais confusa que o normal.

— Quem é Christopher? E por que ele é um organizador?

— Planejador, querida. — Me corrigiu. — E o Chris é o personagem mais problemática que eu interpretei. Usei ele em uma peça da escola, e ele simplesmente colocava fogo no palco.

Ele e suas personagens. Eu revirei os olhos.

— Lá vem...

— Não! Escuta. É sério. O Chris é um diabrete. Ele arquiteta um plano, um cenário e um diálogo, só para parecer que tem controle do destino. É tipo fazer a outra pessoa de marionete, é uma ilusão. É... doentio.

Ele tentou sorrir para amenizar o baque, mas aquilo me fez sentir como se ele tivesse pena. Sempre soube que o Damon era muito obstinado em me afetar, mas "doentio"...

— Você está... está dizendo que o Damon também é um "planejador"? — Sussurrei a última palavra, como se fosse um segredo. Uma conspiração.

— Não sei. Mas pareceu.

— Não — neguei imediatamente. — Ele não é um doente, perseguidor, ou coisa assim. Ele só sabia sobre minha alergia e viu uma oportunidade de me provocar.

— Ou ele quis te agradar.

Aquela sugestão era hilária. Eu quase ri. Damon me agradando? Houve uma época que isso podia ter sido verdade, mas agora isso não aconteceria nem em sonho.

— Não inventa. Estamos falando do Damon.

Jonny suspirou, frustrado.

— Aí você complica meu trabalho, né? Eu não sei interpretar esse cara, amiga. Você me diz uma coisa, ele me mostra outra. Eu sinto que devia jogar vocês em um quarto e esperar que acabassem de transar.

— Jonny!

Ele riu.

— O quê? Mas é verdade! É tanta tensão sexual em vocês que até eu levei um choque. — Ele fingiu estar eletrizado, balançando todo o corpo. — E tudo bem, eu te entendo. Aquele cara não é um pedaço de mau caminho. É a pista inteira. Credo, eu sentava nele por meia hora, de relógio parado.

Ele não estava errado.

Mas estava eufórico demais.

— Quando você bebeu? — Semicerrei os olhos na sua direção, avaliando o teor alcoólico ao seu redor. O cheiro era forte, claramente uma redoma tóxica de cachaça envolvia ele.

— Eu pago minhas contas e não devo nada pra ninguém, pode deixar de me olhar desse jeito — reclamou. — Eu só fiz uma brincadeira.

Mas eu não estava para brincadeiras.

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