O Humano

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GAVIN
| 27 DE ABRIL DE 2039 - 06:30 |

Flor da manhã. Esse era o nome do maldito alarme que estava tocando naquele momento. Gavin já havia tentado por na cabeça que ele devia trocar esse alarme por um diferente, toda vez que ele o ouvia era como um aviso de que qualquer que seja o mundo no qual ele estava vivendo nos sonhos, era falso. 

Na vida real ele não podia voar por cima dos prédios a centenas de metros de altura, ou poder levantar carros com uma só mão, muito menos soltar raios pelos olhos. Ele achava engraçado o fato de que os sonhos que ele tinha durante a noite se baseavam em coisas que ele era fanático quando criança: ser um super herói. Poder ver a gratidão nos olhos das pessoas ao salvá-las era algo que vinha desejando desde criança, o que totalmente influenciou na sua decisão de seguir a carreira policial. Haviam outras formas de salvar pessoas e ser um herói sem ter que precisar de poderes para isso.

Mas, enfrentar vilões não era o único cenário frequente nos seus sonho heroicos. Havia, é claro, sempre uma donzela em perigo, em busca do seu salvador. Só que no caso dele, não era bem uma donzela mas sim um charmoso donzelo, se é que essa palavra existe. Antes essa figura sempre aparecia com um rosto embaçado nos seus sonhos, como um borrão, agora já era bem mais fácil notar de quem se tratava. 

Os olhos azuis gélidos, seguidos de um maxilar forte e um pequena parte do cabelo fazendo um onda que caia levemente pela testa. Óbvio que no mundo real, um androide de 1,83 cm de altura dificilmente poderia ser considerado como alguém indefeso. Mas ali era seu mundo particular, e nesse mundo ele era o herói que salvava o indefeso androide das garras dos vilões e no fim ganhava um apaixonado beijo de agradecimento. Um beijo que o lembrava de flores, mais especificamente flores da manhã.

Flor da manhã.

- Urgh - resmungando, Gavin usou de todas as suas forças matinais pra poder desligar o alarme. Ele realmente havia esquecido de que ainda mantinha esse alarme pois ele tinha um outro dispositivo que o acordava todas as manhãs com um carinho no rosto e um beijo de bom dia: Nines.

Abrindo os olhos, ele se viu olhando para o espaço vazio ao seu lado na cama. Gavin sabia que Nines não precisava dormir, o máximo que acontecia era algo que Nines chamava de estase, no que aparentemente servia como uma forma de descanso, organização de informações e provavelmente outras coisas mais das quais Nines resolveu não explicar quando havia visto o rosto confuso de Gavin tentando seguir o raciocínio dele.

Mas, desde que Nines havia aceitado se mudar para o apartamento de Gavin, depois de um pouco de insistência do mesmo, aquela era a primeira vez na qual ele não via Nines ao seu lado quando acordava. Ele se sentou e esperou seus olhos se acostumarem com a iluminação do quarto, a porta do banheiro parecia estar semi-aberta, então Gavin se levantou esticando os músculos e pode ouvir alguns barulhos vindo das suas articulações.

'Crocante' pensou ele sorrindo, se lembrando do revirar de olhos de Nines sempre que ele lançava essa piada. Ainda com o sorriso no rosto, Gavin foi até banheiro.

"Hey Nines, não quis me acordar ho..." ele parou assim que percebeu que não havia ninguém ali. Dando de ombros, ele decidiu que já que estava ali podia muito bem já ir se preparando. Escovou os dentes e lavou o rosto, depois parou um momento e se viu olhando seu reflexo no espelho em cima da pia. Havia um pequeno fio branco no meio dos vários fios castanhos da sua barba rala. Ele não precisava de um lembrete para saber que estava envelhecendo, ele tinha 36 anos e estava ciente disto. Porém, aquele pequeno fio servia como um aviso de que ele mudaria, ele envelheceria e junto com isso vinha uma certa insegurança. Nines ainda estaria com ele quando já não fosse mais jovem? Seria ele capaz de continuar amando alguém que aos poucos se deterioraria... Alguém que, diferente dele, não fosse bonito e jovem pela eternidade...

Ameaça Mil (Reed900 Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora