1. Solzinho

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Liam Payne

O mesmo caminho com que eu faria todos os dias, na ida e na volta da aula, o dia hoje estava chuvoso e frio o suficiente para que eu colocasse meu casaco.

— Boa tarde, Liam. – Dona Emma disse assim que entrei na vendinha me dando um pequeno sorriso no qual retribui.

— Boa tarde Dona Emma, tem amora? – Fui andando em pequenos passos até o balcão olhando a pequena loja, e ela me estendeu um pequeno potinho.

— Deixei separado, sabia que viria. – Ela recebeu o dinheiro e me devolveu o troco enquanto eu comia.

— Muito obrigado, até amanhã. – Dei a ela um sorriso enquanto voltava a minha rota, e todos os dias eu tinha a mesma rotina. Acordar cedo, ir a escola, comprar framboesa, voltar para casa e ajudar minha mãe com as tarefas.

Alguns dias se passaram e a semana estava a acabar, amanheceu da mesma forma rotineira, e ao caminhar com meus fones no ouvido e a voz do SYML cantando "I'm so alone,
Don't have nobody to call my own" ( Eu estou tão só, Não tenho ninguém para chamar de meu ) de certa forma, esse pequeno trecho fazia com que eu me identificar totalmente com a música, eu me sentia muitas vezes assim, um tanto solitário, e na escola era sempre a mesma coisa, assim que sentei eu meu lugar escutei a voz dele novamente, como todos os dias da semana.

— Ei, solzinho, bonito o casaco! – Zayn gritou do outro lado da sala fazendo o restante dos meninos rirem, em poucos segundos levantei o dedo do meio mostrando a ele e voltei a tirar meu material da mochila.

Ele era bonito, mas ao mesmo tempo ele era babaca o suficiente para que conseguisse me fazer raiva, todos os dias da semana, exatamente todos eles, ele não deixou passar um dia sequer sem fazer alguma piadinha comigo, a única coisa engraçada era que os outros meninos já não abriam a boca pra mais nada além de rir.

As aulas se passaram tranquilamente, caminhando pelo corredor com meus materiais em mãos até um dos idiotas me dar um empurrão e aquele clichê de filmes acontecer, todos os meus livros, cadernos e folhas soltas a voar pelo corredor, o único problema desse clichê é que não encontrei o amor da minha vida, e apenas me abaixei juntando tudo sozinho sem uma ajuda se quer.

— Olha por onde anda seu babaca ou eu te quebro! – As vezes eu poderia jurar que ele me seguia por onde eu ia, lá estava ele novamente com sua jaqueta de couro e os cabelos escuros abaixando e me ajudando a juntar meus materiais. E é em momentos assim que eu fico totalmente confuso, como pode o mesmo menino que me xinga todas as manhãs e faz qualquer comentário idiota parar para me ajudar no meio de um bando de inúteis. Ele estendeu suas mãos até mim me entregando o restante do meu material. — Toma mais cuidado solzinho.  – Revirei meus olhos automaticamente e ele riu andando em minha frente.

As últimas aulas se passaram e novamente eu ia caminhando até minha casa observando a neve caindo enquanto comia minhas amoras,  o caminho era um pouco longo mas minhas pernas já estavam acostumados. Eu achei que hoje seria mais um dia normal e rotineira mas tudo desabou quando vi a ambulância parada em frente a minha casa, o meu coração gelou, e o ar me faltou na hora, sem o total controle das minhas pernas eu corri, rápido o suficiente para chegar até a maca e ver a minha mãe, com os olhos fechados, mais pálida que o normal, e Ruth ao seu lado, segurando sua mão com as lágrimas do rosto, o meu coração apertava tanto e eu mal sabia o que estava acontecendo, eu só sabia que era tarde demais. Era como se meu mundo estivesse desabando, eu não conseguia fazer mais nada além de permanecer sentado na pequena escada da varanda, minha irmã tentava se manter firme ao conversar com os paramédicos, minhas mãos trêmulas passavam pelas minhas pernas automaticamente, talvez fosse o meu corpo tentando se sentir vivo.

Eles levaram ela dali, e agora só restavam eu e a minha irmã, para nos virar com tudo. Ruth me ajudou a entrar assim que todos foram embora, tentando me acalmar a todo custo mas o meu coração não parecia querer se acalmar, o chá quente bateu contra os meus lábios e logo coloquei a xícara sobre a pequena mesinha, foi algo muito rápido e eu não conseguia entender como ela se foi assim, sem me dar a chance de vê-la pela última vez.

Flashback on

(8 Anos)

— Meu amor, acorde. – As mãos dela era leves e eu fingia estar dormindo só para ganhar mais do seu carinho.  — Deixa de ser danado, eu vi você abrir os olhos, vamos hoje é natal, levante. – Ela riu e me encheu de beijos e eu ri abrindo meus olhos.

— Mas mamãe, eu ainda não embrulhei seu presente. – Eu a abracei o mais forte que eu conseguia.

— Não tem problema, enquanto eu faço as coisas você tem tempo para embrulhar, só não vale voltar a dormir ok? – Eu assenti e ela se levantou assim que me deu um breve beijo na testa.

Eu amava o natal, todas as luzes, os presentes, as músicas e as brincadeiras. Por mais que sempre fosse só eu, minha mãe e minha irmã era uma das melhores épocas para mim.

(12 Anos)

Eu desci pela escada correndo animadamente e minha mãe me deu um pequeno sorriso.

— Cadê todo mundo mamãe? – Olhei envolta, minha festa seria do batman, por mais que toda a situação financeira daqui de casa não estivesse lá das boas, minha irmã e minha mãe conseguiram organizar uma pequena festinha pra mim, Ruth até me comprou uma fantasia. Agora minha mãe estava em frente a pequena mesa organizando os docinhos.

— Ainda não chegaram amor. – Ela me deu um sorriso e olhou para Ruth.

— Mas já passou a hora da festa. – Meu tom saiu um pouco mais baixo e eu me sentei.

— Eu sei amor, eles devem estar chegando. Você chamou seus amigos? – Ela se sentou do meu lado me abraçando.

— Chamei mamãe. – Respondi ela segurando o choro.

— Então se eles não vieram azar o deles, não? Perderam todos esses doces, e agora você vai poder comer todos eles sozinho. – Ela me abraçou apertado e a minha vontade de chorar só aumentou, eu desconfiei que ninguém viria mas me recusei a acreditar. — Hoje é o seu dia, e você merece o mundo meu amor. – Suas mãos passavam pelas minhas costas e ela se levantou segurando em minhas mãos. — Eu não quero você triste por isso, vamos cantar parabéns. Você tem a mim e a Ruth, e sempre vai ter.

Eu assenti e me levantei segurando em sua mão indo até a mesa que estava o bolo, as duas cantaram e cantaram na tentativa de me animar até que enfim conseguiram, esse poderia ter ganhado o posto do meu pior aniversário se não fossem elas duas.
Ruth sempre fez tudo por mim e a minha mãe não preciso nem comentar, naquela mesma noite nós dançamos, assistimos filme e até mesmo fizemos uma guerra com as sobras do bolo, e claro, minha mãe ficou louca com a bagunça mas no final ela acabou por participar conosco, no fim de tudo eu fui dormir sujo de chantilly.

(14 Anos)

Entrei em casa aos prantos e logo minha mãe apareceu.

— Não me diz que ela foi rude com você? – Eu a olhei com os olhos cheios de lágrimas e abracei a mesma. — Eu sinto muito amor, ela não merece você. – Suas mãos passavam pelos fios do meu cabelo e logo escutei a Ruth descer as escadas correndo.

— O que foi? os biscoitos estavam ruins? – Ela perguntou me dando um leve cutucão na tentativa de me fazer rir.

— Na verdade ela me humilhou na frente de todo mundo. – Eu a olhei e sequei meu rosto.

— Não precisa se preocupar eu mesma vou fazer ela comer todos esses biscoitos. – Ela fez uma cara de brava que acabou por me fazer rir.

— Você não precisa chorar, se ela foi babaca é porque ela não te merece. – As mãos macias da minha mãe passavam pelos meus cabelos. — Você aprendeu a fazer biscoitos para ela fazer isso com você, você merece coisa melhor meu amor. – Ela deu um breve beijo em minha bochecha me abraçando forte. — Eu amo você ta bem? – Eu assenti, sentindo a Ruth nos abraçar.

— Só porque sou a mais velha não preciso ser excluída. – Ela resmungou nos fazendo rir.

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⏰ Last updated: Dec 26, 2019 ⏰

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Summertime Sadness {Ziam Mayne} Where stories live. Discover now