Capitulo XVII - Sophia (parte 01)

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- Por mais quanto tempo vocês tentaram enfiar essa sopa pela minha goela? – perguntei para as minhas duas melhores amigas paradas á minha frente. – Por que é sério gente, eu já falei mil e uma vezes que eu não quero essa porcaria de sopa de fígado. – empurrei novamente a tigela cheia para a direção delas que me olhavam contrariadas com os braços cruzados no peito.
- Você vai comer essa droga agora, Sophia! – Catarina brigou – Ou eu juro que vou enfiar colher por colher á força dentro dessa sua boquinha malcriada. 
- Coma. – Ana empurrou a tigela para mim – Agora. 
- Olha, nós estamos com um grave problema de comunicação e compreensão nesse quarto. Eu já disse que não quero comer esse treco gosmento e vocês não estão parecendo ter cérebros suficientemente capazes de assimilar essa informação, então deixe que eu explico por partes para ver se assim vocês...
- Bom dia, meninas! – uma voz grave me interrompeu. O doutor Matias entrou no quarto com um grande sorriso no rosto. Seus poucos cabelos grisalhos alinhados para o lado, seu bigode de xerife igualmente da mesma cor, sempre dando-lhe aquele ar de sabedoria, sua barriga rechonchuda sempre um passo á frente que todo o seu corpo e aquele mesmo jaleco branco que tinha seu nome bordado já faziam parte dos meus dias. Eu adorava aquele senhor desde o momento em que ele disse que eu não precisava comer a gelatina sem gosto do hospital e poderia muito bem jogar no lixo mais próximo.

Malditas enfermeiras! Adoravam me enganar dizendo que aquilo iria me recuperar mais rápido, quando era só mais um dos truques de Caíque de me dar calmantes para que eu dormisse todo o tempo e não saísse da cama.  

- Bom dia, doutor. Será que pode fazer com que essa palhaça coma a sopa? Diga para ela que o senhor mesmo receitou já que ela está com uma anemia das brabas, que inclusive não contou para nós! – Ana disse as últimas palavras pausadamente.

Ora bolas, como eu contaria uma coisa que eu nem sabia que tinha?!

- Eu não tenho bola de cristal, sabia?! – respondi emburrada. – Será que nem no meu aniversário eu posso ter paz? Vocês só vem brigando comigo durante toda essas três semanas, que diabos! 
- Você pode ter paz no seu aniversário quando nos der paz espiritual e mental, garota – Catarina puxou uma mecha do meu cabelo com a força necessária para me causar desconforto. Meu rosto fechou-se em uma carranca e olhei indignada para ela.
Não tinhamos mais dez anos de idade e ela não podia mais puxar o meu cabelo assim!
- Olha aqui Catarina, você não pode puxar meu cabelo desse jeito!
- Jura? E quem vai me impedir? – suas sobrancelhas estão erguidas em desafio.
Bufo de raiva e direciono minha atenção ao senhor de cabelos grisalhos que acha graça da nossa pequena briga sem sentido. 

- Então doutor Matias? Já posso ir embora? – a ansiedade toma conta de todo o meu ser e manda uma descarga elétrica para o meu corpo fazendo-o quase quicar na cama. Eu preciso sair daqui o mais cedo possível antes que surte de vez. 
- Fico feliz e triste em dizer que sim, você já pode ir para casa, querida. – ele me lança um sorriso que dá boas vindas ao sorriso de orelha á orelha que se espalha em meu rosto. – Você já está praticamente recuperada, só temos que cuidar dessa anemia para que ela não se agrave e cuidar da sua segurança a patir de agora. Não quero mais a senhorita metida em encrencas, escutou? Detestaria lhe receber da forma que recebi antes. Quero que entre por estas portas apenas para me visitar. – ele caminha para mim e acaricia o topo da minha cabeça, como um pai faria com uma filha. 
Agradeço silenciosamente por aquele ato tão gentil e que deu tanto conforto ao meu coração durante essas semanas em que estive aqui. 
- Obrigada doutor Matias, por ter cuidado de mim e por ter sido tão gentil. Prometo vir visitá-lo e vir as consultas todos os dias marcados, sem falta. – juro, tentando enfiar na minha cabeça teimosa que a partir de agora eu teria que ter mais zelo com a minha saúde. 
- Já que estamos jurando e vamos cumprir, – Ana me olha como para me lembrar que eu assumi um compromisso e não poderia voltar atrás – quando será a próxima consulta, Doutor? 
- Semana que vem, na segunda feira. Marcado? – ele responde, ainda carregando consigo seu sorriso gentil e abre a porta do quarto. – Vou estar te esperando, querida. Está liberada para ir. 
Acenti com a cabeça e lhe lancei o melhor sorriso que tinha. 

Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now