Capítulo II - Choro ou Clamor por Ajuda.

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Naquela noite não tinha sido o choro estridente do bebê que o acordou, mas sim a lembrança do olhar decepcionado de Sowon em seu sonho.  Olhava-se no espelho e sentia-se um espectro de si mesmo, não reconhecia a imagem do homem ali refletido. Seus olhos não mais escondiam aquele antigo medo juvenil de enfrentar mais um dia, seu coração apertava em ânsia pela passagem de tempo. Se sentia um tolo por continuar a acreditar que o tempo traria uma mudança, considerável, em sua vida.

Cresceu, saiu daquela maldita instituição, mas ainda era apenas um frágil garoto solitário e com medo. E aquela sensação, — tão bem conhecida por si — de desamparo; agora ultrapassava o insuportável. Então chorava, naquele momento, com a mão na boca para não acordar Junkyu.

— Sowon…? — olhou para o teto. — Eu estou t-tentando. — a voz quebra por causa do soluço dolorido. — Eu quero manter a promessa, mas não consigo. Sozinho eu não consigo.

Colocava a cabeça entre as pernas, deixando o choro correr livre por seu rosto. Não tinha pra que ou quem fingir força, a própria imagem cansada e mais magra do Jeon, deixava bastante evidente o quão abalado o moreno estava.

Os dias se passaram, fazia mais ou menos quinze dias que tinha trazido Junkyu do hospital para casa. Era uma rotina corrida, cansativa e contínua, principalmente, com tantos sentimentos conflitantes dentro de si. Jungkook se sentia cada vez mais a beira de um abismo e, por mais que tentasse pensar positivo, o vazio corroía cada vez mais o seu interior. E o caminho fácil brilhava, de forma ofuscante, como a única saída viável.

Apesar do tempo, o vínculo com o filho era nulo. Sem ser necessário, o Jeon não o tocava ou sequer o olhava, machucava! Toda a revolta voltava quando olhava para o pequeno bebê, que parecia tanto consigo, mas tinha o olhar doce de Sowon. Então, o evitava o máximo que conseguia, deixando claro para si, a sua incapacidade de ser um bom pai. Mas ainda assim, ainda que não houvesse vínculo afetivo e sentisse o constante amargor do fracasso ao cuidar do bebê, o moreno sentia que era errado o colocar no sistema.

Era como se o ato de o colocar  para a adoção, batesse de frente com a sua essência. Conhecia muito bem aquela vida e jamais desejaria a outro tudo aquilo que passou. Então sentia-se um monstro, ao condenar o próprio filho àquele destino. Então o mantinha consigo, por mais difícil que fosse para si próprio, todavia, a adoção não estava completamente descartada.

Nada estava completamente descartado na mente conturbada e confusa do Jeon.  Sentimentos destoantes brigam ferozmente dentro de si e toda dia, ao deitar a cabeça no travesseiro, a sua decisão "final" mudava. Porém, os dias estavam sendo contados, suas férias logo acabariam, e uma decisão teria que ser tomada.

Cuidaria do filho ou viveria toda a sua vida com a culpa?

Sinceramente, não sabia e não ter ninguém, que realmente confiava, para desabafar sobre os seus conflitos, tornava mais difícil a sua tomada de decisão.  Era, mais uma vez, Jeon Jungkook contra o mundo e nunca odiou tanto uma sentença, afinal, ela reafirmava a sua solidão, sinceramente? Estava cansado e queria o colo e o consolo de alguém. Queria que alguém chegasse e lhe estendesse a mão, mesmo que se negasse em pedir ajuda. Odiava a sensação de perturbar alguém. Toda as suas vivências lhe ensinaram que tinha que se virar por si mesmo, era um maldito paradoxo.

Lembrou, com dor, em como Sowon lutou para se aproximar de si. Jungkook tinha doze anos e era completamente arredio quando se tratava de vivência social, já tinha acreditado demais em pessoas e, concomitante a isto, tinha se machucado e sido usado, como um mero objeto descartável. Então, confiar era difícil.

Mas Sowon sempre fora tão doce e persistente. Parecia enxergar a necessidade de carinho, implícita, que emanava  do bruto Jungkook. Então com garra, ela lutou e mostrou o lado bom das pessoas com gestos gentis, sem segundas intenções, além de uma relação amigável. E com o tempo e um grande esforço, conquistou o coração duro do jovem e desconfiado Jeon, que através dela conheceu pela a primeira vez o amor. O sentimento sempre tão mencionado em filmes ou por adultos que o rondava e que supriu e amenizou muita de suas revoltas e dores, pois naquele momento, deixou de ser uma ovelha desgarrada no mundo, para fazer parte de uma família, pequena, mas — escolhida por seu coração — família!

Lullaby - YoonkookWhere stories live. Discover now