Capítulo 2

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Minha cabeça tomba para o lado me despertando. Inspiro profundamente ainda de olhos fechados, sinto cheiro de terra molhada e do perfume que só pode ser exalado pelas flores.

Abro os olhos devagar piscando várias vezes para me acostumar com a forte luz do sol. Meus braços doem e quando olho para os mesmo vejo o pacotinho azul bem embrulhado. Então todos os acontecimentos de ontem passam como um flash pela minha mente.

Olho ao redor ficando alerta e entrando em posição defensiva. Ainda estou encostada na mesma árvore de ontem, só que agora a luz do dia me faz ter uma visão melhor de seja lá onde estou. Quando olho para frente meus olhos se arregalam.

A dois metros a minha frente a macabra floresta morta acaba e como se um linha invisível delimitasse o limite começa a surgir um matinho verde que se estende ao longo do território. Muitas flores nascem ali, incluindo muitos girassóis que formam um rio dourado e alegre. O céu brinca de aquarela pintando a si próprio de amarelo, laranja e azul.

Olho para aquela paisagem maravilhada. Como isso pode acontecer? Como um contraste tão grande como esse pode existir? Até o céu parecia mais bonito do outro lado. Eu ainda estava na parte podre daquele lugar, por isso me levantei depressa segurando o bebê que ainda dormia rezando para que aquela paisagem não fosse só uma alucinação que meu cérebro estava criando como válvula de escape.

Quando me levanto e olho para o meu lado esquerdo, tenho uma surpresa. Tinha uma inscrição no chão, tão mal feita que deveria ter sido escrita com um pedaço de pau.

" Siga a bússola". Era o que estava escrito e ao lado do rabisco havia uma cesta recheada de frutas, uma mamadeira e uma bússola dourada reluzente.

Ao ver aquela cesta meu estômago roncou alto me lembrando que eu não sabia a última vez que eu tinha comido. Eu deveria comer o que tinha na cesta ? E se tivesse veneno? Do lado que eu estava tudo estava morto e eu definitivamente não queria ir para a coleção de coisas mortas dessa floresta.

Foi então que um estalo se deu na minha mente. Quem tinha deixado aquilo ali? Isso significa que tem mais alguém perdido aqui? É claro. Tinha mais alguém. Me lembro da silhueta feminina de ontem, será que foi ela? Não. Não. Claro que não. Ela não tem cara de quem faria um ato de solidariedade. A não ser que ela fosse uma maníaca que gostava de joguinhos. O que sinceramente é uma opção que me faz estremecer.

Gael começa a chorar balançando os bracinhos no ar e esticando as pernas. Seu rostinho fica vermelho e a careta que faz enquanto chora chega a ser engraçada. Eu o embalo cuidadosamente, mesmo sabendo que isso não resolveria o problema.

Olho de relance para a mamadeira, tentando decidir se é uma boa ideia. É um conflito interno muito grande, ver aquele bebê chorando de fome causava dor e aflição em mim, mas eu não sabia o que poderia ter misturado com o leite.

Por fim pego a mamadeira. O leite está quente, o que me faz chegar a conclusão de que foi colocado a pouco tempo dentro da cesta. Abro a tampa e cheiro o conteúdo um pouco desajeitada, o cheiro estava normal. Viro o leite goela abaixo e espero alguns minutos. Bom, me parecia normal. Pelo menos até agora a minha garganta não tinha se fechado me deixando com falta de ar e eu ainda não tinha caído no chão com a boca espumando, então eu acho que é seguro.

Coloco a mamadeira na boca de Gael e ele chupa afoito. Aproveito o momento e sento puxando a cesta para mais perto e sem pensar muito começo a comer as uvas dali de dentro. Reviro toda a cesta, quem sabe o maluco que me deixou ela tenha deixado um papelzinho, penso ironicamente. Mas não.

No fundo da cesta tinha um queijo e uma faca de mesa, corto um pedaço do queijo em formato de um cubinho e rasgo um pedaço do pano de Gael o amarrando na faca e posteriormente no meu braço. Ter uma forma de se defender é muito importante quando não se sabe onde está.

Depois que o bebê termina de tomar todo o conteúdo da mamadeira ele fica calmo. Me olhando com os olhinhos castanhos e fazendo barulhinhos com a boca. Pego a bússola dourada e me levanto, a frase no chão me pedia para segui-la.

Eu seria muito doida se atendesse esse pedido?

E que outra opção eu tinha? Eu estava sozinha em um lugar que eu não conhecia e nem entendia e ainda cuidando de um bebê que meu coração parecia conhecer, mas a minha mente não.

- O que você acha, Gael? - pergunto mesmo sabendo que ele não responderia. Ele sorri e agita as mãos, como se soubesse e entendesse o que eu tinha dito. Reviro os olhos.

- Você é um bebê muito sábio.- digo contemplando a imensidão de girassóis.- Eu também acho que a gente deveria tentar a sorte com essa bússola idiota.

Eu me sentia mais leve depois de estar aproximadamente 10 minutos andando próxima a tanta coisa viva. A beleza, o ar puro, tudo isso me dava paz de espírito. A bússola apontava para o norte dês do momento em que partimos e até agora eu não havia encontrado nada além de girassóis, rosas e algumas árvores altas de troncos grossos e com muitas folhas verdes.

Canto uma musiquinha que minha avó costumava cantar para mim quando eu era pequenina, tentando não pensar no que eu faria dali em diante. Colho um girassol e o rodopio por entre os dedos, focando nas suas muitas pétalas.

Respiro profundamente, confiro a bússola dourada que continuava apontando para o norte. Ergo minha cabeça pronta para continuar a minha trajetória para só Deus sabe onde, mas travo.

Minha mente dá voltas tentando assimilar o que está diante de mim. Absorvendo devagar. Dou dois passos para trás como instinto de defesa apertando Gael nos meus braços.

Que droga é essa?

Autora: você que está lendo isso com certeza está confuso com tudo isso tanto quanto a protagonista, que por sinal ainda não teve o nome revelado. No próximo capítulo muitas coisas vão começar a fazer sentido, então não percam!

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Presa em um Pesadelo (Concluído)Where stories live. Discover now