Coração

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Levando a mão ao coração e pegando-o, é evidente o quanto é ensanguentado, medroso e frágil. Digno apenas de um lugar no bolso de um casaco velho para passar a viagem, longe do peito, onde nasceu, e de outros corações que já foram sentidos.

A pessoa a qual pertence o coração ainda imagina se não deveria se desfazer dele por ali mesmo, um boeiro ou uma lixeira qualquer. Sem dignidade, como lhe foi entregue, mas há esperança guardada na carteira e o coração está perto o suficiente para se deixar influenciar por uma esperança que não é sua.

A queda parece interessante, enche-o de adrenalina e pavor e, ao humano, de alívio, saber que a gravidade se encarregará pelo resto é bem menos preocupante. Ele o pega, batendo rápido e forte em meio ao medo, a dor ainda pertence ao corpo e não saber o que fazer assusta aos dois.

Mas é necessário, ficar com ele não é mais uma opção, seus dedos se abrem e o âmago desliza, caindo pelos ares e parando no final, onde existe a liberdade.

AgoniaWhere stories live. Discover now