Corpo Terreno

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Fugindo de si, andando por uma estrada que parece eterna, enquanto a chuva caí sobre seus ombros levando lágrimas e emoções. Há um rastro lamacento saindo de seus pés, que marca o asfalto e mostra todo o caminho que já percorreu.

Seus braços apertam um ao outro, na tentativa de se confortar, enquanto o mundo continua a ruir. Mas não é o mundo, é apenas Aquilo; Algo. É o que é, e o que se desfaz disso ainda é lama.

Há água logo a frente, no fim do que era eterno. E seus pés não hesitam, desde o começo da jornada é o que todo o seu Ser pede, e ele atende, caminhando em frente. A água cobre os joelhos, congelando a carne e os ossos, desfazendo-os enquanto as ondas vem e vão.

Não está deixando nada para trás, tem plena certeza, e, por mais que seja doloroso, é a primeira vez que sente completude e tal sentimento faz com que ande com mais convicção ainda.

A água bate em seu peito, dá pra sentir quando algo atravessa seus pulmões, inundando-os no caminho. Logo, seu corpo está por inteiro submerso, os olhos captam as últimas frações de luz enquanto o tronco vai afundando e sendo levado. A dor ainda existe por alguns momentos mesmo depois de o corpo ceder, até não existir mais e tudo ter sido desfeito como um comprimido efervescente. A terra e a lama se desfazem, sumindo na existência, e a jornada, então, tem fim.

AgoniaWhere stories live. Discover now