| 11 | ME FODE

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Nunca mais.

_Você se lembra de mim?

Eu afasto a franja da frente dos olhos e respondo com um sorriso:

_Eu sequer te conheço.

Ele olha para mim por um instante sem desviar totalmente a atenção da estrada, mas aquele breve segundo é o suficiente para acender uma faísca dentro de mim. Eu jurei que nunca mais iria me sentir daquela forma por Dominic, porém quando estávamos sozinhos as horas não passavam e o mundo a nossa volta se apagava devagar.

Era uma substância química liberada em minhas veias. Algo letal.

_Muitas coisas aconteceram, mas eu ainda sou o mesmo de antes. - sua voz grave era a promessa de destruição.

_E é que mora o pecado.

_Se você diz... - ele deu de ombros e pisou mais fundo no acelerador.

As suas mãos seguravam firmemente o volante de um dos carros velozes da família. Era um conversível moderno, mas naquela noite sombria ele não estava aberto para entrada de ar. Aquele ambiente fechado e escuro aumentava a minha tensão. Era como se o universo estivesse me espremendo e me puxando para Dominic... novamente.

_E você, Dominic, se lembra de mim? - eu ergui o queixo um pouco mais confiante, mas no fundo eu estava fadada ao fracasso.

_Eu lembro de cada detalhe seu, Lornan - respondeu simplesmente sem sequer olhar para mim. O meu coração bateu um pouco mais forte quando ele acelerou. - É como uma obra divina.

Talvez ele amasse o meu corpo, mas não o suficiente para poupá-lo do seu caos. Mas naquele momento, ouvindo aquelas palavras, eu pude notar que a parte interna das minhas coxas queimavam embaixo da meia calça.

Não dissemos mais nada até chegarmos na mansão e por algum motivo eu me senti mais segura ao colocar os pés em terra firme. Minha alegria durou pouco. Quando Dominic me seguiu até a entrada principal eu soube que não ficaria em paz. Acreditava até então que ele voltaria para festa, mas realmente não era essa a sua intenção.

_Espere. - sua voz ecoou pela sala vazia quando eu pisei no primeiro degrau da escada. Lentamente eu olhei para trás. Lá estava Dominic desabotoando os botões da manga da sua camisa social. - Já vai dormir? Pensei que pudéssemos beber alguma coisa juntos.

_Essa é mesmo a sua intenção, Dominic? - eu apertei os olhos.

_As minhas intenções serão as melhores se as suas forem também. - ele ergueu os braços em rendição.

Nunca mais.

_Tudo bem. Apenas uma dose. - eu disse por fim.

Dominic caminhou até mim e segurou no corrimão banhado em ouro a minha direita. Seu corpo estava de frente para o meu e o braço muito próximo da minha cintura. Eu ainda me encontrava estática no primeiro degrau enquanto ele me encarava lá de baixo, e apenas desta forma eu poderia ficar da sua altura ainda que estivesse com o salto agulha.

Dominic queimou em mim. Não houve toque. Palavras. Promessas. Ele apenas queimou em mim sem necessariamente usar as mãos. Entenda isso como quiser.

Em seguida, após me encarar fixamente, ele subiu o primeiro degrau e cresceu diante dos meus olhos. Sua mão, que antes segurava o corrimão, encontrou a minha cintura e a envolveu firmemente. Desta forma nós subimos os degraus restantes lentamente até o segundo andar.

Eu sentia os demônios sussurrando no pé do ouvindo em sintonia com os nossos passos e as nossas respirações profundas.

Foi então que aconteceu.

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