| 18 | PACTO

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Dentro dos meus sentimentos havia um passado escondido nas entrelinhas da minha alma. Lá estava todos os meus arrependimentos e obsessões.

Pensei por muito tempo como poderia continuar narrando a minha própria história, pensei em mentir para mim mesma, porque nunca fui uma narradora confiável. E eu que sempre manipulei e modifiquei as palavras ao meu favor, me vi falando pela primeira vez a verdade, o que realmente aconteceu no último dia daquela ilha.

Eu e Luke tínhamos um pacto.

Após a noite caminhando na areia da praia nós nos unimos contra o maldito Dimitri Sokolsky, mas havia algo em aberto: eu não queria que o meu irmão carregasse consigo todo o fardo sozinho. Ele não merecia e eu, como o epicentro daquele crime, também precisaria me sujar se quisesse, ainda assim, salvar a minha própria imagem.

Eu aceitei a sua oferta, o significado de assassinato era assustador. Era como um convite para as labaredas do inferno.

E lá estávamos nós dançando sobre as cinzas com as mãos cheias de sangue e diamantes.

Porque no fim de tudo o plano era outro.

Por muitos dias, dormindo na mesma cama, fitando os seus profundos, beijando aqueles lábios frios eu planejei um crime que me custaria a vida ou a alma.

Quando Dimitri se afastava eu copiava os seus dados bancários e clonava suas senhas. Queria mais que isso no fim de tudo, queria os seus outros segredos.

Estava obcecada.

Luke e eu não tínhamos limites. Três metros acima do céu e diante da morte. Os últimos sete dias em Mykonos foram tensos e repletos de más intenções.

A razão de toda a tensão é que eu não estava golpeando apenas a família Sokolsky, eu iria falir a Nirole Cosmetic's e isso era o que mais doía porque aquela empresa tinha muito de mim, mas ela não era minha.

Talvez, só talvez, todas essas palavras tenham muito a me condenar, mas no fim todos nós tínhamos um pouco de culpa naquele assassinato.

E eu felizmente não era a vítima.

Muito pelo contrário.

Quem morreria afinal de contas?

_Dominic.

A voz melosa de Judith ecoou pelo salão lotado e inevitavelmente eu olhei para trás.

Ela segurou na barra do vestido longo e caminhou na direção do homem alto parado na sacada. Suas costas nuas se movimentaram até onde eu pude acompanhar antes que Marian surgisse no meu campo de visão.

_Onde está Luke? - os olhos negros da herdeira primogênita de Eudora Sokolsky queimaram sobre mim, havia ódio neles e muita intensidade. - Diga.

_Eu não sei. - levantei as mãos em rendição e em seguida senti o meu punho sendo pressionado, aquilo me imobilizou por alguns segundos até provocar uma carga de euforia intensa no meu corpo.

_Estou bem aqui. - puxando o meu dorso contra o seu peito, Luke me abraçou e me deixou de costas para sua amante, mas ainda por cima dos ombros eu pude enxergar a verdadeira dor em Marian. - O que você quer?

_Temos muito a conversar. - sua voz estava trêmula, ela estava nitidamente desequilibrada.

_Temos? - Luke me apertou um pouco mais forte antes de me soltar finalmente e me libertar de suas garras. - Eu pensei que estivesse tudo esclarecido entre nós.

_Não, não está. E não me encare assim... - Marian finalmente olhou para mim irritada. - Você pode sair daqui, porra?

_Não fale com ela desta forma. - Luke deu um passo na direção dela e eu coloquei o braço entre seus corpos para impedir uma forte colisão.

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